Por que Jesus falava por parábolas?

 




Levanto da cama, atendo o celular e converso com uma amiga futilidades sobre um antigo jardineiro.

Preciso de um!

Decido fotografar o estado de meu jardim e a enviar.

Impaciente com a conversa que não rendia, encerro-a.

Saio do quarto, caminho pela sala e destranco a porta.

Estranhei o meu carro não estar no mesmo lugar que deixara, malmente, principiei os questionamentos e um vento suave fez-me mirar o jardim.

Meus olhos contemplaram exuberantes cachos de flores das onze-horas.

Quanta alegria! Tenho uma relação mística com as flores das onzes-horas.

Comecei a pular de alegria (mesmo sem poder). Eufórica, entre a dor física e a satisfação em presenciar tão belíssima cena, precipito-me a querer gravá-la. Retiro o celular do bolso, mas percebo que outras flores brotaram e quis tocá-las.

Aproximo-me e tento registrar a majestosa expressão da natureza. Penso: “Preciso mostrar aos amigos o espetáculo que recebera dos Céus!”. De repente, começo a perceber que a preocupação com a filmagem restringia o deleite magnânimo e abençoado do momento.

Sinto o tempo se findando, guardo o celular, aproximo-me mais das flores e percebo que um raio de sol com as cores do arco-íris a energizavam, deixo minhas mãos sentirem o raio, sou tomada por uma alegria e paz inexplicável.

Aos poucos percebo que desperto em minha cama e ainda era noite.

Ufa, por isso não consegui registrar a imagem!

Decepcionei-me. Poderia ter aproveitado mais.

Certamente, não terei o mesmo sonho, não experimentarei as mesmas emoções. Recordei que o caule era maior que o natural, havia flores de cor rosa e de cor amarela em formato desconhecido e no meio do jardim, terra sem grama.

Recordei de que Jesus falava por parábolas. Os sonhos podem ser parábolas? Será que deixamos de apreciar o momento vivido no aqui e agora para nos concentrarmos em registros que nos furtam de experiências singulares? Por que as flores estavam ao redor do jardim? Devo tirar minha atenção do que é externo (redes sociais) e me voltar mais para o interior? As redes sociais e as futilidades nos afastam de uma maior integração do espiritual, mental e corporal? O que ainda preciso aprender e compreender sobre os mistérios da vida? As práticas vivenciadas solitariamente proporcionam conhecimento, sabedoria e autocura, de forma, a resplandecer nossa própria luz interior? O raio em forma de arco-íris anuncia o fim de um sofrimento e o despertar para a iluminação da consciência? No cultivo de meu jardim está a ponte florida e iluminada que me liga aos Céus, trazendo claridade para minhas noites? Jesus continua a falar por parábolas.

 

Aretuza Santos é poeta e escritora, mestre em Estudos de Linguagens pela UNEB, Licenciada em Letras Vernáculas pela UEFS. Atua como professora de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental, policial militar, pesquisadora no campo da Análise do Discurso. Autora de diversos artigos, poemas, crônicas, contos e dos livros Proseares entre Sombras &; Sonhos (Ecos, 2021), A greve da polícia militar da Bahia no campo do discurso: disputas pelo sentido (Pontes, 2021), Aretuzar: mais que emoções em versos (Baronesa, 2022) e organizadora da Antologia Avós, marcas do Amor (Ecos, 2021). No campo literário, membro da Federação Brasileira dos Acadêmicos das Ciências, Letras e Artes (FEBACLA) e da Academia Metropolitana de Letras e Artes (AMLA – FSA/BA). Recebeu a Comenda Maria Quitéria pela Câmara de vereadores de Feira de Santana e pela FEBACLA. 



Fonte: Jornal Maria Quitéria 

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