Crônica da Atualidade - Por Paulo Vasconcellos

 


A locomotiva e o apito como marcas registradas

Passaram-se 47 anos e um marco da Estrada de Ferro de Bragança-EFB, volta a ser notícia. Eis que o trem estar novamente entre nós, não para transportar passageiros ou cargas, mas sim, simbolizar a época em que a Avenida Barão de Capanema, era o leito da linha de ferro. No quarteirão compreendido entre as Travessas: Cezar Pinheiro e Djalma Dutra, no centro da cidade de Capanema, existia a Estação Ferroviária, donde partia e chegava o trem, com os seus vagões lotados de passageiros e as mercadorias que seriam distribuídas no comércio local, num verdadeiro vai e vem.
Os viajantes chegavam com as suas malas lotadas de pertences, sendo que uns vinham apenas passear ou negociar. Outros, aportavam na cidade, para nela fazer morada e dessa forma, desenhava-se o progresso formado pelos nativos e pelos imigrantes, principalmente os nordestinos que fugiam da seca. Os trilhos, as rodas do trem, o apito, a fumaça, o maquinista, a fuligem e muitos outros ingredientes, compõem as páginas de uma história que está sendo revivida, porque, a municipalidade, representada pelo Poder Executivo, revitalizou uma locomotiva, a fincou no mesmo local em que fora construída e demolida a Estação.


Considera-se atitude louvável e merecedora de menções visionárias, a tomada de medida do Governo Municipal, através do gestor Francisco Ferreira de Freitas Neto, que usando de suas atribuições, contemplou os Capanemenses e/ou visitantes, com o embelezamento da principal Avenida, que recebeu melhorias por intermédio do paisagismo, somado aos aspectos históricos, marcados pelos monumentos que existem na via.
A "Maria-Fumaça", fixada no canteiro central da Barão de Capanema, torna-se Patrimônio Cultural e Material, sem a necessidade da jurisprudência nos artigos e incisos de qualquer Lei, uma vez que esse reconhecimento pode ter viés espontâneo, chancelado pela naturalidade.

Texto: Paulo Vasconcelos, escritor e poeta, paraense de Capanema - Integrante da Academia Capanemense de Letras e Artes-ACLA

**Em sua página do Facebook, o poeta capanemense Ivanildo Pessoa, publicou um texto, usando versos que conotam o trem e a Estrada de Ferro.



M A R I A F U M A Ç A
A máquina resfolegava, cansada de
se arrastar pelo velhos trilhos de aço.
Transpirava fumaças, enquanto gemia
soluços que escapavam por entre as
narinas que apontavam o céu.
Em seu ventre, carregava histórias, vidas,
amores e esperanças.
Seca e sedenta, engolia as águas vindas
do rio encantado, o mesmo lugar que
ocupava os dias dos meninos que
gazeteavam o saber contido nas mulheres
de cabelos embranquecidos.
Eram dias que se encompridavam nas
correntezas e remoinhos do grande mar,
batizado pelos povos da primeira era, de
ouricuri, o rio das palmeiras encantadas.
O tempo engoliu a grande máquina.
Arrancou do chão todos os seus caminhos
de ferro, seus atalhos de segredos e suas
estações de carregar sonhos.
O tempo, esse engolidor de vidas e de
lembranças levou, junto com a grande
máquina, os pequenos homens que se
vestiam de algodão e cobriam a cabeça
com chapéus que nos davam bom dia.
O tempo, com a frieza que lhe é tão sua,
apagou as mulheres que carregavam flores
em seus vestidos e que rodopiavam suas
sombrinhas de colorir sorrisos felizes.
O tempo, esse fazedor de velhos, silenciou
as rodas de cantar canções, as corridas de
pés descalços, as frechadas de alcançar a
tabatinga e os cangapés espetáculosos,
que apenas os sonhadores sabiam realizar.
Nunca mais o resfolegar da grande máquina,
nunca mais seus gemidos de espantar
modorras, nunca mais sua fumaça de
incensar as tristezas de minha infância.
Nunca mais…
(Ivanildo Pessôa – 20/05/2019)
Fotos: Divulgação no Facebook





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