Livro raro de Gama Abreu, publicado há 145 anos, é relançado em projeto virtual
Projeto relança livro do Barão de Marajó, que narra uma viagem de barco entre Belém e Recife
Quem passa pela rua Gama Abreu, a curta via do bairro da Campina que vai da travessa Padre Eutíquio até a avenida Presidente Vargas, pode nem imaginar que ela foi batizada em homenagem a um célebre paraense: José Coelho da Gama e Abreu, o ilustre Barão de Marajó.
E para resgatar a memória de um homem tão importante para a Amazônia e para o Brasil, o projeto "Grandes Viajantes" reeditou o raríssimo livro "Do Amazonas ao Sena, Nilo, Bósforo e Danúbio" publicado em três partes entre 1874 e 1876 e cuja primeira seção narra a viagem de barco do Barão entre Belém e Recife.
À época da publicação, que ocorreu somente em Portugal, o livro foi elogiado pela crítica; no entanto, de lá para cá, caiu no esquecimento. "A gente se surpreendeu quando tava pesquisando como ele era importante e só tem uma rua com o nome dele em Belém. Mas eu acho que o objetivo dele não era aparecer, e ele acabou sendo conhecido mesmo pelo que queria: uma referência em Amazônia e no planejamento da região", conta Natália Becattini, jornalista do site de turismo 360 Meridianos e uma das organizadoras do projeto que resgata livros raros sobre viagens.
O projeto encontrou referências à obra em bibliotecas de Portugal e localizou uma cópia em uma instituição dos Estados Unidos. Foi com base nessa edição, publicada há 145 anos, que foi feita a nova versão, em formato digital, moderna e atualizada.
Nascido em Belém em 1832, Gama e Abreu era bacharel em filosofia e matemática pela Universidade de Coimbra e foi presidente da Província do Pará de 1879 a 1881 e do Amazonas entre 1867 e 1868, além de deputado.
Mesmo sendo grande amigo do Imperador Dom Pedro II, ele foi o primeiro Intendente republicano da cidade de Belém, escolhido pessoalmente pelo governador Lauro Sodré. Terminou sua carreira como Senador estadual em 1906, o ano de sua morte.
Nessa obra, escrita no começo de sua vida política, o Barão tenta se aproximar do cotidiano do brasileiro para usar essa vivência na elaboração de políticas públicas. “No relato, se nota a vontade de que o Brasil se transformasse em uma potência moderna. Um dos pontos mais interessantes são as críticas à cultura política nacional, que ele acreditava ser um empecilho para o progresso: muitas delas permanecem atuais até hoje”, conta Natália.
Ainda que a viagem de Gama e Abreu o leve a Europa e para a África, o objetivo do projeto foi focar nas experiências dele no Brasil, como uma forma de estimular o brasileiro conhecer seu país.
"A gente tava em um momento em que o turismo vinha focando muito no exterior, muito mais em conhecer outros países que o próprio Brasil. Por causa da pandemia, viajar, principalmente para fora, ficou muito difícil, então, essa é uma oportunidade para resgatar o turismo nacional. O Barão era um homem muito moderno, e tem frases que diziam como o brasileiro amava Paris mas se orgulhava de dizer que não conhecia nada daqui, então eu acredito que essa obra conversou bastante com o momento que vivemos", encerra Natália Becattini.
Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)
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