Papa Francisco no Brasil





© Escritório de Informação do Opus Dei no Brasil

Papa Francisco
no Brasil
pronunciamentos
Viagem Apostólica
ao Rio de Janeiro por ocasião da
XXVIII Jornada Mundial Da Juventude
Rio de Janeiro
2013


Cerimônia de boas-vindas no
Jardim do Palácio Guanabara
Senhora Presidenta, ilustres Autoridades, ir-
mãos e amigos!
Quis Deus na sua amorosa providência que a
primeira viagem internacional do meu Pontifca-
do me consentisse voltar à amada América Latina,
precisamente ao Brasil, nação que se gloria de seus
sólidos laços com a Sé Apostólica e dos profundos
sentimentos de fé e amizade que sempre a uniram de
modo singular ao Sucessor de Pedro. Dou graças a
Deus pela sua benignidade.
Aprendi que para ter acesso ao Povo Brasileiro, é
preciso ingressar pelo portal do seu imenso coração;
por isso permitam-me que nesta hora eu possa bater
delicadamente a esta porta. Peço licença para entrar e
transcorrer esta semana com vocês. Não tenho ouro
nem prata, mas trago o que de mais precioso me foi
dado: Jesus Cristo! Venho em seu Nome, para ali-
mentar a chama de amor fraterno que arde em cada
coração; e desejo que chegue a todos e a cada um a
minha saudação: “A paz de Cristo esteja com vocês!”

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Saúdo com deferência a Senhora Presidenta e os
ilustres membros do seu Governo. Obrigado pelo seu
generoso acolhimento e por suas palavras que exter-
naram a alegria dos brasileiros pela minha presença
em sua Pátria. Cumprimento também o Senhor Go-
vernador deste Estado, que amavelmente nos recebe
na Sede do Governo, e o Senhor Prefeito do Rio de
Janeiro, bem como os Membros do Corpo Diplomá-
tico acreditado junto ao Governo Brasileiro, as de-
mais Autoridades presentes e todos quantos se pro-
digalizaram para tornar realidade esta minha visita.
Quero dirigir uma palavra de afeto aos meus ir-
mãos no Episcopado, sobre quem pousa a tarefa de
guiar o Rebanho de Deus neste imenso País, e às suas
amadas Igrejas Particulares. Esta minha visita outra
coisa não quer senão continuar a missão pastoral
própria do Bispo de Roma de confrmar os seus ir-
mãos na Fé em Cristo, de animá-los a testemunhar
as razões da Esperança que d’Ele vem e de incentivá-
-los a oferecer a todos as inesgotáveis riquezas do seu
Amor.
O motivo principal da minha presença no Bra-
sil, como é sabido, transcende as suas fronteiras. Vim
para a Jornada Mundial da Juventude. Vim para en-
contrar os jovens que vieram de todo o mundo, atra-

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ídos pelos braços abertos do Cristo Redentor. Eles
querem agasalhar-se no seu abraço para, junto de seu
Coração, ouvir de novo o seu potente e claro chama-
do: «Ide e fazei discípulos entre todas as nações».
Estes jovens provêm dos diversos continentes,
falam línguas diferentes, são portadores de variegadas
culturas e, todavia, em Cristo encontram as respostas
para suas mais altas e comuns aspirações e podem
saciar a fome de verdade límpida e de amor autêntico
que os irmanem para além de toda diversidade.
Cristo abre espaço para eles, pois sabe que ener-
gia alguma pode ser mais potente que aquela que se
desprende do coração dos jovens quando conquista-
dos pela experiência da sua amizade. Cristo “bota fé
nos jovens e confa-lhes o futuro de sua própria cau-
sa: “Ide, fazei discípulos”. Ide para além das fronteiras
do que é humanamente possível e criem um mundo
de irmãos. Também os jovens “botam fé” em Cristo.
Eles não têm medo de arriscar a única vida que pos-
suem porque sabem que não serão desiludidos.
Ao iniciar esta minha visita ao Brasil, tenho
consciência de que, ao dirigir-me aos jovens, falarei
às suas famílias, às suas comunidades eclesiais e na-
cionais de origem, às sociedades nas quais estão inse-

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ridos, aos homens e às mulheres dos quais, em gran-
de medida, depende o futuro destas novas gerações.
Os pais usam dizer por aqui: “os flhos são a me-
nina dos nossos olhos”. Que bela expressão da sabe-
doria brasileira que aplica aos jovens a imagem da
pupila dos olhos, janela pela qual entra a luz rega-
lando-nos o milagre da visão! O que vai ser de nós,
se não tomarmos conta dos nossos olhos? Como ha-
veremos de seguir em frente? O meu auspício é que,
nesta semana, cada um de nós se deixe interpelar por
esta desafadora pergunta.
E atenção! A juventude é a janela pela qual o fu-
turo entra no mundo. É a janela e, por isso, nos impõe
grandes desafos. A nossa geração se demonstrará à
altura da promessa contida em cada jovem quando
souber abrir-lhe espaço. Isso signifca: tutelar as con-
dições materiais e imateriais para o seu pleno desen-
volvimento; oferecer a ele fundamentos sólidos, so-
bre os quais construir a vida; garantir-lhe segurança
e educação para que se torne aquilo que ele pode ser;
transmitir-lhe valores duradouros pelos quais a vida
mereça ser vivida, assegurar-lhe um horizonte trans-
cendente que responda à sede de felicidade autêntica,
suscitando nele a criatividade do bem; entregar-lhe
a herança de um mundo que corresponda à medida

