Ciclo da borracha urbanizou Belém; saiba mais!
A capital foi beneficiada com uma série de obras e construções de prédios históricos graças ao período conhecido como belle époque e a exportação do produto
Durante o século XIX, a economia do Pará seguia embalada pela agricultura, pelo extrativismo e pelo comércio, quando vivenciou o fenômeno que transformaria cultural, arquitetonicamente e geograficamente a capital Belém, o grande boom da economia da borracha. Do período identificado como Belle Époque paraense, ficaram construções e espaços públicos que até hoje são muito emblemáticos da cidade e que tiveram seu surgimento alicerçado na economia extrativista do látex.
A historiadora e professora da faculdade de história da Universidade do Estado do Pará (Uepa), Adriana Coimbra, lembra que a borracha financiou uma arquitetura específica que a historiografia local vai chamar de Belle Époque, o modelo de urbanização francesa, centrado na abertura de ruas largas e muito influenciada pela ideia do sanitarismo. “A economia da borracha era uma economia extrativista porque o seringal é nativo, não era plantado. Tanto que uma árvore era distante da outra, o que causava uma dificuldade muito grande para a extração”, contextualiza. “Ainda assim, tudo o que se produzia de borracha, era vendido. A gente nunca produziu toda a demanda que a Europa tinha por látex, então, isso cria um grande excedente de riqueza e esse excedente vai ser investido na urbanização da cidade”.
Além do volume de recursos provenientes da comercialização, as mudanças políticas vivenciadas à época também influenciaram esse desenvolvimento. De todo modo, mesmo as decisões políticas tinham relação com a importância que o extrativismo do látex havia conquistado naquele cenário. “A borracha é a economia que financia, mas também a mudança política porque, quando a gente transita do Império para a República, as leis mudam e o Intendente, que seria uma espécie de Prefeito, hoje, passa a ter poder de pedir empréstimos em Bancos Mundiais, o que antes ele não tinha”, explica. “Mas o que dá garantia para esses bancos de que esses empréstimos seriam pagos? É a economia da borracha. Então, a modernização da cidade no período da Belle Époque é financiada pela economia do látex, a partir de empréstimos que são feitos nos bancos ingleses sob garantia do lucro da borracha”.
Sobretudo no período da intendência de Antônio Lemos, que vai de 1897 até 1911, a economia da borracha possibilita a remodelação urbanística de Belém. É neste contexto, por exemplo, que se urbaniza a área do Ver-o-Peso, com a montagem do Mercado de Peixe e a reformulação do Mercado de Carne, a Praça Batista Campos, a Praça da República, o Quartel do Corpo de Bombeiros, tudo a partir de uma arquitetura muito influenciada pelo modelo europeu.
Outro fator fortemente influenciado foi o comércio. Com o grande volume de recursos circulando pelas mãos da elite da borracha em Belém, cria-se uma demanda por produtos que, muitas vezes, vinham da Europa para serem consumidos na capital paraense. Da mesma forma, passam por Belém espetáculos nacionais e internacionais, recebidos pelo Theatro da Paz, para alimentar de cultura e entretenimento as elites. “Certamente, não foi toda a cidade que foi modernizada, havia ilhas de modernização. Não é uma modernização para todo mundo, mas para uma elite”, lembra Adriana Coimbra.
Com os estabelecimentos comerciais ocupando quase que integralmente o bairro do Comércio, que junto com a Cidade Velha eram os núcleos mais antigos da cidade, as elites locais vão deslocar suas moradias para outras áreas de Belém, gerando uma reorganização geográfica. Da região do Comércio e da Cidade Velha, as famílias passam a ocupar a área que hoje abriga o bairro de Nazaré e que, na época, era formada pelas chamadas Rocinhas, as casas de veraneio das famílias mais abastadas. Como resultado, as famílias mais pobres vão sendo ‘empurradas’ para as periferias. “A Intendência passa a criar regras de construção nessa região, passam a ser proibidas construções com madeira aparente, cobertura com palha, latrina fora da casa, então o banheiro passa para dentro da casa, e o que acontece? A população que estava ali no bairro de Nazaré, que estava na Batista Campos, que era uma população mais pobre, não podia cumprir esse modelo de arquitetura e, então, vai para as periferias”, explica a professora. “É quando crescem bairros como o Guamá, a Terra Firme, o Umarizal, que na época era considerado periferia, bairro de pretos e brancos pobres. Então, aquele corredor que sai do comércio, que pega a Presidente Vargas e toda a Estrada de Nazaré, passa a ser majoritariamente ocupado pela elite da borracha, em uma arquitetura muito específica”.
DECLÍNIO
Apesar da grande ascensão econômica e cultural, os chamados ‘tempos áureos da borracha’ não resistiram ao plantio em larga escala da seringueira pelos ingleses, após o contrabando de sementes da planta do Pará para as colônias mantidas pela Inglaterra na Ásia. Quando as seringueiras plantadas pela Inglaterra começam a produzir, a partir de 1910, tem início o declínio do ciclo econômico da borracha na Amazônia.
Um segundo fôlego da cultura só ocorre a partir da II Guerra Mundial, quando os seringais mantidos na Ásia são ocupados pelos japoneses. “Com isso, os Estados Unidos assinam com o Brasil, através do Getúlio Vargas, o acordo de Washington, em que o Brasil se compromete a produzir borracha para atendê-los. Isso dá um novo fôlego e cria o que os historiadores chamam de Soldados da Borracha, dentro desse projeto de trazer os nordestinos para cá, para trabalharem nos seringais novamente”.
Com o fim da guerra e o consequente retorno do acesso aos produtos da Ásia pelos países aliados, porém, o látex produzido na Amazônia perde novamente espaço no mercado. De todo modo, o período áureo do extrativismo do látex para a produção da borracha deixou para a cidade transformações urbanísticas e arquitetônicas que estão presentes até hoje. “É preciso lembrar que, durante a Belle Époque, havia muito dinheiro para ser gasto, muito. É quando se faz a rede de esgoto da área da Presidente Vargas, de Nazaré, do Marco; quando se ampliam as linhas de bonde, então, os serviços vão sendo ofertados a partir dessa economia da borracha. Certamente, a borracha proporcionou toda uma reorganização, uma remodelação arquitetônica e mesmo geográfica da cidade”.
Com o fim da guerra e o consequente retorno do acesso aos produtos da Ásia pelos países aliados, porém, o látex produzido na Amazônia perde novamente espaço no mercado. De todo modo, o período áureo do extrativismo do látex para a produção da borracha deixou para a cidade transformações urbanísticas e arquitetônicas que estão presentes até hoje. “É preciso lembrar que, durante a Belle Époque, havia muito dinheiro para ser gasto, muito. É quando se faz a rede de esgoto da área da Presidente Vargas, de Nazaré, do Marco; quando se ampliam as linhas de bonde, então, os serviços vão sendo ofertados a partir dessa economia da borracha. Certamente, a borracha proporcionou toda uma reorganização, uma remodelação arquitetônica e mesmo geográfica da cidade”.
Fonte: DOL
Texto: Cinthia Magno/Diário do Pará
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