Entre histórias e memórias, Palacete Faciola mantém viva cultura dos paraenses

 


Totalmente revitalizado, o casarão tornou-se um dos lugares mais procurados para visitação


Das doces memórias que permeiam Belém do Pará, estão os casarões históricos que fazem da arquitetura paraense, uma das mais ricas do Brasil. Dentre eles, o Palacete Faciola é mais uma referência histórica na cidade, o lugar carregado de arte, cultura e história deixam a Avenida Nazaré ainda mais representativa. Construído em 1901, para abrigar a família Faciola, o edifício chegou a estar em estado de abandono. E após o estudo de desapropriação do espaço e suas duas casas adjacentes, iniciou-se uma série de pesquisas e questionamentos acerca do lugar.
O que se sabe é que no local, residiu o arquiteto, pianista, livreiro, banqueiro e político Antônio Almeida Faciola, patriarca de uma tradicional família de comerciantes de Belém. Antônio estudou e diplomou-se em piano pelo Conservatório de Milão e era amigo de Carlos Gomes. Segundo a tataraneta de Antônio Faciola e personagem principal da nossa história, Adelina Faciola, que morou no casarão até os dez anos de idade, seu tataravô assumira a casa em 1916. “Ele nasceu em São Luís do Maranhão, estudou música na Itália e era exímio pianista, tanto que fez concertos em teatros e deu aulas no Conservatório Carlos Gomes no final do século XIX. Além de ser um colecionador de obras de arte. Sei que há muita coisa sobre ele que precisam ser pesquisadas e a restauração do Palacete está provocando muito esse interesse, o que é bem legal, tenho amigos que sabem mais das origens da minha família do que eu”, comentou.
Adelina conta que foi morar no local com a família, ainda bebê. “Nossa mudança para o casarão ocorreu logo após a morte de Inah Faciola, filha do meu tataravô. Ela conseguiu preservar não somente o imóvel, mas também seu expressivo acervo artístico até o seu falecimento, em 1982, encerrando assim, a segunda geração da família. Portanto, quando lá residi, as obras de arte e a maior parte de seu mobiliário já estavam nas residências de meus familiares, uma vez que a partilha de bens já havia sido feita entre os herdeiros”, explicou.
“Eu acho que o Palacete retrata um momento histórico relevante. A restauração não deixa de ser um resgate. Valorizar o patrimônio de uma cidade é manter viva a sua história. As pessoas veem o prédio, agora arrumado e bonito, e ficam curiosas. Isso é legal. Esse interesse acaba se tornando uma provocação ao conhecimento da história, da economia, das artes e da cultura de uma época”, enfatizou Adelina, que relembra com carinho, das manhãs do Círio de Nazaré, um dos momentos mais marcantes na história do local e na memória afetiva da família. “Quando ouvia incessantemente o sino do portão da Dr. Moraes tocar, anunciando a chegada de mais um familiar para acompanhar a procissão pela janela era inexplicável o sentimento. Momentos de confraternização que estarão sempre guardados no meu coração”, concluiu.
Restauração do Palacete Faciola
Em 2020, o projeto realizado no espaço incluiu a restauração das fachadas das três casas, a recomposição espacial dos edifícios, novas portas e janelas em madeira, a reintegração de pisos e forros, a recomposição da cobertura e a reintegração de rebocos e os revestimentos internos, respeitando o caráter histórico das casas. Também foram feitos o paisagismo da área externa, a instalação de sistemas elétricos, hidrossanitários, de drenagem, acústico, de ar condicionado, logística e de prevenção e combate a incêndio.



Segundo a diretora do Departamento Histórico, Artístico e Cultural (DPHAC) da Secult, Karina Moriya, “Durante a obra, sempre pensamos em como poderia ser o projeto sem modificar a estrutura e a proposta da edificação histórica. Estamos fazendo todo o levantamento acerca da história, quem construiu, qual o real intuito dessa construção. O projeto que desenvolvemos é bem longo, tiveram a mão de vários técnicos, arquitetos e consultores. Nosso objetivo era dar um novo uso para essa edificação sem que ela perdesse sua essência e características. A gente fez pinturas preservando toda a arte encontrada nas paredes, por exemplo, além de toda a infraestrutura nova. Procuramos sempre preservar a historicidade da casa. É bem interessante porque tivemos adaptações durante a obra. Encontramos pinturas antigas e fomos deixamos pequenas janelas conservadas dela para lembrar a população da época da Belém do Belle Époque”, explicou.
Karina ressaltou ainda que todos nós temos de alguma forma uma relação e interferência com o local. “Nosso palacete tem uma grande riqueza que precisa ser cuidada pela sociedade de forma geral.
A minha intenção é que as pessoas possam ver o palacete Faciola não apenas como um centro cultural mas como um exemplo a ser seguido. Por que não cuidar? Valorizar? Preservando sempre a história. Nosso intuito é que a população se sinta pertencente á esse estado, que elas queiram preservar e conscientizar outras pessoas para fazer o mesmo. Nosso patrimônio é rico demais”, concluiu a diretora.


Texto: Thainá Dias
Fotos: Divulgação / O liberal

Nenhum comentário