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da vida humana; despertar nele as melhores poten-
cialidades para que seja sujeito do próprio amanhã
e corresponsável do destino de todos. Com essas ati-
tudes precedemos hoje o futuro que entra pela janela
dos jovens.
Concluindo, peço a todos a delicadeza da aten-
ção e, se possível, a necessária empatia para estabele-
cer um diálogo de amigos. Nesta hora, os braços do
Papa se alargam para abraçar a inteira nação brasilei-
ra, na sua complexa riqueza humana, cultural e reli-
giosa. Desde a Amazônia até os pampas, dos sertões
até o Pantanal, dos vilarejos até as metrópoles, nin-
guém se sinta excluído do afeto do Papa. Depois de
amanhã, se Deus quiser, tenho em mente recordar-
-lhes todos a Nossa Senhora Aparecida, invocando
sua proteção materna sobre seus lares e famílias. Des-
de já a todos abençôo. Obrigado pelo acolhimento!

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Santa Missa na Basílica do
Santuário de Nossa Senhora da
Conceição Aparecida
Eminentíssimo Senhor Cardeal, venerados ir-
mãos no episcopado e no sacerdócio, queridos ir-
mãos e irmãs!
Quanta alegria me dá vir à casa da Mãe de cada
brasileiro, o Santuário de Nossa Senhora Apareci-
da. No dia seguinte à minha eleição como Bispo de
Roma fui visitar a Basílica de Santa Maria Maior, para
confar a Nossa Senhora o meu ministério. Hoje, eu
quis vir aqui para suplicar à Maria, nossa Mãe, o bom
êxito da Jornada Mundial da Juventude e colocar aos
seus pés a vida do povo latino-americano.
Queria dizer-lhes, primeiramente, uma coi-
sa. Neste Santuário, seis anos atrás, quando aqui
se realizou a V Conferência Geral do Episcopado
da América Latina e do Caribe, pude dar-me con-
ta pessoalmente de um fato belíssimo: ver como os
Bispos – que trabalharam sobre o tema do encontro
com Cristo, discipulado e missão – eram animados,
acompanhados e, em certo sentido, inspirados pelos

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milhares de peregrinos que vinham diariamente con-
far a sua vida a Nossa Senhora: aquela Conferência
foi um grande momento de vida de Igreja. E, de fato,
pode-se dizer que o Documento de Aparecida nas-
ceu justamente deste encontro entre os trabalhos dos
Pastores e a fé simples dos romeiros, sob a proteção
maternal de Maria. A Igreja, quando busca Cristo,
bate sempre à casa da Mãe e pede: “Mostrai-nos Je-
sus”. É de Maria que se aprende o verdadeiro disci-
pulado. E, por isso, a Igreja sai em missão sempre na
esteira de Maria.
Assim, de cara à Jornada Mundial da Juventude
que me trouxe até o Brasil, também eu venho hoje
bater à porta da casa de Maria, que amou e educou
Jesus, para que ajude a todos nós, os Pastores do Povo
de Deus, aos pais e aos educadores, a transmitir aos
nossos jovens os valores que farão deles construtores
de um País e de um mundo mais justo, solidário e
fraterno. Para tal, gostaria de chamar à atenção para
três simples posturas, três simples posturas: Conser-
var a esperança; deixar-se surpreender por Deus; vi-
ver na alegria.
1. Conservar a esperança. A segunda leitura
da Missa apresenta uma cena dramática: uma mu-
lher – fgura de Maria e da Igreja – sendo perseguida

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por um Dragão – o diabo - que quer lhe devorar o
flho. A cena, porém, não é de morte, mas de vida,
porque Deus intervém e coloca o flho a salvo (cfr.
Ap 12,13a.15-16a). Quantas difculdades na vida de
cada um, no nosso povo, nas nossas comunidades,
mas, por maiores que possam parecer, Deus nunca
deixa que sejamos submergidos. Frente ao desânimo
que poderia aparecer na vida, em quem trabalha na
evangelização ou em quem se esforça por viver a fé
como pai e mãe de família, quero dizer com força:
Tenham sempre no coração esta certeza! Deus ca-
minha a seu lado, nunca lhes deixa desamparados!
Nunca percamos a esperança! Nunca deixemos que
ela se apague nos nossos corações! O “dragão”, o mal,
faz-se presente na nossa história, mas ele não é o
mais forte. Deus é o mais forte, e Deus é a nossa es-
perança! É verdade que hoje, mais ou menos todas as
pessoas, e também os nossos jovens, experimentam o
fascínio de tantos ídolos que se colocam no lugar de
Deus e parecem dar esperança: o dinheiro, o poder,
o sucesso, o prazer. Frequentemente, uma sensação
de solidão e de vazio entra no coração de muitos e
conduz à busca de compensações, destes ídolos pas-
sageiros. Queridos irmãos e irmãs, sejamos luzeiros
de esperança! Tenhamos uma visão positiva sobre a
realidade. Encorajemos a generosidade que caracte-

