Lixo hospitalar é jogado a céu aberto




Seringas, agulhas, luvas, e frascos de soros, além de outros materiais usados na rede hospitalar, estão entre os dejetos jogados no lixão localizado no ramal da Terceira Travessa Pedro Teixeira, zona rural de Capanema. A constatação da existência deste material que oferece riscos a saúde, principalmente dos catadores de lixo que trabalham diariamente, foi feita pelas equipes de reportagens do Jornal de Capanema e do site Capanema News, quando em visita ao lixão.
No ano de 2009, baseado em denúncias, a imprensa capanemense, através do programa Improviso da Rádio Antena C destacou o assunto, sendo na ocasião, emitida carta para a Secretaria Municipal de Saúde, assim como para os estabelecimentos do ramo, solicitando informações da destinação do lixo hospitalar, mas não houve resposta de nenhum órgão, tendo o assunto continuado nas pautas, até ficar no esquecimento. Como o tema é delicado e precisa ser levado a sério, após o barulho feito pela imprensa, uma empresa enviou representantes até Capanema para oferecer serviços de incineração do lixo hospitalar, entretanto, devido aos altos custos, nada progrediu e o lixo continuou sendo transportado pelos carros coletores, despejados no lixão, sem qualquer orientação técnica ou fiscalização.



Sábado, 23 de fevereiro de 2013, em plena manhã, os caminhões faziam suas descargas do lixo recolhido nos bairros de Capanema e o flagrante através das fotos, despertou a curiosidade da equipe de reportagem, sendo acompanhado o procedimento na sequência, onde os catadores de lixo que vivem e trabalham naquele local, munidos de ferramenta improvisada, feita à base de pedaços de vergalhões, procuravam os produtos alvos de seus trabalhos no dia a dia. O material hospitalar, encontrado no meio do lixo, não amedronta os catadores que dizem estar acostumados com a ação rotineira e nem percebem aos ricos que se expõem. Um desses catadores revelou que em determinada ocasião, junto ao lixo hospitalar, foi encontrado um recipiente com um elemento estranho que parecia ser um  fígado humano, mas como não é de sua competência saber o real, ficou apenas na suposição.
Com o passar do tempo, outros catadores se juntaram ao grupo e entraram na conversa, contribuindo com informações precisas para a construção desta matéria que tem cunho esclarecedor, além de alertar as autoridades em saúde, para urgenciarem providências, uma vez que alguém precisa se responsabilizar, pois o lixo hospitalar misturado ao lixo doméstico é causador de danos que podem se transformar em graves doenças, porque os catadores não usam proteções quando estão em suas atividades, fato constatado e confirmado. Outro agravante é a presença de crianças junto aos adultos que em determinadas ocasiões, também ajudam a catar o lixo, mesmo que esse fato tenha sido negado pelos moradores daquela localidade. De acordo com informações colhidas na ocasião, no entorno do lixão, estão construídas cerca de 36 casas, sem estruturas adequadas, que abrigam famílias que escolheram viver ali, devido a vários fatores, entre eles a falta de emprego e também a necessidade de adquirir renda suficiente para suas subsistências. Ainda de acordo com relatos dos moradores, o número de pessoas que habitam as casas, pode chegar a 180, levando-se em consideração que em cada casa a média é de 5 pessoas, mas esse número oscila, pois ao passo que aumentam as famílias, eles vão dando jeito para acomodar os novos integrantes, quando alguém se une maritalmente e os filhos começam a nascer.

