FATOS EM EVIDÊNCIA
Por Isis Nóbile Diniz, da Redação Yahoo! Brasil
Um prédio de 32 andares em construção desabou deixando uma mulher morta e ainda dois trabalhadores da obra desaparecidos sábado (29) em Belém, no Pará. O desmoronamento traz dúvidas sobre a segurança das edificações recém-erguidas, em meio a um forte aquecimento construção civil no país todo. O Ministério Público Estadual do Pará afirmou que irá apurar a responsabilidade da Construtora Real, que estava fazendo a obra.
No momento, o Ministério Público cumpre mandados de busca e apreensão na sede da empresa para verificar, por meio de notas fiscais e documentos, que tipo de material foi empregado. Sem dados sobre as causas que levaram à queda do prédio no Pará, especialistas são cautelosos. "Mesmo quando as normas são obedecidas fielmente e usados materiais adequados, há um ínfimo risco", adverte Carlos Eduardo Moreira, professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP).
Curiosamente, o engenheiro Dênio Ramam Carvalho de Oliveira, professor da Faculdade de Engenharia Civil da Universidade Federal do Pará, afirma que o colapso é mais comum para edificações em fase de finalização da estrutura e revestimentos, antes da ocupação. "É quando a edificação atinge o nivel máximo de solicitação permanente, já que a sobrecarga de pessoas e seus pertences é variável no tempo e relativamente baixa ante a estimada", conta.
Segundo o engenheiro especialista em estrutura de edificações Newton Carlos Pereira Ferro, professor aposentado da Universidade Estadual Paulista (Unesp), de modo geral, a idade projetada de um prédio é de 50 anos. "Mas pode durar muito mais se forem feitas manutenções ao longo da vida útil da obra como evitando a umidade nas paredes e a corrosão da armadura. Não existe nenhnuma estrutura que dure para sempre sem cuidados."
Desabamento
Então, quais são as principais causas dos desmoronamentos de edifícios? Segundo Ferro, geralmente, uma construção não desaba devido a um único problema. É uma conjunção de erros que leva um prédio ao chão. "No caso do edifício em Belém, observando as imagens, não parece que ele caiu exatamente na vertical. Ele pode ter sofrido um deslocamento lateral acertando, assim, a casa ao lado", afirma o engenheiro.
Uma das causas de queda de prédios é o rompimento de pilares - colunas que sustentam uma construção. Um pilar pode romper nas áreas inferiores do prédio, sobrecarregando os outros pilares. "Por isso, os pilares exigem cuidados redobrados", afirma o engenheiro da Unesp. "Agora, quando rompe uma viga ou uma laje é um problema mais localizado. Geralmente, só afeta uma parte da construção", explica Ferro.
Um outro problema encontrado em quedas de edifícios está na fundação - a base de uma construção. "Existem vários tipos de fundação, cada solo e fatores como o econômico leva a escolha de uma delas. Uma fundação mal projetada ou mal executada pode levar a ruína de um edifício", conta Ferro.
Para evitar, existem normas e inúmeros cálculos estruturais já desenvolvidos. "Todos esses cálculos existem há muito tempo; ainda seguem se aprimorando as combinações de carga como a força do vento que incide no edifício", conta. Aliás, Ferro afirma que, de modo geral, é mais comum os profissionais projetarem uma estrutura que suporte até 40% a mais da carga da própria construção em si. Móveis, utensílios, tudo é colocado nessa conta.
Atenção
Dependendo de qual é a causa que faz o prédio ruir, é possível verificar o problema antes do pior acontecer. Em geral, se a questão está relacionada às vigas, é aparente. "É verificável a olho nu as deformações de dois, três ou quatro centímetros das vigas. Se a cada dia ou semana que você olhar a viga ela está de um jeito, é necessário checar o que acontece", conta Ferro.
Também é necessário ficar atento às fissuras. "Em geral, são problemas na alvenaria. Não é o tamanho ou o tipo das fissuras que apontarão o problema, mas como elas se desenvolvem. Melhor chamar um especialista para conferir", diz o engenheiro Carlos Eduardo Moreira. Agora, quando o problema é com os pilares, se torna mais sério.
Em alguns casos, ouvem-se estalos ou ruídos. Os pilares até, em raros casos, podem apresentar alguma fissura. Só que a perda de estabilidade é um fenômeno brusco. "Quando o problema é com o pilar, o melhor a fazer é deixar o edifício o quanto antes. Se der tempo, é possível escorar ou reforçar o prédio", afirma Moreira. O engenheiro Oliveira indica vistorias periódicas (entre 1 ou 2 anos) para avaliação da integridade estrutural de prédios com mais de cinco anos de idade.
Assim, de modo geral, se há algo errado com a fundação ou com partes do edifício há solução. "Em Santos, acabamos de arrumar um prédio que estava com problema na fundação. Abaixo da areia há argila mole, por isso os prédios desse litoral pedem para o lado", explica Moreira. "A gente refez a fundação e coloca uma espécie de macaco [hidráulico]", conta.
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