Bill Gates: O G20 e o Brasil
A
estabilização da economia global e a geração de empregos estiveram, com razão,
no topo da agenda da reunião do G20 na França.
Um risco
real, contudo, é o de que algumas das políticas cogitadas por membros-chave do
G20 corram o risco de reduzir a assistência e outros investimentos em
crescimento e desenvolvimento em muitos dos países mais pobres do mundo.
Seria um
erro enorme, porque é precisamente este o momento em que esses países estão
preparados para acelerar os avanços da década passada e se tornarem parceiros
estáveis e rapidamente crescentes na economia global.
Em vez de recuar,
este é o momento de nos engajarmos mais profundamente, em mais áreas e por meio
de parcerias novas e instigantes.
O
presidente Sarkozy me convidou a apresentar um relatório para os líderes do G20
sobre como ampliar o financiamento para o desenvolvimento, e nesse relatório
apresentei ideias muito concretas sobre como fazer isso e deitar as bases para
que o mundo consiga atender as necessidades e aspirações de todos os seus 7
bilhões de cidadãos.
Uma das
razões pelas quais sou otimista em relação ao futuro é o fato de que países em
rápido crescimento, como o Brasil, possuem o potencial de transformar o
desenvolvimento. Esse potencial enorme é a razão pela qual a Fundação Bill
& Melinda Gates assinou nesta semana um acordo com o governo brasileiro
para trabalharmos juntos sobre projetos de agricultura e saúde para beneficiar
países pobres.
Tendo
avançado com tanto êxito no processo de desenvolvimento, o Brasil tem
compreensão sofisticada do que os países pobres precisam fazer para melhorar
suas condições de vida. Com enormes capacidades técnicas, pode inventar
ferramentas inovadoras para solucionar alguns dos problemas mais renitentes
enfrentados pelos pobres.
Um exemplo
disso é uma iniciativa recente para melhorar a produtividade agrícola em
Moçambique, país onde uma em cada cinco crianças é malnutrida.
Graças à
combinação de investimentos generosos do Japão e suporte de capacitação técnica
do Brasil, Moçambique está a caminho de conquistar a segurança alimentar e, com
o tempo, exportar produtos agrícolas para a região e o mundo.
Os países
pobres estão usando seus próprios recursos para liderar seu próprio
desenvolvimento. Líderes africanos podem levantar mais dinheiro para o
desenvolvimento, com mais eficiência.
Os países
do G20 podem ajudar nisso, exigindo que empresas de mineração e petróleo
listadas em suas bolsas de valores divulguem o que pagam para os governos de
países em desenvolvimento. Dessa maneira, os termos dos contratos envolvendo
recursos naturais farão parte de registro público, e cidadãos em todos os
países poderão proteger seus interesses.
Os países
doadores tradicionais também têm a responsabilidade de continuar com sua
generosidade assistencial. Muitos países definiram metas para assistência até
2015, e ainda têm tempo para tomar medidas para alcançar essas metas.
Para
concluir, o setor privado pode aumentar seu envolvimento no desenvolvimento. O
setor privado é o motor do crescimento econômico e a maior fonte de inovação no
mundo, mas nem sempre investe nas necessidades dos mais pobres, porque nem
sempre há incentivos para isso. Acredito que há maneiras de encorajar o
investimento particular em coisas como tecnologias agrícolas e projetos
infraestruturais.
Existem
bilhões de dólares em mãos de instituições filantrópicas, investidores de
impacto, comunidades de diáspora e fundos soberanos que poderiam ser
mobilizados para ajudar os pobres.
Esse
trabalho não envolve alguns poucos países ricos dando assistência à moda antiga
a um mundo monolítico em desenvolvimento. Ele diz respeito a como novos
parceiros podem levar energia nova e transformadora ao desenvolvimento,
conservando o mundo no caminho em direção à equidade e ao crescimento econômico
de longo prazo.
BILL GATES
é copresidente da Fundação Bill & Melinda Gates.
Fonte: Pano Brasil.com
Tradução de CLARA ALLAIN.
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