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riza os jovens, acompanhando-lhes no processo de se
tornarem protagonistas da construção de um mun-
do melhor: eles são um motor potente para a Igreja
e para a sociedade. Eles não precisam só de coisas,
precisam sobretudo que lhes sejam propostos aque-
les valores imateriais que são o coração espiritual de
um povo, a memória de um povo. Neste Santuário,
que faz parte da memória do Brasil, podemos quase
que apalpá-los: espiritualidade, generosidade, solida-
riedade, perseverança, fraternidade, alegria; trata-se
de valores que encontram a sua raiz mais profunda
na fé cristã.
2. A segunda postura: Deixar-se surpreender
por Deus. Quem é homem e mulher de esperança – a
grande esperança que a fé nos dá – sabe que, mesmo
em meio às difculdades, Deus atua e nos surpreen-
de. A história deste Santuário serve de exemplo: três
pescadores, depois de um dia sem conseguir apanhar
peixes, nas águas do Rio Parnaíba, encontram algo
inesperado: uma imagem de Nossa Senhora da Con-
ceição. Quem poderia imaginar que o lugar de uma
pesca infrutífera, tornar-se-ia o lugar onde todos os
brasileiros podem se sentir flhos de uma mesma
Mãe? Deus sempre surpreende, como o vinho novo,
no Evangelho que ouvimos. Deus sempre nos reser-
va o melhor. Mas pede que nos deixemos surpreen-

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der pelo seu amor, que acolhamos as suas surpresas.
Confemos em Deus! Longe d’Ele, o vinho da alegria,
o vinho da esperança, se esgota. Se nos aproximamos
d’Ele, se permanecemos com Ele, aquilo que parece
água fria, aquilo que é difculdade, aquilo que é pe-
cado, se transforma em vinho novo de amizade com
Ele.
3. A terceira postura: Viver na alegria. Queridos
amigos, se caminhamos na esperança, deixando-nos
surpreender pelo vinho novo que Jesus nos oferece,
há alegria no nosso coração e não podemos deixar
de ser testemunhas dessa alegria. O cristão é alegre,
nunca está triste. Deus nos acompanha. Temos uma
Mãe que sempre intercede pela vida dos seus flhos,
por nós, como a rainha Ester na primeira leitura (cf.
Est 5, 3). Jesus nos mostrou que a face de Deus é a de
um Pai que nos ama. O pecado e a morte foram der-
rotados. O cristão não pode ser pessimista! Não pode
ter uma cara de quem parece num constante estado
de luto. Se estivermos verdadeiramente enamorados
de Cristo e sentirmos o quanto Ele nos ama, o nos-
so coração se “incendiará” de tal alegria que conta-
giará quem estiver ao nosso lado. Como dizia Bento

XVI, aqui neste Santu
ário: «O discípulo sabe que sem
Cristo não há luz, não há esperança, não há amor,
não há futuro” (Discurso inaugural da Conferência

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de Aparecida [13 de maio de 2007]: Insegnamenti
III/1 [2007], 861).
Queridos amigos, viemos bater à porta da casa
de Maria. Ela abriu-nos, fez-nos entrar e nos apon-
ta o seu Filho. Agora Ela nos pede: «Fazei o que Ele
vos disser» (Jo 2,5). Sim, Mãe, nos comprometemos
a fazer o que Jesus nos disser! E o faremos com espe-
rança, confantes nas surpresas de Deus e cheios de
alegria. Assim seja.

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Visita ao Hospital São Francisco de
Assis na Providência de Deus
Senhor Arcebispo do Rio de Janeiro, amados Ir-
mãos no Episcopado, distintas Autoridades, queridos
membros da Venerável Ordem Terceira de São Fran-
cisco da Penitência, prezados médicos, enfermeiros e
demais profssionais de saúde, amados jovens e fami-
liares, boa noite!
Quis Deus que meus passos, depois do Santuá-
rio de Nossa Senhora Aparecida, se dirigissem para
um particular santuário do sofrimento humano, que
é o Hospital São Francisco de Assis. É bem conheci-
da a conversão do Santo Patrono de vocês: o jovem
Francisco abandona riquezas e comodidades para
fazer-se pobre no meio dos pobres, entende que não
são as coisas, o ter, os ídolos do mundo a verdadeira
riqueza e que estes não dão a verdadeira alegria, mas
sim seguir a Cristo e servir aos demais; mas talvez
seja menos conhecido o momento em que tudo isto
se tornou concreto na sua vida: foi quando abraçou
um leproso. Aquele irmão sofredor foi «mediador de
luz (…) para São Francisco de Assis» (Carta Enc. Lu-

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men fdei, 57), porque, em cada irmão e irmã em dif-
culdade, nós abraçamos a carne sofredora de Cristo.
Hoje, neste lugar de luta contra a dependência quí-
mica, quero abraçar a cada um e cada uma de vocês
- vocês que são a carne de Cristo – e pedir a Deus que
encha de sentido e de esperança segura o caminho de
vocês e também o meu.
Abraçar, abraçar. Precisamos todos de apren-
der a abraçar quem passa necessidade, como fez São
Francisco. Há tantas situações no Brasil e no mundo
que reclamam atenção, cuidado, amor, como a luta
contra a dependência química. Frequentemente,
porém, nas nossas sociedades, o que prevalece é o
egoísmo. São tantos os “mercadores de morte” que
seguem a lógica do poder e do dinheiro a todo o cus-
to! A chaga do tráfco de drogas, que favorece a vio-
lência e que semeia a dor e a morte, exige da inteira
sociedade um ato de coragem. Não é deixando livre
o uso das drogas, como se discute em várias partes da
América Latina, que se conseguirá reduzir a difusão
e a infuência da dependência química. É necessário
enfrentar os problemas que estão na raiz do uso das
drogas, promovendo uma maior justiça, educando os
jovens para os valores que constroem a vida comum,
acompanhando quem está em difculdade e dando
esperança no futuro. Precisamos todos de olhar o

