Editais abrem caminho


A paraense Sinéia Pereira Sousa, conhecida como Néia, 64 anos, recebeu após mais de 50 anos de atuação, o título de Mestra em Artesanato, sendo que sua especialidade é a cerâmica. O reconhecimento veio para ela e outros 79 artistas através do Programa Seiva, da Fundação Cultural do Pará, que engloba diversos editais de premiação, patrocínio e incentivo. Um novo calendário de lançamento dos editais já está previsto para este ano. Além da FCP, Prefeitura de Belém e MinC também estão recebendo propostas em diversas áreas.
Néia começou a confeccionar e vender suas primeiras peças de barro logo aos 9 anos de idade, no início da década de 1960. “Meu pai (Mestre Gaby) fazia peças e levava para vender no Ver-o-Peso. Eu fazia umas panelinhas de barro, mesinhas, e pedi para ele levar para vender minhas peças também. Ele achou que ninguém ia querer aquilo tudo miudinho, mas os pais iam com as crianças para a feira e elas gostavam. Assim comecei a vender minhas peças e nunca parei. Posso ser doutora dez vezes, mas continuo fazendo minhas peças”, diz ela.
Formada em Administração, Direito e Pedagogia, ela é um exemplo dos muitos mestres que existem na cultura paraense sem jamais ter recebido o reconhecimento formal de sua contribuição para a cultura popular, assim como para a economia criativa do estado. Com o diploma em Direito, Néia defende sua comunidade. Com o diploma em Administração, fortalece sua atuação como presidente da Cooperativa dos Artesãos de Icoaraci (Coartt). E com o diploma de Pedagoga exerce o papel mais importante de uma Mestra: passa seu conhecimento aos mais jovens, mantendo a arte, a história e a cultura local viva.
“Achei boa a premiação do Programa Seiva porque valoriza o trabalho da gente, principalmente o da minha área, que é tão esquecida. Para mim o mais importante dessa premiação foi o título de Mestra, porque vejo tanta gente que trabalha a vida toda e só é reconhecida depois que morre. Quero ser reconhecida e receber flores em vida, como ocorreu com este prêmio”, declara. 
Néia realiza pesquisas arqueológicas junto ao Museu Emílio Goeldi, no Marajó, desde 2009, recuperando a história da cerâmica marajoara. E faz pesquisas sobre cerâmica em geral desde a década de 1980, voltadas também para as de estilo tapajônico e a atual cerâmica do Paracuri.