Com 13 mil caroços de açaí, Dina Carmona usa a moda como ferramenta de empoderamento amazônico

 A influenciadora paraense mostra que vestir pode ser um ato político e de sustentabilidade


publicitária e influenciadora paraense Dina Batista Carmona soma mais de dez anos de trajetória na internet, mas foi há cinco que encontrou seu verdadeiro propósito: usar a moda sustentável como ferramenta de comunicação e identidade amazônica. Nesta semana, ela viralizou nas redes sociais ao usar uma saia e blusa confeccionada com mais de 13 mil caroços de açaí, usando por Dina na segunda noite do Festival de Parintins, no Amazonas. A criação foi feita pela artesã Tânia Amaral com o styling de Neto Navarro, e logo mais, também fará parte de uma exposição de biojoias.

Ela contou que a peça usada no festival, que pesa cerca de 15 kg, nasceu da preparação com o descarte irregular dos caroços do fruto, que somem mais de 5 toneladas por dia somente em Belém. 



“Eu quis chamar atenção que dá para escoar esses resíduos com consciência e beleza. Isso também é sustentabilidade. Nunca será só um look bonito para o Instagram. Sempre tem uma história, um propósito. É a energia da artesã, do vendedor do Ver-o-Peso, é o meu discurso traduzido em roupa”, explicou a influenciadora.

No guarda-roupa da criadora de conteúdo também já entrou peças feitas de miriti, rede de pesca e de muiraquitã. “Tudo com a intenção de mostrar o que temos de mais potente no Pará”, complementou. 

Segundo ela, é preciso mudar a mentalidade de consumo e valorizar o que é feito na própria região. “Eu sempre digo: não é só sobre comprar menos, mas sobre comprar com mais intenção, com mais afeto e respeito pelo que se veste”, defende.

Para a influenciadora, que usa a moda como ferramenta de expressão política e cultural, vestir peças feitas a partir de elementos naturais ou reaproveitados é também um ato de afeto e ancestralidade. 

Criando propósitos 

Além de vestir a causa, Dina compartilha esse conhecimento com outras mulheres amazônicas por meio do projeto “Mulheres Fortes do Norte", o qual ela é fundadora e curadora. Por meio de mentorias, escutas e ações em comunidades, ela busca ampliar o protagonismo de quem, por muito tempo, foi invisibilizada. “Moda com propósito é aquela que gera renda, dá visibilidade e resgata autoestima. E a gente precisa entender que sustentabilidade também é sobre gente”, reforçou.

Dina contou que a iniciativa nasceu da inquietação dela com a invisibilidade do público feminino nortista em campanhas e mídias. “A gente não se via nas campanhas de diversidade. Sempre achavam que toda nortista era indígena, e somos muitas: quilombolas, urbanas, ribeirinhas. Essa ausência impacta nossa autoestima e  protagonismo. Por isso, comecei a viajar pelos interiores, fazer escutas. Hoje, muitas dessas mulheres conseguiram mudar suas realidades com o suporte da nossa rede”, relatou.

Para Dina, a chave para o sucesso está no autoconhecimento. “O processo começa de dentro para fora. Quando uma mulher assume sua identidade, entende sua potência e aprende a contar sua história, tudo muda”, disse.

Com coragem e criatividade, ela diz construir pontes entre o que se é e o que se deseja ser: “Eu não finjo que não sou do Norte. Quando a gente finge, as coisas não andam. Quando a gente assume a identidade, tudo muda”.

A influenciadora lembra com emoção os resultados que já alcançou. “Recebo mensagens de mulheres dizendo que conseguiram abrir um negócio, construir um pier, desenvolver um produto, porque viram o conteúdo que fiz com elas ou para elas. É isso que me move”, contou.

Para quem quer começar, ela dá o recado: “Você não precisa ter o melhor celular ou vídeo. Precisa ter verdade, mensagem e coragem. O resto, a gente constroi juntas”.

Dina compartilha que por trás da influenciadora e empreendedora, há também uma história marcada pela superação de traumas profundos. “Meu pai, o deputado João Batista, foi assassinado na frente da minha casa. Eu tinha quatro anos e peguei o tiro. Isso poderia ter me paralisado. Mas ressignifique essa dor com o projeto”, disse emocionada. 

Novas atuações 

Faltando poucos meses para a maior conferência climática do mundo, que será realizada em Belém em 2025, a COP 30, Dina Carmona expande sua atuação com o projeto “Filhas da Amazônia". Em parceria com lideranças femininas como a ex-BBB Gleici Damasceno (Acre), a influenciadora Thaynara OG (Maranhão) e a artista e Cunhã-poranga Marciele  Albuquerque, do Boi Caprichoso, (Amazonas), o coletivo percorre estados da Amazônia Legal realizando escutas, encontros, capacitações e visibilizando mulheres com trajetórias transformadoras.

“A Amazônia não é exótica, não é desconhecida, e não pode ser retratada apenas por quem nunca pisou aqui. Nós vivemos na floresta e sabemos o que precisa ser feito. Queremos ser ouvidas. Não aceitamos mais que falem por nós”, afirmou Dina.

Além das formações, o grupo pretende elaborar um documento com as dores, demandas e soluções das mulheres amazônidas, a ser entregue a organismos internacionais durante a conferência. “Queremos mostrar que sustentabilidade também é dar voz às comunidades, às empreendedoras, às lideranças locais. É transformar vidas com acesso, visibilidade e rede de apoio”, disse a influenciadora. 


Fonte: O Liberal 

Texto: Amanda Martins

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