‘Povo Cabano’: exposição gratuita mostra força feminina e 'rostos' da revolta popular
A amostra começou na última segunda-feira (9) e segue até dia 31 de janeiro
Cartas escritas à mão e fotografias retratam a história da Cabanagem, um dos principais movimentos populares do século XIX, estão sendo expostas em uma amostra gratuita, desde a última segunda-feira (9), na sede do Arquivo Público do Pará (Apep), em Belém. A ação integra o calendário do Preamar Cabano, uma iniciativa do Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Cultura (Secult). Já as visitas estão abertas até o dia 31 de janeiro, em alusão ao mês do 188º aniversário do movimento popular.
Nomeada como o “Povo Cabano”, exibição reúne imagens do fotógrafo paraense Luiz Braga, que registrou rostos com características físicas próprios dos amazônidas, e também documentos, que foram escritos por mulheres, ribeirinhos, negros libertos e escravizados, povos inígenas e pequenos agricultores, mostrando múltiplicas facetas daqueles que lutaram contra as forças imperiais.
O diretor do Arquivo Público, Leonardo Torii, informou que os documentos foram selecionados pela equipe do Apep e as imagens cedidas pelo acervo do Museu do Estado do Pará (MEP). Mais de dez cartas manuscritas e cerca de cinco fotos estão sendo expostas ao público, que deseja visitar a amostra e conhecer mais da sua própria história.
Historiador e diretor do Arquivo Público, Leonardo Torii (Ivan Duarte / O Liberal)
“A ideia é que as pessoas olhem os documentos e visualizem a feição, e instantaneamente se identifiquem, excluindo a ideia de criar um abismo entre passado e presente, e sim, encontrar nos ‘rostos’ de quem lutou na Cabanagem o amazônida, o mestiço, o negro. Se a gente for dar uma volta no Ver-O-Peso, ao olhar os trabalhadores, vamos estar vendo a Belém do século XVIII”, afirmou o diretor sobre o querer que o público sinta-se pertencido àquela parte da história vivenciada pelos antepassados.
Uma das curiosidades que a amostra traz é evidenciar a participação feminina ativa na Cabanagem. Historicamente, o movimento popular é marcado por líderes homens, mas tanto o Leonardo Torri quanto o historiador do Arquivo Público do Estado, André Lima, se preocuparam em ressignificar e mostrar a força das mulheres cabanas.
“Tem um documento [que está sendo exposto] muito importante que mostra a participação das mulheres no movimento. Muitos pesquisadores já estudaram, já teve pesquisadores mulheres que estudaram isso, mas nunca tiveram a preocupação de deixar vir à tona. O que nós queremos é dar um novo sentido para a participação delas”, disse Torri.
Leonardo reforçou, que os documentos que estão sendo expostos são apenas cópias dos verdadeiros, mas se o visitante bem quiser, poderá ter acesso aos originais, que estão disponíveis dentro do espaço. Além disso, todo o deleite da amostra pode ser feito de forma “guiada” se assim for solicitado pelo público presente.
‘Ainda há sangue cabano correndo na veia dos paraenses’, diz historiador
O historiador do Arquivo Público, André Lima, afirmou que os documentos selecionados foram escolhidos “a dedos” justamente para mostrar "características físicas” dos populares da época, que fizeram parte da Cabanagem. A equipe também atentou-se em mostrar como as mulheres tiveram papéis fundamentais na história, sendo prisioneiras que ora resistiam, ou espiãs.
Mas muito mais do que tirar o foco apenas “dos grandes líderes da época”, e acrescentar “a participação popular feminina”, mostrando uma história mais real e feita pelo povo, como sugere o historiador, a exposição quis resgatar um sentimento de pertencimento dos paraenses.
“A gente olha para as pessoas daquela época, elas tem um pouco daquilo ainda que a gente vê na população. Eu acredito que restou ainda um ‘sangue cabano’ correndo nas veias do povo paraense”, afirmou André.
Serviço:
Exposição: “Povo Cabano”.
Período: de 09 a 31 de janeiro, de segunda a sexta-feira, das 08 às 15 h, na sede do Arquivo Público do Pará - Travessa Campos Sales, nº 273, bairro da Campina. Entrada gratuita.
Fonte: O Liberal
Texto: Amanda Martins
Post a Comment