Papa Francisco no Brasil - Parte 1




© Escritório de Informação do Opus Dei no Brasil

Papa Francisco
no Brasil
pronunciamentos
Viagem Apostólica
ao Rio de Janeiro por ocasião da
XXVIII Jornada Mundial Da Juventude
Rio de Janeiro
2013


Cerimônia de boas-vindas no
Jardim do Palácio Guanabara
Senhora Presidenta, ilustres Autoridades, ir-
mãos e amigos!
Quis Deus na sua amorosa providência que a
primeira viagem internacional do meu Pontifca-
do me consentisse voltar à amada América Latina,
precisamente ao Brasil, nação que se gloria de seus
sólidos laços com a Sé Apostólica e dos profundos
sentimentos de fé e amizade que sempre a uniram de
modo singular ao Sucessor de Pedro. Dou graças a
Deus pela sua benignidade.
Aprendi que para ter acesso ao Povo Brasileiro, é
preciso ingressar pelo portal do seu imenso coração; 
por isso permitam-me que nesta hora eu possa bater
delicadamente a esta porta. Peço licença para entrar e
transcorrer esta semana com vocês. Não tenho ouro
nem prata, mas trago o que de mais precioso me foi
dado: Jesus Cristo! Venho em seu Nome, para ali-
mentar a chama de amor fraterno que arde em cada
coração; e desejo que chegue a todos e a cada um a
minha saudação: “A paz de Cristo esteja com vocês!”

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Saúdo com deferência a Senhora Presidenta e os
ilustres membros do seu Governo. Obrigado pelo seu
generoso acolhimento e por suas palavras que exter-
naram a alegria dos brasileiros pela minha presença
em sua Pátria. Cumprimento também o Senhor Go-
vernador deste Estado, que amavelmente nos recebe
na Sede do Governo, e o Senhor Prefeito do Rio de
Janeiro, bem como os Membros do Corpo Diplomá-
tico acreditado junto ao Governo Brasileiro, as de-
mais Autoridades presentes e todos quantos se pro-
digalizaram para tornar realidade esta minha visita.
Quero dirigir uma palavra de afeto aos meus ir-
mãos no Episcopado, sobre quem pousa a tarefa de
guiar o Rebanho de Deus neste imenso País, e às suas
amadas Igrejas Particulares. Esta minha visita outra 
coisa não quer senão continuar a missão pastoral
própria do Bispo de Roma de confrmar os seus ir-
mãos na Fé em Cristo, de animá-los a testemunhar
as razões da Esperança que d’Ele vem e de incentivá-
-los a oferecer a todos as inesgotáveis riquezas do seu
Amor.
O motivo principal da minha presença no Bra-
sil, como é sabido, transcende as suas fronteiras. Vim
para a Jornada Mundial da Juventude. Vim para en-
contrar os jovens que vieram de todo o mundo, atra-

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ídos pelos braços abertos do Cristo Redentor. Eles
querem agasalhar-se no seu abraço para, junto de seu 
Coração, ouvir de novo o seu potente e claro chama-
do: «Ide e fazei discípulos entre todas as nações».
Estes jovens provêm dos diversos continentes,
falam línguas diferentes, são portadores de variegadas
culturas e, todavia, em Cristo encontram as respostas
para suas mais altas e comuns aspirações e podem
saciar a fome de verdade límpida e de amor autêntico 
que os irmanem para além de toda diversidade.
Cristo abre espaço para eles, pois sabe que ener-
gia alguma pode ser mais potente que aquela que se
desprende do coração dos jovens quando conquista-
dos pela experiência da sua amizade. Cristo “bota fé
nos jovens e confa-lhes o futuro de sua própria cau-
sa: “Ide, fazei discípulos”. Ide para além das fronteiras
do que é humanamente possível e criem um mundo
de irmãos. Também os jovens “botam fé” em Cristo.
Eles não têm medo de arriscar a única vida que pos-
suem porque sabem que não serão desiludidos.
Ao iniciar esta minha visita ao Brasil, tenho
consciência de que, ao dirigir-me aos jovens, falarei
às suas famílias, às suas comunidades eclesiais e na-
cionais de origem, às sociedades nas quais estão inse-