As condições enfrentadas pelos moradores da área do lixão, cujas terras pertencem ao município, mas cada morador se considera dono, pois tem os  que  já residem por lá há mais de 15 anos. Tudo o que se vê na área do lixão, chama a atenção, por causa de razões óbvias, sendo que uma delas diz respeito à falta de saneamento básico, não tem água potável de qualidade e ainda mais: sem qualquer atendimento por parte dos setores de saúde, meio ambiente e assistência social. O poder aquisitivo dos catadores de lixo é considerado baixo, no entanto, o volume de trabalho é intenso, pois eles próprios estipulam suas metas. O produto de maior cobiça dos catadores é a garrafa PETI, pela facilidade de ser coletada, selecionada e comercializada, pois tem comprador que vai adquirir o produto na porta do fornecedor.
Sorridentes, demonstrando felicidade, mas com semblantes de visível sofrimento, representam a marca registrada dos homens e mulheres que trabalham de domingo a domingo, de sol a sol,  sem a preocupação do controle da carga horária. Esta realidade é vista em Capanema, a 6 km do centro da cidade, local que deveria receber melhor atenção das autoridades, que sempre dizem estar preocupadas com a geração de emprego e renda, mas não é isso que se tem na pratica. Faz-se necessária a realização de programas de atendimento humanitário àquelas pessoas que são parte integrante da sociedade e mesmo alguns declarando que não se sentem excluídos, por puro ato de humildade, podem ser feitas avaliações e constatações contrarias.

Os dias vão passando e os catadores de lixo quase nem percebem, tratando de cada um fazer o seu trabalho de forma harmônica, com convicção de que mais adiante a melhoria de vida pode estar ao alcance de todos. Se for levada  em consideração a situação e a possível reação de quem gerencia os Poderes, há de se convir que faltam políticas públicas para melhoramentos em um setor que não tem aprovo de parte de comunidade, pois busca individualmente sua melhor condição de sobreviver. Lamenta-se o processo de exclusão que vivem os moradores do lixão que ao acordarem pela manhã, precisam fazer filas no único poço que fornece água para eles beber, tomar banho, fazer comida, lavar roupas e outras opções. O direcionamento é voltado para as condições que vivem as crianças, filhos de várias gerações, que não tem frequência presente na escola, não tem atendimento médico adequado, aparentam sintomas de desnutrição, tudo agregado a convivência com o lixo e seus derivados. O assunto lixo hospitalar está novamente em evidência, onde o material resultante dos registros fotográficos, será encaminhado ao Ministério Público do Estado, Promotoria de Capanema, para avaliações minuciosas, por se tratar de graves ameaças à saúde de muita gente.
Considerando que o processo de armazenamento do lixo é feito sem qualquer acompanhamento técnico, oferecendo riscos, sobretudo com o serviço de queimada que é permanente, além do material hospitalar e outros ingredientes agressivos ao contato humano, desempenhar tarefas que se voltem para a minimização dos problemas, pode até estar na relação de desafios para o governo municipal, mas se houver enquadramento no plano de ação, certamente os passos podem ser dados com destino ao campo da resolução, basta serem formadas frentes em favor da Justiça Social. O que nossa reportagem constatou foram problemas solucionáveis, cabendo a cada setor a responsabilidade de colocar nos trilhos, intenções múltiplas, pois só assim o acondicionamento do lixo pode ter destino correto. Os casos de falta de estrutura para quem trabalha em área de risco carecem de ações imediatas, pois se não forem tomadas providências cabíveis, os agravantes tomam dianteira. O lixo hospitalar precisa de atenção no sentido de ser recolhido de forma correta, para posterior incineração em local específico, para não agredir a natureza e acima de tudo causar consequências danosas à saúde.

As autoridades brasileiras formularam lei para que a partir do ano de 2014, municípios polos de cada Região, sejam dotados de Aterros Sanitários, instrumento necessário para o beneficiamento de grande parte do lixo recolhido nas vias públicas, no entanto, os primeiros sinais são de que trata-se de alto investimento, cabendo ao governo federal, disponibilizar recursos para a adequação desses depósitos de lixos. Quando ao lixo hospitalar, o assunto precisa ser discutido pelos vereadores, formados grupos de debates, para que a prefeitura de Capanema tome a frente e exija a coleta de forma correta, não somente para os estabelecimentos que desempenham serviços particulares, como também os da ordem pública, incluindo: farmácias, hospitais, clinicas, postos de saúde, ambulatórios, consultórios e afins. A preocupação é algo que deve ser colocado em pratica, com ações e reações do Governo Municipal, com responsabilidades para assumir suas obrigações, proporcionando bem estar social aos munícipes, pois a situação dos moradores da área do lixão merece ser avaliada, uma vez que as doenças contraídas por eles, muitas vezes são silenciosas e quando manifestadas, podem causar letalidade.  
  
Reportagem e texto: Paulo Vasconcellos
Fotos: André Mello