Feira do Livro terá escritor indígena



Para o escritor Daniel Munduruku escrever é uma forma de não perder de vista a cultura da aldeia que deixou há cerca de 17 anos no Pará, de onde saiu para conhecer outros costumes e descobrir novos horizontes. “Nunca busquei sucesso ou reconhecimento. Apenas quis fazer um trabalho de qualidade que permitisse contribuir com a diminuição do preconceito e da exclusão de nossos povos indígenas”, afirma o autor de mais de 45 livros, voltados, a maioria, para o público jovem e infantil.
Depois de sair das terras munduruku, Daniel tornou-se graduado em filosofia, doutor em educação pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-doutor em Literatura na Universidade Federal de São Carlos. Logo passou a se dedicar à educação social, e para isso, desenvolveu uma maneira especial de ensinar, que incluiu a tradição indígena de contar histórias. Foi nesse caminho que descobriu o prazer de escrever. Não parou mais.
A literatura entrou, meio sem querer, na vida do educador.  “A escrita não foi exatamente uma opção. Ela veio devagarinho tomando conta de minha história. Veio como um vento soprando lentamente e fazendo entrada, sem pedir licença. Quando dei por mim ela já estava me acompanhando pelas estradas da vida. Claro que, poesia à parte, eu tinha um compromisso comigo mesmo que era de contribuir para a formação da consciência crítica das crianças e jovens. Não podia aceitar a ideia de que o preconceito está introjetado na mente e no coração do brasileiro. Sei, desde sempre, que a ideologia se vence com nova ideologia, mentira se vence com verdade. Portanto, contar nova história para as crianças e jovens para alimentar neles uma nova forma de olhar para sua própria história”, avalia.
Foi por esse caminho, que Daniel escolheu escrever para o público infanto-juvenil. “Meu espírito de educador que pensa sempre em formas de atingir seus alunos e aprendizes. Quando a oportunidade surgiu, agarrei com unhas e dentes, como se diz. Os adultos que leem meus livros o fazem por terem presente sua própria infância. Não escrevo para crianças, mas para as infâncias. Essas não têm idade”, diz.

ORM