Maria Cachorro, a lenda




Crônica da Atualidade - Por Luciano Lima Gomes

Nas brumas da memória, lá pela saudosa década de 80, a vida de criança no bairro São Pio X, em nossa Capanema, era tecida com brincadeiras de rua e a imaginação à solta. Ao cair da noite, quando a luz amarelada dos postes riscava a escuridão, começavam a circular os "causos" que arrepiavam nossa pele e povoavam nossos sonhos.
​Dentre todas as histórias, uma reinava soberana e marcou nossa geração: a lenda de Maria Cachorro. O nome era sussurrado com uma mistura de medo e fascínio. Contavam os mais velhos que era uma senhora, uma vizinha talvez, que sob o manto da noite se transformava num cão negro e feroz, de olhos faiscantes. Naquela época, era só o que se falava. Qualquer latido mais raivoso na madrugada era o suficiente para gelar a espinha e nos fazer correr para o colo dos pais.
​E em nosso pequeno panteão de medos, ela não estava sozinha. Havia também a sombra do Lobisomem da Samambaia, outra criatura que, diziam, vagava pelas redondezas em noites de lua cheia. Eram os nossos monstros, os guardiões sobrenaturais de uma infância analógica e cheia de mistérios.
​Hoje, a poeira do tempo já cobriu essas ruas e o medo deu lugar a uma doce melancolia. Maria Cachorro e o lobisomem não são mais ameaças, mas sim tesouros guardados no baú da nossa imaginação. Eram eles o tempero das nossas aventuras, a prova de que nossa infância foi um tempo mágico, onde até o medo tinha seu encanto e cada esquina guardava uma lenda à espera de ser contada.


Edição: Paulo Vasconcellos e Guilherme Silva
Fonte: Perfil do Facebook de Luciano Gomes (Texto e imagem)

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