Crônica da Atualidade - Por José Roberto Ichihara




Virando mais uma página da História Nacional

 

            Os países que seguem o calendário gregoriano, aquele que considera o ano com 364 ou 365 dias, dependendo de fevereiro ter 28 ou 29 dias, fixa o dia 31 de dezembro como o encerramento de cada ano. A regra foi promulgada pelo Papa Gregório XIII em substituição ao calendário juliano usado pelo imperador romano Júlio César, daí os nomes adotados. À parte a época que isso ocorreu, a humanidade reconheceu a mudança e preserva os usos e costumes relacionadas à data. Mesmo quem não os seguem se adaptam ao mundo globalizado. O fato é que muitas realizações dependem de um período maior que um ano para se fazer as avaliações. Portanto...   

            Mas a História não interferiu nas tradições que se consolidaram ao longo do tempo. Por isso, a maioria sequer dá atenção aos detalhistas sobre a precisão desnecessária sobre a medida exata da duração de um ano. Adotou-se que a meia-noite do dia 31 de dezembro põe um fim do ano em curso. Simples assim! É isso que tem influência nas avaliações e nos planos para o futuro individual e coletivo. Portanto, as pessoas e todas as organizações que participam das atividades do dia a dia nos países e no mundo, fazem os balanços e as previsões.

            Por se tratar de um período mais longo que o dia a dia, um ano ganha mais credibilidade. Onde houve erros e acertos nas decisões? Quais execuções foram equivocadas? Por que a omissão em momentos que exigiam ação? Como mensurar a relação custo/benefício no uso da verba pública? Alguma estratégia foi mal planejada? Isso pode ajudar na forma de conduzir as ações do próximo ano, apesar do passado não poder mais ser mudado, mas fica como a lição aprendida. As mudanças acontecem, mas os resultados conhecidos auxiliam na tomada de  novas decisões com maiores probabilidades de acertos e redução nos erros. Mas nem todos tiram proveito disso.

            Um erro que se comete é afirmar que quem vive de passado é museu. Os avanços tecnológicos permitem antecipar os resultados através da simulação, mas desprezar os fatos e a História pode ser um grande equívoco. Afinal, não temos como analisar o futuro, aquilo que ainda não aconteceu, baseado apenas em especulações e previsões. Já sobre o que é conhecido, a chance de estudar os prós e os contras, usando as informações sobre fatos e dados, pode reduzir a incerteza e a margem de erros. Museu e História estão muito interligados.

            Os resquícios da Pandemia da Covid-19 ainda exibem as consequências desse período muito difícil para o planeta Terra. Afinal, em maior ou menor intensidade, todos foram duramente atingidos. Mas não podemos aceitar que todos os problemas estruturais do nosso país são por causa disso. A forma empregada para enfrentar as ameaças mostrou como os líderes se comportam diante das adversidades. O aumento da inflação, do desemprego e a crise na economia também foi global. Além disso, a guerra na Ucrânia contribuiu negativamente. Mas nada disso é justificativa para terceirizar a responsabilidade da gestão que está no comando. Então...

            Como ignorar o otimismo e focar apenas nas desgraças que aconteceram? Enchentes, deslizamentos de encostas, violência com homicídios nas ruas, insatisfações por resultados das eleições presidenciais, tentativa de explodir carro tanque de combustível em aeroporto são problemas que não podem ser minimizados. Por outro lado, a reconstrução oferece um leque de opções para quem acredita que podemos sair do fundo do poço. Basta usar os recursos de forma racional, com espírito republicano, sem colocar o ódio e a intolerância acima de tudo.

            Uma trégua no separatismo que vivemos neste ano seria procurar o entendimento, a busca da paz, porque isso, está provado, em nada contribuiu para o desenvolvimento do país. Que tal sepultar a bobagem de achar que a bandeira nacional pertence a um partido político? A irracionalidade verde-amarelo em nada melhorou a pacificação da sociedade brasileira. Cor na bandeira político-partidária é uma escolha que nada tem a ver com ideologia. Basta ver que países democráticos e desenvolvidos como os Estados Unidos, a Alemanha, o Japão, a Inglaterra, o Canadá e a França têm o vermelho nas suas bandeiras. Qual é o nosso problema com essa cor?  

            No ocaso deste 2022, o Brasil e o mundo se despediram do maior jogador de futebol que esta atividade conheceu, o eterno Rei Pelé, o brasileiro mais conhecido no planeta Terra. Ele divulgou o nosso país e tornou este esporte tão empolgante que a sua morte repercutiu até nos países que não têm o futebol como a paixão nacional. Mas todos estão sujeitos às críticas pelo comportamento pessoal. No caso dele é o não reconhecimento da filha, que nunca foi perdoado pelos moralistas radicais. Mas o seu nome virou uma referência para quem é o melhor.

Se um momento de reflexão para avaliar o ano difícil que termina não servir para mudar a forma de enxergar os problemas e buscar uma solução racional... nenhum calendário juliano ou gregoriano nos ajudará. Insistir que há uma necessidade de segregar as pessoas do bem das do mal, baseado apenas no viés ideológico, pode ser a pior opção para transformar o sonho de consumo da maioria em realidade. Será que essa via, onde todos vivam com um mínimo de dignidade, está na mudança da visão de mundo? Espera-se que as pessoas deste país lutem por um futuro com menos desigualdade e mais oportunidade para todos. Um Feliz Ano-Novo!

 

Texto: José Roberto Ichihara 


*O autor é paraense de Capanema, morador da cidade de Natal/RN

Nenhum comentário