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outro com os olhos de amor de Cristo, aprender a
abraçar quem passa necessidade, para expressar soli-
dariedade, afeto e amor.
Mas abraçar não é sufciente. Estendamos a
mão a quem vive em difculdade, a quem caiu na
escuridão da dependência, talvez sem saber como,
e digamos-lhe: Você pode se levantar, pode subir; é
exigente, mas é possível se você o quiser. Queridos
amigos, queria dizer a cada um de vocês, mas sobre-
tudo a tantas outras pessoas que ainda não tiveram a
coragem de empreender o mesmo caminho de vocês:
Você é o protagonista da subida; esta é a condição
imprescindível! Você encontrará a mão estendida de
quem quer lhe ajudar, mas ninguém pode fazer a su-
bida no seu lugar. Mas vocês nunca estão sozinhos!
A Igreja e muitas pessoas estão solidárias com vo-
cês. Olhem para frente com confança; a travessia é
longa e cansativa, mas olhem para frente, existe «um
futuro certo, que se coloca numa perspectiva diferen-
te relativamente às propostas ilusórias dos ídolos do
mundo, mas que dá novo impulso e nova força à vida
de todos os dias» (Carta Encícl. Lumen fdei, 57). A
vocês todos quero repetir: Não deixem que lhes rou-
bem a esperança! Não deixem que lhes roubem a es-
perança! Mas digo também: Não roubemos a espe-

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rança, pelo contrário, tornemo-nos todos portadores
de esperança!
No Evangelho, lemos a parábola do Bom Sa-
maritano, que fala de um homem atacado por assal-
tantes e deixado quase morto ao lado da estrada. As
pessoas passam, olham, mas não param; indiferentes
seguem o seu caminho: não é problema delas! Quan-
tas vezes nós dizemos: não é um meu problema!
Quantas vezes olhamos para o outro lado e fngimos
que não vemos. Somente um samaritano, um desco-
nhecido, olha, para, levanta-o, estende-lhe a mão e
cuida dele (cf. Lc 10, 29-35). Queridos amigos, penso
que aqui, neste Hospital, se concretiza a parábola do
Bom Samaritano. Aqui não há indiferença, mas soli-
citude. Não há desinteresse, mas amor. A Associação
São Francisco e a Rede de Tratamento da Dependên-
cia Química ensinam a se debruçar sobre quem passa
por difculdades porque veem nestas pessoas a face
de Cristo, porque nelas está a carne de Cristo que
sofre. Obrigado a todo pessoal do serviço médico e
auxiliar aqui empenhado! O serviço de vocês é pre-
cioso! Realizem-no sempre com amor; é um serviço
feito a Cristo presente nos irmãos: «Todas as vezes
que fzestes isso a um destes mais pequenos, que são
meus irmãos, foi a mim que o fzestes» (Mt 25, 40),
diz-nos Jesus.

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E quero repetir a todos vocês que lutam contra
a dependência química, a vocês familiares que têm
uma tarefa que nem sempre é fácil: a Igreja não está
longe dos esforços que vocês fazem, Ela lhes acom-
panha com carinho. O Senhor está ao lado de vocês e
lhes conduz pela mão. Olhem para Ele nos momen-
tos mais duros e Ele lhes dará consolação e esperança.
E confem também no amor materno de Maria, sua
Mãe. Esta manhã, no Santuário da Aparecida, con-
fei cada um de vocês ao seu coração. Onde tivermos
uma cruz para carregar, ao nosso lado sempre está
Ela, nossa Mãe. Deixo-lhes em suas mãos, enquanto,
afetuosamente, a todos abençôo. Obrigado!

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Encontro com os jovens 
argentinos na Catedral
Metropolitana
Obrigado! Obrigado pela presença! Obrigado
por terem vindo! Obrigado àqueles que estão cá den-
tro! E muito obrigado àqueles que fcaram lá fora, aos
trinta mil – dizem-me – que estão lá fora. Lhes saúdo
daqui. Estão à chuva… Obrigado pelo gesto de virem
ter comigo, obrigado por terem vindo à Jornada da
Juventude. Eu tinha sugerido ao Doutor Gasbarri –
que é a pessoa que gere, que organiza a viagem – que
encontrasse um lugarzinho para um encontro com
vocês e, em metade de um dia, arranjou tudo. Quero
agradecer publicamente ao Doutor Gasbarri também
por isso que ele conseguiu fazer hoje.
Desejo dizer-lhes qual é a conseqüência que eu
espero da Jornada da Juventude: espero que façam
barulho. Aqui farão barulho, sem dúvida. Aqui, no
Rio, farão barulho, farão certamente. Mas eu quero
que se façam ouvir também nas dioceses, quero que
saiam, quero que a Igreja saia pelas estradas, quero
que nos defendamos de tudo o que é mundanismo,

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imobilismo, nos defendamos do que é comodidade,
do que é clericalismo, de tudo aquilo que é viver fe-
chados em nós mesmos. As paróquias, as escolas, as
instituições são feitas para sair; se não o fzerem, tor-
nam-se uma ONG e a Igreja não pode ser uma ONG.
Que me perdoem os Bispos e os sacerdotes, se alguns
depois lhes criarem confusão. Mas este é o meu con-
selho. Obrigado pelo que vocês puderem fazer.
Olhem! Eu penso que, neste momento, a civili-
zação mundial ultrapassou os limites, ultrapassou os
limites porque criou um tal culto do deus dinheiro,
que estamos na presença de uma flosofa e uma prá-
tica de exclusão dos dois pólos da vida que consti-
tuem as promessas dos povos. A exclusão dos idosos,
obviamente: alguém poderia ser levado a pensar que
nisso exista, oculta, uma espécie de eutanásia, isto é,
não se cuida dos idosos; mas há também uma euta-
násia cultural, porque não se lhes deixa falar, não se
lhes deixa agir. E a exclusão dos jovens: a percenta-
gem que temos de jovens sem trabalho, sem empre-
go, é muito alta e temos uma geração que não tem
experiência da dignidade ganha com o trabalho. As-
sim, esta civilização nos levou a excluir os dois vérti-
ces que são o nosso futuro. Por isso os jovens devem
irromper, devem fazer-se valer; os jovens devem sair
para lutar pelos valores, lutar por estes valores; e os

