Lixo hospitalar é jogado a céu aberto
Seringas, agulhas, luvas, e
frascos de soros, além de outros materiais usados na rede hospitalar, estão
entre os dejetos jogados no lixão localizado no ramal da Terceira Travessa
Pedro Teixeira, zona rural de Capanema. A constatação da existência deste
material que oferece riscos a saúde, principalmente dos catadores de lixo que
trabalham diariamente, foi feita pelas equipes de reportagens do Jornal de
Capanema e do site Capanema News, quando em visita ao lixão.
No ano de 2009, baseado em denúncias,
a imprensa capanemense, através do programa Improviso da Rádio Antena C
destacou o assunto, sendo na ocasião, emitida carta para a Secretaria Municipal
de Saúde, assim como para os estabelecimentos do ramo, solicitando informações
da destinação do lixo hospitalar, mas não houve resposta de nenhum órgão, tendo
o assunto continuado nas pautas, até ficar no esquecimento. Como o tema é
delicado e precisa ser levado a sério, após o barulho feito pela imprensa, uma
empresa enviou representantes até Capanema para oferecer serviços de
incineração do lixo hospitalar, entretanto, devido aos altos custos, nada progrediu
e o lixo continuou sendo transportado pelos carros coletores, despejados no
lixão, sem qualquer orientação técnica ou fiscalização.
Com o passar do tempo, outros
catadores se juntaram ao grupo e entraram na conversa, contribuindo com
informações precisas para a construção desta matéria que tem cunho
esclarecedor, além de alertar as autoridades em saúde, para urgenciarem providências,
uma vez que alguém precisa se responsabilizar, pois o lixo hospitalar misturado
ao lixo doméstico é causador de danos que podem se transformar em graves doenças,
porque os catadores não usam proteções quando estão em suas atividades, fato
constatado e confirmado. Outro agravante é a presença de crianças junto aos
adultos que em determinadas ocasiões, também ajudam a catar o lixo, mesmo que
esse fato tenha sido negado pelos moradores daquela localidade. De acordo com
informações colhidas na ocasião, no entorno do lixão, estão construídas cerca
de 36 casas, sem estruturas adequadas, que abrigam famílias que escolheram
viver ali, devido a vários fatores, entre eles a falta de emprego e também a
necessidade de adquirir renda suficiente para suas subsistências. Ainda de
acordo com relatos dos moradores, o número de pessoas que habitam as casas,
pode chegar a 180, levando-se em consideração que em cada casa a média é de 5
pessoas, mas esse número oscila, pois ao passo que aumentam as famílias, eles
vão dando jeito para acomodar os novos integrantes, quando alguém se une
maritalmente e os filhos começam a nascer.
As condições enfrentadas pelos
moradores da área do lixão, cujas terras pertencem ao município, mas cada morador
se considera dono, pois tem os que já residem por lá há mais de 15 anos. Tudo o
que se vê na área do lixão, chama a atenção, por causa de razões óbvias, sendo
que uma delas diz respeito à falta de saneamento básico, não tem água potável
de qualidade e ainda mais: sem qualquer atendimento por parte dos setores de saúde,
meio ambiente e assistência social. O poder aquisitivo dos catadores de lixo é
considerado baixo, no entanto, o volume de trabalho é intenso, pois eles
próprios estipulam suas metas. O produto de maior cobiça dos catadores é a
garrafa PETI, pela facilidade de ser coletada, selecionada e comercializada,
pois tem comprador que vai adquirir o produto na porta do fornecedor.
Os dias vão passando e os
catadores de lixo quase nem percebem, tratando de cada um fazer o seu trabalho
de forma harmônica, com convicção de que mais adiante a melhoria de vida pode
estar ao alcance de todos. Se for levada em consideração a situação e a possível reação
de quem gerencia os Poderes, há de se convir que faltam políticas públicas para
melhoramentos em um setor que não tem aprovo de parte de comunidade, pois busca
individualmente sua melhor condição de sobreviver. Lamenta-se o processo de
exclusão que vivem os moradores do lixão que ao acordarem pela manhã, precisam
fazer filas no único poço que fornece água para eles beber, tomar banho, fazer
comida, lavar roupas e outras opções. O direcionamento é voltado para as
condições que vivem as crianças, filhos de várias gerações, que não tem
frequência presente na escola, não tem atendimento médico adequado, aparentam
sintomas de desnutrição, tudo agregado a convivência com o lixo e seus
derivados. O assunto lixo hospitalar está novamente em evidência, onde o
material resultante dos registros fotográficos, será encaminhado ao Ministério
Público do Estado, Promotoria de Capanema, para avaliações minuciosas, por se
tratar de graves ameaças à saúde de muita gente.
Reportagem e texto: Paulo
Vasconcellos
Fotos: André Mello
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