Crônica da Atualidade - Por Eduardo Machado

             
Uma mulher na corrida pela Casa Branca nos EUA. Por aqui, uma mulher totalmente perdida na questão administrativa do país. Lá nos EUA, há celeridade nas ações governamentais. Cá, no Brasil, os mensalões e os petrolões, podem ilustrar a linha de raciocínio do Eduardo Machado, autor desta crônica para substituir o ponto de interrogação que ele usou. Recomendo que leiam e façam suas avaliações. (PV)




   Vejo, ouço, leio na mídia o noticiário que dá conta da precoce agitação em torno da sucessão de Barack Obama, nos EUA. A eleição será em novembro de 2016, daqui a 18 meses, mas os pré-candidatos já estão em campanha.
                   No quintal dos Democratas a opção parece estar definida; Hillary Clinton é a bola da vez. Depois do primeiro negro na presidência, nada melhor que uma mulher, também a primeira, para manter a aura de novidade, de avanço e quebra de preconceitos e paradigmas.
             A briga promete ser boa no lado Republicano, onde já há cerca de quatro pré-candidatos em campanha. Mas, ao que parece, eles vão tirar da cartola mais um Bush para tentar voltar ao poder. Depois do George Bush pai e do George Bush filho, vêm aí Jeb Bush, ex-governador da Califórnia, filho do primeiro e irmão do segundo George. Se eleito, seria o terceiro presidente da mesma família, uma bushada geral, algo inédito na história política dos EUA.
           Na maioria das sociedades capitalistas ocidentais, o estado democrático de direito supõe um sistema pluripartidário, mas, na prática, acaba gerando um bi-partidarismo camuflado, com revezamento no poder. São muitos os exemplos, dentre eles, a rixa entre Democratas e Republicanos nos EUA. 
         O Partido Republicano, fundado em 1854, defende um governo conservador, com pouca intervenção na economia, poucos investimentos em áreas sociais, liberalismo econômico; baixos impostos (principalmente para as indústrias e as classes mais ricas); e um discurso agressivo de defesa da moral e dos bons costumes.
            Os principais segmentos sociais que apoiam o partido são os banqueiros, empresários, norte-americanos de famílias tradicionais e conservadoras, profissionais liberais, empreendedores, profissionais do sistema financeiro, protestantes conservadores, entre outros. Ronald Reagan (1981-1989), George H. W. Bush, (1989-1993), George W. Bush (2001-2009) foram seus últimos presidentes eleitos. Ou seja, quem vota em candidatos republicanos sabe para onde os ventos vão soprar.
        O Partido Democrata é mais antigo. Fundado em 1792, tem como principais propostas a participação do Estado nas áreas sociais para garantir as necessidades dos cidadãos, o aumento de impostos para os mais ricos e intervenção regulatória no mercado para que não haja abusos e distorções, preocupação com Direitos Humanos, em especial, das minorias.
         Os principais segmentos sociais que apoiam o partido são os intelectuais, os professores, jornalistas, artistas, trabalhadores sindicalizados, latinos, imigrantes, homossexuais, católicos e judeus, entre outros. Jimmy Carter (1977-1981), Bill Clinton (1993-2001) e Barack Obama (2009-) são seus representantes mais recentes na presidência.
          Esses dois partidos são os que estão constantemente na mídia, mas há outros registrados e atuantes nos Estados Unidos. São eles, o Partido Libertário, o Partido da Reforma, o Partido Verde, o Partido da Constituição, o Partido dos Cidadãos dos Estados Unidos, o Partido Socialista dos Trabalhadores e até o Partido Comunista dos Estados Unidos, quem tem CGC, endereço e telefone.
            No Reino Unido, vimos, esta semana, em meio ao fracasso total das previsões dos Institutos de Pesquisa, a eleição que manteve no poder o Partido Conservador. Na monarquia parlamentarista à moda inglesa, os Conservadores dividem, há décadas, o poder com os Trabalhistas, repetindo o mesmo modelo e realidade que vemos pelo mundo afora.
O que chama minha atenção no quadro partidário dos EUA, para o bem e para o mal, é a identidade desses partidos, de seus representantes, filiados e militantes. Lá, já se nasce Republicano ou Democrata. 
          Para o bem, isso significa que se sabe exatamente a maneira de governar e as prioridades de governo, dependendo daquele que chega ao poder. Para o mal, esse modelo favorece a estagnação política, com pouca mobilidade, tornando os governantes reféns daquele que realmente governa; o Mercado.
             Já cá (com perdão do cacófato) no nosso Brasil...
        Falar em identidade partidária é piada de péssimo gosto. Para cumprir a legislação os 32 Partidos registrados no TSE têm que apresentar seus estatutos e, antes das eleições, seu programa eleitoral. Mas o que se vê, é um festival de Ctrl C e Ctrl V. Como papel e eleitor aceitam tudo, estatutos e programas viram uma geleia geral e os candidatos apresentados seguem no mesmo diapasão.
        Até temos nosso arremedo de bi-partidarismo, com a disputa entre PT e PSDB, que se revezaram no poder depois da redemocratização, mas não se pode falar em identidade partidária, em princípios e posições claras, sequer em tendências políticas e sociais. É tudo a lesma lerda...
              O PT provocou imenso estrago no nosso cenário político ao ferir de quase morte a esperança daqueles que o viam como, enfim, um partido com identidade e princípios. E foi assim, até chegar ao poder. Então, aliados viraram comparsas, alianças viraram trapaças, base aliada virou quadrilha.
            Seria o caso, então, de votar na oposição... Triste opção.
           Vejo com imensa tristeza a incompetência dos nossos ditos oposicionistas em oferecer ao país uma alternativa real, um projeto de governo que traga as mudanças que todos queremos, e não um simples revezamento.
        Afinal, tirar o PMDB e abrir vaga para o DEM, ou sair o PP para entrar o Solidariedade? Trocam as moscas, mas a merda continua a mesma.
         Está repercutindo nas redes sociais a conversa entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu então colega José Mujica, presidente do Uruguai. 
      No livro “Uma ovelha negra no poder”, o ex-presidente uruguaio atribui a Lula a seguinte afirmação: "Neste mundo, tive que lidar com muitas chantagens e coisas imorais". Mas essa seria, sempre segundo Lula, "a única forma de governar o país".
        Com a tranquilidade e a autoridade de quem votou seis vezes em Luis Inácio, posso dizer: “não, presidente, é possível ser diferente para fazer diferença”.
       Em momentos assim, de quase desânimo, lembro-me do amigo Frei Betto, que disse, após deixar o cargo que ocupava no primeiro governo Lula:
      “Houve um momento em que nós, que somos da geração que lutou pela liberdade, contra a ditadura, imaginamos que nossos sonhos se realizariam ainda dentro do nosso tempo histórico. Hoje sei que não. Hoje sei que não vou fazer parte da colheita, mas não abro mão de morrer semente”.
        Nos Estados Unidos, o símbolo dos Republicanos é um elefante, dos Democratas, um burro. Já temos um tucano, falta quem...?

Eduardo Machado

10/05/2015