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ridos, aos homens e às mulheres dos quais, em gran-
de medida, depende o futuro destas novas gerações.
Os pais usam dizer por aqui: “os flhos são a me-
nina dos nossos olhos”. Que bela expressão da sabe-
doria brasileira que aplica aos jovens a imagem da
pupila dos olhos, janela pela qual entra a luz rega-
lando-nos o milagre da visão! O que vai ser de nós,
se não tomarmos conta dos nossos olhos? Como ha-
veremos de seguir em frente? O meu auspício é que,
nesta semana, cada um de nós se deixe interpelar por 
esta desafadora pergunta.
E atenção! A juventude é a janela pela qual o fu-
turo entra no mundo. É a janela e, por isso, nos impõe
grandes desafos. A nossa geração se demonstrará à
altura da promessa contida em cada jovem quando
souber abrir-lhe espaço. Isso signifca: tutelar as con-
dições materiais e imateriais para o seu pleno desen-
volvimento; oferecer a ele fundamentos sólidos, so-
bre os quais construir a vida; garantir-lhe segurança
e educação para que se torne aquilo que ele pode ser;
transmitir-lhe valores duradouros pelos quais a vida 
mereça ser vivida, assegurar-lhe um horizonte trans-
cendente que responda à sede de felicidade autêntica,
suscitando nele a criatividade do bem; entregar-lhe
a herança de um mundo que corresponda à medida

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da vida humana; despertar nele as melhores poten-
cialidades para que seja sujeito do próprio amanhã
e corresponsável do destino de todos. Com essas ati-
tudes precedemos hoje o futuro que entra pela janela 
dos jovens.
Concluindo, peço a todos a delicadeza da aten-
ção e, se possível, a necessária empatia para estabele-
cer um diálogo de amigos. Nesta hora, os braços do
Papa se alargam para abraçar a inteira nação brasilei-
ra, na sua complexa riqueza humana, cultural e reli-
giosa. Desde a Amazônia até os pampas, dos sertões
até o Pantanal, dos vilarejos até as metrópoles, nin-
guém se sinta excluído do afeto do Papa. Depois de
amanhã, se Deus quiser, tenho em mente recordar-
-lhes todos a Nossa Senhora Aparecida, invocando
sua proteção materna sobre seus lares e famílias. Des-
de já a todos abençôo. Obrigado pelo acolhimento!

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Santa Missa na Basílica do
Santuário de Nossa Senhora da
Conceição Aparecida
Eminentíssimo Senhor Cardeal, venerados ir-
mãos no episcopado e no sacerdócio, queridos ir-
mãos e irmãs!
Quanta alegria me dá vir à casa da Mãe de cada
brasileiro, o Santuário de Nossa Senhora Apareci-
da. No dia seguinte à minha eleição como Bispo de
Roma fui visitar a Basílica de Santa Maria Maior, para
confar a Nossa Senhora o meu ministério. Hoje, eu
quis vir aqui para suplicar à Maria, nossa Mãe, o bom
êxito da Jornada Mundial da Juventude e colocar aos
seus pés a vida do povo latino-americano.
Queria dizer-lhes, primeiramente, uma coi-
sa. Neste Santuário, seis anos atrás, quando aqui
se realizou a V Conferência Geral do Episcopado
da América Latina e do Caribe, pude dar-me con-
ta pessoalmente de um fato belíssimo: ver como os
Bispos – que trabalharam sobre o tema do encontro
com Cristo, discipulado e missão – eram animados,
acompanhados e, em certo sentido, inspirados pelos

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milhares de peregrinos que vinham diariamente con-
far a sua vida a Nossa Senhora: aquela Conferência
foi um grande momento de vida de Igreja. E, de fato, 
pode-se dizer que o Documento de Aparecida nas-
ceu justamente deste encontro entre os trabalhos dos 
Pastores e a fé simples dos romeiros, sob a proteçã
maternal de Maria. A Igreja, quando busca Cristo,
bate sempre à casa da Mãe e pede: “Mostrai-nos Je-
sus”. É de Maria que se aprende o verdadeiro disci-
pulado. E, por isso, a Igreja sai em missão sempre na
esteira de Maria.
Assim, de cara à Jornada Mundial da Juventude
que me trouxe até o Brasil, também eu venho hoje
bater à porta da casa de Maria, que amou e educou
Jesus, para que ajude a todos nós, os Pastores do Povo
de Deus, aos pais e aos educadores, a transmitir aos 
nossos jovens os valores que farão deles construtores
de um País e de um mundo mais justo, solidário e
fraterno. Para tal, gostaria de chamar à atenção para
três simples posturas, três simples posturas: Conser-
var a esperança; deixar-se surpreender por Deus; vi-
ver na alegria.
1. Conservar a esperança. A segunda leitura
da Missa apresenta uma cena dramática: uma mu-
lher – fgura de Maria e da Igreja – sendo perseguida

