Irmandade de Carimbó de Santarém Novo vence Prêmio Rodrigo Melo Franco, do Iphan
Iphan reconheceu a entidade por sua atuação na preservação do carimbó e das tradições afro-indígenas da região


A Irmandade de Carimbó de São Benedito, de Santarém Novo, no nordeste do Pará, foi anunciada como vencedora do 38º Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade. A distinção é promovida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A iniciativa, inscrita na categoria “Cooperativas, associações ou grupos e coletivos não formalizados (Categoria 2)”, se destacou pela força comunitária e pelo papel central na preservação do carimbó e das tradições afro-indígenas no Pará.
A Irmandade de Carimbó de São Benedito é a principal mantenedora da Festividade de Carimbó de São Benedito, uma das manifestações culturais mais antigas do Pará. Surgida no século XIX, a Irmandade tem sido um símbolo de resistência para a população negra e indígena da região.
Tradição e resistência marcam a história da Irmandade
A Festividade tem na devoção a São Benedito seu ponto central. Ela incorpora influências africanas e indígenas, transformando o carimbó em uma linguagem única de expressões culturais e religiosas. Realizada anualmente no final de dezembro, a celebração reúne diversas atividades. São elas:
- Apresentações de carimbó;
- Cortejos e ladainhas;
- Gastronomia típica;
- Oficinas de produção de instrumentos;
- Exibições audiovisuais;
- Apresentações de canto e dança.
Reconhecimento valoriza cultura e gera orgulho
“Esse reconhecimento do Iphan valoriza e dá visibilidade à nossa cultura, que existe há mais de 200 anos, que é a Irmandade de São Benedito. E ser a primeira mulher a fazer parte de um grupo que antes era só de homens, é um privilégio e fruto de muita resistência. Eu tenho orgulho de fazer parte não só do grupo, mas da diretoria da Irmandade. É gratificante poder sentir e vivenciar todos os momentos da festa. O que move a nossa cultura é a fé de cada promesseiro”, comemorou Ariana Ferraz, da Irmandade de Carimbó de São Benedito.
Pilares da preservação cultural e o papel da comunidade
Segundo o parecer da Comissão Nacional de Mérito, responsável pela escolha das 15 ações vencedoras, a Festividade paraense se estrutura em dois eixos fundamentais: transmissão de conhecimentos e articulação política pela salvaguarda do carimbó. A convivência intergeracional, com grupos mirins, juvenis e mestres mais velhos, foi apontada como um dos pilares da ação.
A Comissão destacou ainda que o movimento comunitário em torno da festividade foi decisivo no processo que resultou no registro do carimbó como patrimônio cultural do Brasil, em setembro de 2014. Esse movimento segue sendo essencial para sua preservação.
Esforço coletivo garante sustentabilidade da festividade
Outro ponto valorizado pelo júri foi o modelo de sustentabilidade socioeconômica. Embora receba ocasionalmente apoios externos, a festividade se mantém principalmente graças ao esforço dos “festeiros”. Eles são os responsáveis por organizar atividades, alimentar participantes e garantir a continuidade das celebrações ano após ano.
Essa força coletiva foi considerada exemplar no campo das boas práticas de preservação cultural.
Comissão nacional e o alcance do prêmio
A Comissão Nacional de Mérito, formada por 14 membros de 11 estados brasileiros, incluiu pesquisadores, gestores públicos, representantes de comunidades tradicionais e especialistas em diversas áreas. O grupo selecionou 15 ações vencedoras, cada uma premiada com R$ 35 mil.
Com o tema “Patrimônio Cultural, Territórios e Sustentabilidade”, o prêmio reconheceu iniciativas que valorizam práticas culturais em contextos urbanos, rurais e periféricos. O objetivo é promover sustentabilidade social, ambiental e econômica.
A edição de 2025 recebeu 876 inscrições, das quais 834 foram habilitadas. Ao final de um processo que envolveu 27 Comissões Estaduais, 175 ações chegaram à etapa nacional e 34 foram finalistas.
Neste ano, além da Festividade, que ocorre tradicionalmente entre os dias 21 e 31 de dezembro, haverá também o retorno do festival de carimbó FstRimbó após 10 anos, que será realizado nos dias 18, 19 e 20 de dezembro, com a presença de diversos grupos de carimbó.
A história do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade
Criado em 1987, o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade é uma das principais distinções brasileiras dedicadas à preservação do patrimônio cultural. Ele homenageia o advogado, jornalista e escritor que liderou, em 1937, a criação do então Sphan. Este órgão é hoje o Iphan, e foi presidido por ele por três décadas.
Fonte: O Liberal
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