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idosos devem tomar a palavra, os idosos devem to-
mar a palavra e ensinar-nos! Que eles nos transmi-
tam a sabedoria dos povos!
Pensando ao povo argentino, de coração sincero
peço aos idosos: não esmoreçam na missão de ser a
reserva cultura do nosso povo; reserva que transmite
a justiça, que transmite a história, que transmite os
valores, que transmite a memória do povo. E vocês,
por favor, não se ponham contra os idosos: deixem-
-nos falar, ouçam-nos e sigam em frente. Mas sai-
bam, saibam que neste momento vocês, jovens, e os
idosos estão condenados ao mesmo destino: a exclu-
são. Não se deixem descartar. Claro, para isso acho
que vocês devem trabalhar. A fé em Jesus Cristo não
é uma brincadeira; é uma coisa muito séria. É um
escândalo que Deus tenha vindo fazer-se um de nós.
É um escândalo que Ele tenha morrido numa cruz.
É um escândalo: o escândalo da Cruz. A Cruz con-
tinua a escandalizar; mas é o único caminho seguro:
o da Cruz, o de Jesus, o da Encarnação de Jesus. Por
favor, não “espremam” a fé em Jesus Cristo. Há a es-
premedura de laranja, há a espremedura de maçã, há
a espremedura de banana, mas, por favor, não bebam
“espremedura” de fé. A fé é integral, não se espreme.
É a fé em Jesus. É a fé no Filho de Deus feito ho-
mem, que me amou e morreu por mim. Resumindo:

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primeiro, façam-se ouvir, cuidem dos extremos da
população que são os idosos e os jovens. Não se dei-
xem excluir e não deixem que se excluam os idosos.
Segundo, não “espremam” a fé em Jesus Cristo. Com
as Bem-aventuranças… que devemos fazer, Padre?
Olhe! Você leia as Bem-aventuranças, que lhe farão
bem. Se, depois, você quer saber concretamente o
que deve fazer, leia o capítulo 25 de Mateus, que é
o regulamento segundo o qual vamos ser julgados.
Com essas duas coisas, vocês têm o Plano de Ação: as
Bem-aventuranças e Mateus 25. Você não precisam
ler mais. Isso lhes peço de todo o coração. Está bem?
Obrigado por essa unidade. Tenho pena que vocês
estejam aí enjaulados; eu lhes digo uma coisa: às ve-
zes também eu sinto isso; e não é uma boa coisa estar
enjaulado. Isso lhes confesso de coração, mas paciên-
cia! Eu entendo vocês. Também eu gostaria de estar
mais perto de vocês, mas entendo que, por razões de
segurança, não se pode. Obrigado por terem vindo!
Obrigado por rezarem por mim! Isto lhes peço de
coração. Preciso. Eu preciso de suas orações, tenho
tanta necessidade. Obrigado por isso! Bem! Eu quero
lhes dar a Bênção e, depois, benzeremos a imagem
da Virgem que vai percorrer toda a República… e a
cruz de São Francisco; viajarão em missão. Mas não
esqueçam! Façam-se ouvir; cuidem dos dois extre-

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mos da vida: os dois extremos da história dos povos
que são os idosos e os jovens; e não “espremam” a fé.
E agora façamos uma oração para benzer a imagem
da Virgem e, em seguida, dar-lhes a Bênção.
Pomo-nos de pé para a Bênção, mas antes quero
agradecer as palavras que disse-me Dom Arancedo,
porque, como verdadeiro mal-educado, não lhe agra-
deci. Portanto, obrigado pelas suas palavras!
 ORAÇÃO
Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
Ave Maria...
Senhor, Tu deixaste no meio de nós tua Mãe
para que nos acompanhasse.
Que Ela cuide de nós e nos proteja o nosso ca-
minho, o nosso coração, a nossa fé.
Que nos faça discípulos como Ela o foi, e mis-
sionários como Ela o foi também.
Que nos ensine a sair pelas estradas.
Que nos ensine a sair de nós mesmos.

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Benzemos esta imagem, Senhor, que vai percor-
rer o país.
Que Ela, com a sua mansidão, a sua paz, nos in-
dique o caminho.
Senhor, Tu és um escândalo! Tu és um escânda-
lo: o escândalo da Cruz. Uma Cruz que é humildade,
mansidão; uma Cruz que nos fala da proximidade de
Deus. Benzemos também esta imagem da Cruz que
percorrerá o país.
Muito obrigado! Vemo-nos nestes dias.
Que Deus lhes abençoe. Rezem por mim. Não se
esqueçam!

