Futebol em verso, prosa e poesia

**Encontrei este texto no Facebook, achei interessante e estou replicando aqui! (PV)



 É famoso o artigo escrito por Pasolini sobre a final da Copa de 1970 comparando o estilo de jogo do Brasil e da Itália, onde dizia que o futebol italiano - por contiguidade o futebol europeu - era prosa e o futebol brasileiro - portanto latino-americano - era poesia. Desde 82, a primeira Copa que eu acompanhei, não via uma seleção jogar com tanto gosto quanto essa.

O gol do Richarlison foi um poema de João Cabral: preciso, geométrico, sem firulas. Evoco outro italiano lembrado hoje em memes que se espalharam pela internete: Leonardo Fibonacci, o matemático que desenvolveu na idade média a sequência de cálculos que leva seu nome e ilustra essa imagem. A torção de corpo do jogador, fazendo no ar um movimento espiral para chutar a bola de voleio com força e precisão na direção da rede, sem chances para o arqueiro sérvio, pode ser comparada a uma espiral de nautilus, o desenho que representa a sequência matemática encontrada no arranjo arquitetônico de folhas, sementes, troncos, copas, flores, pétalas e outras formas encontradas na natureza.
Volto a Pasolini que cravou: "Há no futebol momentos que são exclusivamente poéticos: trata-se dos momentos de gol. Cada gol é sempre uma invenção, uma subversão do código: cada gol é fatalidade, fulguração, espanto, irreversibilidade. Precisamente como a palavra poética." O gol de Richarlison foi um espanto, uma fulguração e ainda um desagravo por tudo que ele representa como renovação do futebol brasileiro, pelo seu engajamento político e social, pelo contraponto à atitude de Neymar que prometeu dedicar o primeiro gol ao futuro ex-presidente, como resposta àquela geração de jogadores que transformavam o campo em templo religioso com suas comemorações proselitistas. O Brasil pode até não levar o título, mas esse jogo já lavou a alma e a camisa verde e amarela.



Fonte: Perfil do Facebook de Joaquim Belo

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