Canto gregoriano tem curso em Belém



A Escola de Música da Universidade Federal do Pará (EMUFPA) oferece o curso teórico e prático de Canto Gregoriano, uma das modalidades musicais mais tradicionais da Igreja Católica. O curso é voltado para a comunidade. As aulas são ministradas pelo professor André Gaby, mestre em Canto Gregoriano e doutorando em Musicologia, com aulas mensais até o dia 30 de junho, na Unidade Acadêmica Mercedários UFPA, em Belém.
O curso tem como objetivo introduzir os aspectos técnicos iniciais para quem deseja cantar, além de divulgar o repertório Gregoriano. "A ideia desse curso é trazer pessoas que não são musicistas, mas que gostam de música e queiram aprender e entender mais sobre esse repertório", explica o professor. O primeiro encontro aconteceu no sábado, 16, quando foram abordados os aspectos históricos dessa modalidade de canto, além de outros assuntos introdutórios. As próximas aulas serão nos dias 6 de abril, 4 de maio, 1 de junho e 30 de junho.
História
O Canto Gregoriano, também conhecido como "Cantochão", é um tipo de canto monofônico e monódico, ou seja, apenas uma voz sem qualquer acompanhamento. Surgiu em meados do século IV, a partir de antigos cantos cristãos praticados em algumas dioceses, como o Ambrosiano, em Milão, o Romano, em Roma, e o Rito Galicano, na França. A partir do século VI, o Papa Gregório Magno unificou e compilou todas essas expressões musicais católicas neste gênero, e a Igreja Católica o adotou como canto oficial.
Em Belém, a tradição do Canto Gregoriano foi trazida em meados do século XVII pelos Mercedários, uma ordem religiosa fundada em Barcelona há 800 anos para resgatar cristãos cativos de muçulmanos radicais. Essa ordem esteve na capital paraense de 1640 até 1794. "No mosteiro, eles tinham essa prática do 'cantochão', que veio com eles quando chegaram e fundaram a Igreja, e perdurou até eles irem embora", afirma o professor. 
Foi justamente na atual Unidade Acadêmica Mercedários UFPA, local onde o curso está sendo ministrado, que se praticou o canto gregoriano nos séculos XVII e XVIII, em Belém. "Nessa época, houve uma prática musical intensa desse repertório. Tão intensa que resultou em um livro, que foi escrito aqui mas publicado em Portugal em 1780, e é uma compilação de cantos que eram praticados em Belém pela Ordem Mercedária. Foi escrito pelo frei João da Veiga, e é o tema do meu doutorado, estou pesquisando esse livro", revela Gaby.
O professor afirma, ainda, que está realizando um sonho ao ministrar um curso de Canto Gregoriano na Unidade Acadêmica Mercedários UFPA, local que simboliza toda essa bagagem cultural herdada dos Mercedários pela capital paraense. Ele ressalta que esse é um local propício para a prática do canto. "É uma herança intrínseca ao que era o paraense. Nós tivemos uma ocupação portuguesa, tivemos a ordem religiosa aqui, e muito da nossa cultura é assim hoje por conta desta influência. Acho que a gente não pode ignorar uma parte da nossa tradição", conclui.
Além do curso de Canto Gregoriano, o professor André Gaby também coordena o projeto "O Som da Palavra: A prática da Música Sacra em Belém ao longo de 400 anos". Trata-se de uma iniciativa de estímulo ao repertório sacro que é praticado em Belém. Através da implementação de práticas musicais, pedagógicas e acadêmicas, dentre elas oficinas, concertos, publicações de artigos científicos, palestras e mesas-redondas, espera-se preencher as lacunas deixadas por um longo tempo a respeito da música sacra em Belém.

Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)

Nenhum comentário