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Visita à Comunidade
da Varginha em Manguinhos
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Que bom poder estar com vocês aqui! Que
bom! Desde o início, quando planejava a minha visi-
ta ao Brasil, o meu desejo era poder visitar todos os
bairros deste País. Queria bater em cada porta, dizer
“bom dia”, pedir um copo de água fresca, beber um
“cafezinho” - não um copo de cachaça! - falar como
a amigos de casa, ouvir o coração de cada um, dos
pais, dos flhos, dos avós... Mas o Brasil é tão gran-
de! Não é possível bater em todas as portas! Então
escolhi vir aqui, visitar a Comunidade de vocês; esta
comunidade, que hoje representa todos os bairros do
Brasil. Como é bom ser bem acolhido, com amor, ge-
nerosidade, alegria! Basta ver como vocês decoraram
as ruas da Comunidade; isso é também um sinal do
carinho que nasce do coração de vocês, do coração
dos brasileiros, que está em festa! Muito obrigado a
cada um de vocês pela linda acolhida! Agradeço ao
casal Rangler e Joanapelas suas belas palavras.
1. Desde o primeiro instante em que toquei as

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terras brasileiras e também aqui junto de vocês, me
sinto acolhido. E é importante saber acolher; é algo
mais bonito que qualquer enfeite ou decoração. Isso
é assim porque quando somos generosos acolhendo
uma pessoa e partilhamos algo com ela – um pouco
de comida, um lugar na nossa casa, o nosso tempo
- não fcamos mais pobres, mas enriquecemos. Sei
bem que quando alguém que precisa comer bate na
sua porta, vocês sempre dão um jeito de comparti-
lhar a comida: como diz o ditado, sempre se pode
“colocar mais água no feijão”! Se pode colocar mais
água no feijão? … Sempre? ... E vocês fazem isto com
amor, mostrando que a verdadeira riqueza não está
nas coisas, mas no coração!
E o povo brasileiro, sobretudo as pessoas mais
simples, pode dar para o mundo uma grande lição de
solidariedade, que é uma palavra – esta palavra soli-
dariedade – é uma palavra frequentemente esquecida
ou silenciada, porque é incômoda. Quase parece um
palavrão… solidariedade! Queria lançar um apelo a
todos os que possuem mais recursos, às autoridades
públicas e a todas as pessoas de boa vontade com-
prometidas com a justiça social: Não se cansem de
trabalhar por um mundo mais justo e mais solidário!
Ninguém pode permanecer insensível às desigualda-
des que ainda existem no mundo! Cada um, na me-

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dida das próprias possibilidades e responsabilidades,
saiba dar a sua contribuição para acabar com tantas
injustiças sociais! Não é, não é a cultura do egoís-
mo, do individualismo, que frequentemente regula a
nossa sociedade, aquela que constrói e conduz a um
mundo mais habitável; não é ela, mas sim a cultura
da solidariedade; a cultura da solidariedade é ver no
outro não um concorrente ou um número, mas um
irmão. E todos nós somos irmãos!
Quero encorajar os esforços que a sociedade
brasileira tem feito para integrar todas as partes do
seu corpo, incluindo as mais sofridas e necessitadas,
através do combate à fome e à miséria. Nenhum esfor-
ço de “pacifcação” será duradouro, não haverá har-
monia e felicidade para uma sociedade que ignora,
que deixa à margem, que abandona na periferia par-
te de si mesma. Uma sociedade assim simplesmente
empobrece a si mesma; antes, perde algo de essencial
para si mesma. Não deixemos, não deixemos entrar
no nosso coração a cultura do descartável! Não dei-
xemos entrar no nosso coração a cultura do descar-
tável, porque nós somos irmãos. Ninguém é descar-
tável! Lembremo-nos sempre: somente quando se é
capaz de compartilhar é que se enriquece de verdade;
tudo aquilo que se compartilha se multiplica! Pense-
mos na multiplicação dos pães de Jesus! A medida da

32
grandeza de uma sociedade é dada pelo modo como
esta trata os mais necessitados, quem não tem outra
coisa senão a sua pobreza!
2. Queria dizer-lhes também que a Igreja, «ad-
vogada da justiça e defensora dos pobres diante das
intoleráveis desigualdades sociais e econômicas, que
clamam ao céu» (Documento de Aparecida, 395),
deseja oferecer a sua colaboração em todas as inicia-
tivas que signifquem um autêntico desenvolvimento
do homem todo e de todo o homem. Queridos ami-
gos, certamente é necessário dar o pão a quem tem
fome; é um ato de justiça. Mas existe também uma
fome mais profunda, a fome de uma felicidade que só
Deus pode saciar. Fome de dignidade. Não existe ver-
dadeira promoção do bem-comum, nem verdadeiro
desenvolvimento do homem, quando se ignoram os
pilares fundamentais que sustentam uma nação, os
seus bens imateriais: a vida, que é dom de Deus, um
valor que deve ser sempre tutelado e promovido; a fa-
mília, fundamento da convivência e remédio contra
a desagregação social; a educação integral, que não
se reduz a uma simples transmissão de informações
com o fm de gerar lucro; a saúde, que deve buscar o
bem-estar integral da pessoa, incluindo a dimensão
espiritual, que é essencial para o equilíbrio humano e
uma convivência saudável; a segurança, na convicção