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por um Dragão – o diabo - que quer lhe devorar o
flho. A cena, porém, nãé de morte, mas de vida,
porque Deus intervém e coloca o flho a salvo (cfr.
Ap 12,13a.15-16a). Quantas difculdades na vida de
cada um, no nosso povo, nas nossas comunidades,
mas, por maiores que possam parecer, Deus nunca
deixa que sejamos submergidos. Frente ao desânimo
que poderia aparecer na vida, em quem trabalha na
evangelização ou em quem se esforça por viver a fé
como pai e mãe de família, quero dizer com força:
Tenham sempre no coração esta certeza! Deus ca-
minha a seu lado, nunca lhes deixa desamparados!
Nunca percamos a esperança! Nunca deixemos que
ela se apague nos nossos corações! O “dragão”, o mal,
faz-se presente na nossa história, mas ele nãé o
mais forte. Deus é o mais forte, e Deus é a nossa es-
perança! É verdade que hoje, mais ou menos todas as
pessoas, e também os nossos jovens, experimentam o
fascínio de tantos ídolos que se colocam no lugar de
Deus e parecem dar esperança: o dinheiro, o poder,
o sucesso, o prazer. Frequentemente, uma sensação
de solidão e de vazio entra no coração de muitos e
conduz à busca de compensações, destes ídolos pas-
sageiros. Queridos irmãos e irmãs, sejamos luzeiros
de esperança! Tenhamos uma visão positiva sobre a
realidade. Encorajemos a generosidade que caracte-

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riza os jovens, acompanhando-lhes no processo de se
tornarem protagonistas da construção de um mun-
do melhor: eles são um motor potente para a Igreja
e para a sociedade. Eles não precisam só de coisas,
precisam sobretudo que lhes sejam propostos aque-
les valores imateriais que são o coração espiritual de
um povo, a memória de um povo. Neste Santuário,
que faz parte da memória do Brasil, podemos quase
que apalpá-los: espiritualidade, generosidade, solida-
riedade, perseverança, fraternidade, alegria; trata-se
de valores que encontram a sua raiz mais profunda
na fé cristã.
2. A segunda postura: Deixar-se surpreender
por Deus. Quem é homem e mulher de esperança – a
grande esperança que a fé nos dá – sabe que, mesmo
em meio às difculdades, Deus atua e nos surpreen-
de. A história deste Santuário serve de exemplo: três
pescadores, depois de um dia sem conseguir apanhar
peixes, nas águas do Rio Parnaíba, encontram algo
inesperado: uma imagem de Nossa Senhora da Con-
ceição. Quem poderia imaginar que o lugar de uma
pesca infrutífera, tornar-se-ia o lugar onde todos os
brasileiros podem se sentir flhos de uma mesma
Mãe? Deus sempre surpreende, como o vinho novo,
no Evangelho que ouvimos. Deus sempre nos reser-
va o melhor. Mas pede que nos deixemos surpreen-

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der pelo seu amor, que acolhamos as suas surpresas.
Confemos em Deus! Longe d’Ele, o vinho da alegria,
o vinho da esperança, se esgota. Se nos aproximamos
d’Ele, se permanecemos com Ele, aquilo que parece
água fria, aquilo que é difculdade, aquilo que é pe-
cado, se transforma em vinho novo de amizade com
Ele.
3. A terceira postura: Viver na alegria. Queridos
amigos, se caminhamos na esperança, deixando-nos
surpreender pelo vinho novo que Jesus nos oferece,
há alegria no nosso coração e não podemos deixar
de ser testemunhas dessa alegria. O cristãé alegre,
nunca está triste. Deus nos acompanha. Temos uma
Mãe que sempre intercede pela vida dos seus flhos,
por nós, como a rainha Ester na primeira leitura (cf.
Est 5, 3). Jesus nos mostrou que a face de Deus é a de
um Pai que nos ama. O pecado e a morte foram der-
rotados. O cristão não pode ser pessimista! Não pode 
ter uma cara de quem parece num constante estado
de luto. Se estivermos verdadeiramente enamorados
de Cristo e sentirmos o quanto Ele nos ama, o nos-
so coração se “incendiará” de tal alegria que conta-
giará quem estiver ao nosso lado. Como dizia Bento

XVI, aqui neste Santu
ário: «O discípulo sabe que sem 
Cristo não há luz, não há esperança, não há amor,
não há futuro” (Discurso inaugural da Conferência

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de Aparecida [13 de maio de 2007]: Insegnamenti
III/1 [2007], 861).
Queridos amigos, viemos bater à porta da casa
de Maria. Ela abriu-nos, fez-nos entrar e nos apon-
ta o seu Filho. Agora Ela nos pede: «Fazei o que Ele 
vos disser» (Jo 2,5). Sim, Mãe, nos comprometemos
a fazer o que Jesus nos disser! E o faremos com espe-
rança, confantes nas surpresas de Deus e cheios de
alegria. Assim seja.