Crônica da Semana - Por Víctor Silva

O OCASO DA VIDA

Caminho, caminhada... É comum na espiritualidade utilizarmos estas metáforas para representarmos o dinamismo da vida. A vida não é estática, mas sim movimento, mudança, uma ciranda bonita, falando em tons poéticos.

O fato é que, cada pessoa experimenta em sua história os efeitos do caminho empreendido. Parecemos, por vezes, cansar. Neste movimento, não são raros os altos e baixos, não é verdade?! Neste itinerário, experimentamos constantemente os reveses da vida e da morte.

Monteiro Lobato, com arte e maestria, dá voz à personagem Emília: “A vida, Senhor Visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem para de piscar chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos – viver é isso. É um dorme e acorda, dorme e acorda, até que dorme e não acorda mais [...] A vida das gentes neste mundo, senhor Sabugo, é isso. Um rosário de piscados. Cada pisco é um dia. Pisca e mama, pisca e brinca, pisca e estuda, pisca e ama, pisca e cria filhos, pisca e geme os reumatismos, e por fim pisca pela última vez e morre. – E depois que morre? perguntou o Visconde. – Depois que morre, vira hipótese. É ou não é?”.

Um dos maiores desafios já lançados na história talvez tenha sido o de decifrar esse curioso ciclo do nascer, crescer e morrer, ou seja, de entender o mistério da morte. Agostinho de Hipona, filósofo e padre da igreja católica, chegou a afirmar que a morte consistia numa doença incurável, da qual ninguém podia escapar. Assim, depreende-se de forma clarividente que todos morremos.

Lidar com essa dimensão é motivo de dor e sofrimento para um número considerável de pessoas exatamente porque temos dificuldade de vivermos uma vida desapegada das nossas cobiças e posses temporais. Para outros grupos, a morte é encarada pelo prisma da esperança, o livro da Sabedoria diz que a vida dos justos está nas mãos de Deus (Sb. 3,1). Jesus Cristo disse, certa vez, que se o grão de trigo não morresse, não seria capaz de produzir fruto (Jo 10,10). Para os que se guiam pela transcendência a morte é um trânsito para uma vida perfeitíssima, sob a luz do grande Ser eterno. Para passar por esta transfiguração precisamos nos desprender de tudo o que é transitório.

Francisco de Assis é um exemplo. Pouco instante antes de morrer, por volta de 1226, ele pediu a seus irmãos que o despissem e que o colocassem nu sobre a terra. Era o coroamento de uma experiência profunda de Deus, o Deus da vida.

Talvez a vida não seja nem material, nem temporal, nem espiritual. A vida é simplesmente eterna, ela se aninha em nós. Ela segue o seu curso pela eternidade afora. Confie em Deus e siga em frente! PAZ E BEM!