Literatura - Obra explora a liberdade criativa



Tatiana Salem Levy ouviu muito a seguinte pergunta: é tudo verdade? Pudera. Brasileira nascida em Lisboa, ela foi revelada para a cena literária contemporânea como uma escritora de autoficção. Com o romance “A chave de casa”, Tatiana ganhou o Prêmio São Paulo de Literatura de 2008, e mais tarde foi incluída entre os melhores jovens escritores do país pela revista “Granta”. Agora, aos 35 anos, está cansada de responder à velha questão.

Em seu novo romance, “Paraíso” (Foz Editora), que acaba de chegar às livrarias, a escritora tenta problematizar a reputação de escritora autoficcional. Na nova obra, Tatiana conta a história de Ana, escritora que, diante do risco de ter contraído HIV, isola-se em um sítio para escrever um romance histórico, enquanto aguarda o dia de fazer o exame definitivo para saber se tem a doença.

Assim, Tatiana alterna a história de Ana, em diferentes linhas temporais, e a do romance que a personagem escreve, sobre a maldição lançada por uma escrava enterrada viva (como punição por ter engravidado de seu senhor) contra as mulheres de uma família. Em dado momento, o leitor descobre que o livro que a Ana tentava escrever é na verdade o livro que ele tem em mãos. E “Paraíso” revela-se, por assim dizer, uma “autoficção ficcional” - já que é uma obra escrita pela personagem inspirada na própria vida.

“Esse livro é meio uma resposta, porque ‘A chave de casa’ ficou marcado pela autoficção. Ok, fiz isso, agora vou arcar com as responsabilidades”, ri Tatiana. “É mais um romance para mostrar a liberdade do escritor do que para provar isso ou aquilo. Quis fazer a protagonista totalmente diferente de mim, para afastar isso. Mas o que eu vivi e o que eu escrevi são coisas misturadas”.