33
de que a violência só pode ser vencida a partir da
mudança do coração humano.
3. Queria dizer uma última coisa, uma última
coisa. Aqui, como em todo o Brasil, há muitos jovens.
Hein, jovens! Vocês, queridos jovens, possuem uma
sensibilidade especial frente às injustiças, mas muitas
vezes se desiludem com notícias que falam de cor-
rupção, com pessoas que, em vez de buscar o bem
comum, procuram o seu próprio benefício. Também
para vocês e para todas as pessoas repito: nunca desa-
nimem, não percam a confança, não deixem que se
apague a esperança. A realidade pode mudar, o ho-
mem pode mudar. Procurem ser vocês os primeiros
a praticar o bem, a não se acostumarem ao mal, mas
a vencê-lo com o bem. A Igreja está ao lado de vocês,
trazendo-lhes o bem precioso da fé, de Jesus Cris-
to, que veio «para que todos tenham vida, e vida em
abundância» (Jo 10,10).
Hoje a todos vocês, especialmente aos mora-
dores dessa Comunidade de Varginha, quero dizer:
Vocês não estão sozinhos, a Igreja está com vocês, o
Papa está com vocês. Levo a cada um no meu cora-
ção e faço minhas as intenções que vocês carregam
no seu íntimo: os agradecimentos pelas alegrias, os
pedidos de ajuda nas difculdades, o desejo de conso-

34
lação nos momentos de tristeza e sofrimento. Tudo
isso confo à intercessão de Nossa Senhora Apareci-
da, Mãe de todos os pobres do Brasil, e com grande
carinho lhes concedo a minha Bênção. Obrigado!

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Festa de Acolhida dos jovens
na Praia de Copacabana
Jovens amigos,
«É bom estarmos aqui!»: exclamou Pedro, de-
pois de ter visto o Senhor Jesus transfgurado, reves-
tido de glória. Queremos também nós repetir estas
palavras? Penso que sim, porque para todos nós,
hoje, é bom estar aqui juntos unidos em torno de Je-
sus! É Ele que nos acolhe e se faz presente em meio a
nós, aqui no Rio. Mas, no Evangelho, escutamos tam-
bém as palavras de Deus Pai: «Este é o meu Filho, o
Eleito. Escutai-O!» (Lc 9, 35). Então, se por um lado
é Jesus quem nos acolhe, por outro também nós de-
vemos acolhê-lo, fcar à escuta da sua palavra, pois é
justamente acolhendo a Jesus Cristo, Palavra encar-
nada, que o Espírito Santo nos transforma, ilumina
o caminho do futuro e faz crescer em nós as asas da
esperança para caminharmos com alegria (cf. Carta
enc. Lumen fdei, 7).
Mas o que podemos fazer? «Bote fé». A cruz da
Jornada Mundial da Juventude peregrinou através do
Brasil inteiro com este apelo. «Bote fé»: o que signi-

36
fca? Quando se prepara um bom prato e vê que fal-
ta o sal, você então “bota” o sal; falta o azeite, então
«bota» o azeite... «Botar», ou seja, colocar, derramar.
É assim também na nossa vida, queridos jovens: se
queremos que ela tenha realmente sentido e pleni-
tude, como vocês mesmos desejam e merecem, digo
a cada um e a cada uma de vocês: «bote fé» e a vida
terá um sabor novo, terá uma bússola que indica a
direção; «bote esperança» e todos os seus dias serão
iluminados e o seu horizonte já não será escuro, mas
luminoso; «bote amor» e a sua existência será como
uma casa construída sobre a rocha, o seu caminho
será alegre, porque encontrará muitos amigos que
caminham com você. «Bote fé», «bote esperança»,
«bote amor»!
Mas quem pode nos dar tudo isso? No Evange-
lho, escutamos a resposta: Cristo. «Este é o meu Fi-
lho, o Eleito. Escutai-O»! Jesus é Aquele que nos traz
a Deus e que nos leva a Deus; com Ele toda a nossa
vida se transforma, se renova e nós podemos olhar a
realidade com novos olhos, «a partir da perspectiva
de Jesus e com os seus olhos» (Lumen fdei, 18). Por
isso, hoje, lhes digo com força: «Bote Cristo» na sua
vida, e você encontrará um amigo em quem sempre
confar; «bote Cristo», e você verá crescer as asas da
esperança para percorrer com alegria o caminho do

37
futuro; «bote Cristo» e a sua vida fcará cheia do seu
amor, será uma vida fecunda.
Hoje, queria que nos perguntássemos com sin-
ceridade: em quem depositamos a nossa confança?
Em nós mesmos, nas coisas, ou em Jesus? Sentimo-
-nos tentados a colocar a nós mesmos no centro, a
crer que somos somente nós que construímos a nos-
sa vida, ou que ela se encha de felicidade com o pos-
suir, com o dinheiro, com o poder. Mas não é assim!
É verdade, o ter, o dinheiro, o poder podem gerar um
momento de embriaguez, a ilusão de ser feliz, mas,
no fm de contas, são eles que nos possuem e nos le-
vam a querer ter sempre mais, a nunca estar saciados.
«Bote Cristo» na sua vida, deposite n’Ele a sua con-
fança e você nunca se decepcionará! Vejam, queri-
dos amigos, a fé realiza na nossa vida uma revolução
que podíamos chamar copernicana, porque nos tira
do centro e o restitui a Deus; a fé nos imerge no seu
amor que nos dá segurança, força, esperança. Apa-
rentemente não muda nada, mas, no mais íntimo de
nós mesmos, tudo muda. No nosso coração, habita a
paz, a mansidão, a ternura, a coragem, a serenidade
e a alegria, que são os frutos do Espírito Santo (cf.
Gl 5, 22) e a nossa existência se transforma, o nosso
modo de pensar e agir se renova, torna-se o modo de
pensar e de agir de Jesus, de Deus. No Ano da Fé, esta

