Saxofonista transformou obstáculos na pandemia em oportunidades
Valdison Silva tocava saxofone nas áreas comuns de prédios residenciais proporcionando um pouco de alívio musical aos moradores no isolamento social
Os saxofonistas não apenas se destacam em palcos e eventos variados, mas também enfrentam o rigor técnico e físico necessário para dominar um dos instrumentos mais desafiadores. Esta profissão é marcada por momentos considerados inesquecíveis, e até inusitados, seja tocando em celebrações de alegria ou em cerimônias de despedida. Valdison Silva, saxofonista de 40 anos, encontrou sua paixão pelo instrumento ainda na infância. Crescido em Salinópolis, no Pará, ele sempre se encantou pelo som do saxofone. "Desde criança eu tinha paixão por saxofone, eu ouvia pessoas tocando e pensava: 'esse é o instrumento que eu quero tocar'," relembrou Valdison em entrevista ao Grupo Liberal.
Seu sonho começou a se concretizar em 1998, quando começou a estudar música na cidade onde vive até hoje. Dois anos depois, em 2000, a Escola de Música de Salinas recebeu diversos instrumentos musicais, incluindo o saxofone. "Comecei a estudar e há 24 anos sou apaixonado por ele," afirmou.
A carreira de Valdison é marcada pela versatilidade. Ele se apresenta em todos os tipos de eventos, como casamentos, festas de 15 anos, formaturas e até velórios. Um dos momentos mais emocionantes de sua trajetória foi tocar em um funeral de um amigo próximo.
"A mãe dele pediu para tocar uma música religiosa e eu toquei essa música. Pensei assim: 'É um momento tão difícil para a família, e eu vou contribuir dessa forma.' Ficou como currículo," contou, revelando que a situação inusitada ocorreu mais de uma vez.
DESAFIOS DO INSTRUMENTO
Os desafios de tocar um instrumento de sopro não são poucos. Valdison explica que esses instrumentos exigem um preparo físico intenso, especialmente devido ao uso do maxilar e dos músculos do lábio, que não são comumente utilizados dessa forma.
"O maxilar, o músculo do lábio é uma coisa que não somos acostumados a usar. A gente usa o maxilar para mastigar, e a embocadura, quando a gente coloca o instrumento, a gente vai usar o lábio de dentro da boca. Leva um tempo e muito estudo," explicou.
Ele acrescenta que o início é particularmente difícil, e muitos desistem devido à complexidade e ao esforço físico necessários. No seu caso, o profissional buscou se adaptar por meio dos estudos constantes.
"No começo, é muito ruim. O instrumento te convida a desistir dele, e tem gente que desiste porque é muito difícil. Além da embocadura, há a questão do peso do saxofone, que também demanda uma boa condição física para ser sustentado por longos períodos”, afirmou sobre os cuidados que realiza.
Valdison destaca que o treinamento e o preparo físico são fundamentais para vencer essas dificuldades. "Precisamos fortalecer os músculos faciais, algo que não é natural para a maioria das pessoas. Além disso, o controle da respiração é crucial, pois tocar saxofone exige uma gestão cuidadosa do ar, para manter a qualidade do som e a duração das notas”, declarou.
MOMENTOS MARCANTES
Entre os diversos momentos marcantes de sua carreira, Valdison destaca a aprovação no vestibular para cursar música e, mais recentemente, a sua adaptação durante a pandemia de COVID-19. Com eventos presenciais cancelados, ele encontrou uma forma inovadora de continuar se apresentando: tocava saxofone nas áreas comuns de prédios residenciais, como piscinas e quadras, proporcionando um pouco de alívio musical aos moradores.
“Eu tocava ali, naquele momento, como se fosse o fim do mundo, que seria como se acabasse a mesma, naquela época, bem difícil”relatou emocionado.
Fazendo dos limões da vida uma limonada, o saxofonista usou da adversidade para se fortalecer e crescer profissionalmente. “Inclusive, foi a partir daí que a música, a minha produção começou a crescer e isso me ajudou bastante para tocar nos eventos que eu toco hoje”, disse sobre a repercussão da atitude na pandemia.
Agora, com o retorno dos eventos presenciais, Valdison celebra a oportunidade de voltar ao que mais ama. "Está sendo maravilhoso. Eu queria poder voltar e reencontrar alguns amigos que se foram nessa época, né?. Eu me sinto um sobrevivente," refletiu o artista.
Fonte: O Liberal
Texto: Amanda Martins
Post a Comment