38
Jornada Mundial da Juventude é justamente um dom
que nos é oferecido para fcarmos ainda mais perto
de Jesus, para ser seus discípulos e seus missionários,
para deixar que Ele renove a nossa vida.
Querido jovem: «bote Cristo» na sua vida. Nes-
tes dias, Ele lhe espera na Palavra; escute-O com aten-
ção e o seu coração será infamado pela sua presença;
«Bote Cristo: Ele lhe acolhe no Sacramento do per-
dão, para curar, com a sua misericórdia, as feridas do
pecado. Não tenham medo de pedir perdão a Deus.
Ele nunca se cansa de nos perdoar, como um pai que
nos ama. Deus é pura misericórdia! «Bote Cristo: Ele
lhe espera no encontro com a sua Carne na Eucaris-
tia, Sacramento da sua presença, do seu sacrifício de
amor, e na humanidade de tantos jovens que vão lhe
enriquecer com a sua amizade, lhe encorajar com o
seu testemunho de fé, lhe ensinar a linguagem da ca-
ridade, da bondade, do serviço. Você também, queri-
do jovem, pode ser uma testemunha jubilosa do seu
amor, uma testemunha corajosa do seu Evangelho
para levar a este nosso mundo um pouco de luz.
«É bom estarmos aqui», botando Cristo na nos-
sa vida, botando a fé, a esperança, o amor que Ele nos
dá. Queridos amigos, nesta celebração acolhemos a

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imagem de Nossa Senhora Aparecida. Com Maria,
queremos ser discípulos e missionários. Como Ela,
queremos dizer «sim» a Deus. Peçamos ao seu cora-
ção de mãe que interceda por nós, para que os nos-
sos corações estejam disponíveis para amar a Jesus e
fazê-lo amar. Queridos jovens, Jesus está esperando
por nós e conta conosco! Amém.

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Oração do Angelus Domini
do balcão central do Palácio
Arquiepiscopal São Joaquim
Caríssimos irmãos e amigos, bom dia!
Dou graças à divina Providência por ter guiado
meus passos até aqui, na cidade de São Sebastião do
Rio de Janeiro. Agradeço de coração sincero a Dom
Orani e também a vocês pelo acolhimento caloroso,
com que manifestam seu carinho pelo Sucessor de
Pedro. Desejaria que a minha passagem por esta ci-
dade do Rio renovasse em todos o amor a Cristo e à
Igreja, a alegria de estar unidos a Ele e de pertencer a
Igreja e o compromisso de viver e testemunhar a fé.
Uma belíssima expressão da fé do povo é a
“Hora da Ave Maria”. É uma oração simples que se
reza nos três momentos característicos da jornada
que marcam o ritmo da nossa atividade quotidiana:
de manhã, ao meio-dia e ao anoitecer. É, porém, uma
oração importante; convido a todos a rezá-la com a
Ave Maria. Lembra-nos de um acontecimento lumi-
noso que transformou a história: a Encarnação, o Fi-
lho de Deus se fez homem em Jesus de Nazaré.

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Hoje a Igreja celebra os pais da Virgem Maria,
os avós de Jesus: São Joaquim e Sant’Ana. Na casa de-
les, veio ao mundo Maria, trazendo consigo aquele
mistério extraordinário da Imaculada Conceição; na
casa deles, cresceu, acompanhada pelo seu amor e
pela sua fé; na casa deles, aprendeu a escutar o Se-
nhor e seguir a sua vontade. São Joaquim e Sant’Ana
fazem parte de uma longa corrente que transmitiu
a fé e o amor a Deus, no calor da família, até Maria,
que acolheu em seu seio o Filho de Deus e o ofereceu
ao mundo, ofereceu-o a nós. Vemos aqui o valor pre-
cioso da família como lugar privilegiado para trans-
mitir a fé! Olhando para o ambiente familiar, queria
destacar uma coisa: hoje, na festa de São Joaquim e
Sant’Ana, no Brasil como em outros países, se cele-
bra a festa dos avós. Como os avós são importantes
na vida da família, para comunicar o patrimônio de
humanidade e de fé que é essencial para qualquer so-
ciedade! E como é importante o encontro e o diálogo
entre as gerações, principalmente dentro da família.
O Documento de Aparecida nos recorda: “Crianças
e anciãos constroem o futuro dos povos; as crianças
porque levarão por adiante a história, os anciãos por-
que transmitem a experiência e a sabedoria de suas
vidas” (Documento de Aparecida, 447). Esta rela-
ção, este diálogo entre as gerações é um tesouro que

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deve ser conservado e alimentado! Nesta Jornada
Mundial da Juventude, os jovens querem saudar os
avós. Eles saúdam os seus avós com muito carinho.
Aos avós. Saudamos os avós. Eles, os jovens, saúdam
os seus avós com muito carinho e lhes agradecem
pelo testemunho de sabedoria que nos oferecem
continuamente.
E agora, nesta praça, nas ruas adjacentes, nas
casas que acompanham conosco este momento de
oração, sintamo-nos como uma única grande família
e nos dirijamos a Maria para que guarde as nossas
famílias, faça delas lares de fé e de amor, onde se sinta
a presença do seu Filho Jesus.

43
Via-Sacra com os jovens
na Praia de Copacabana
Queridos jovens,
Viemos hoje acompanhar Jesus no seu caminho
de dor e de amor, o caminho da Cruz, que é um dos
momentos fortes da Jornada Mundial da Juventude.
No fnal do Ano Santo da Redenção, o bem-aven-
turado João Paulo II quis confá-la a vocês, jovens,
dizendo-lhes: “Levai-a pelo mundo, como sinal do
amor de Jesus pela humanidade e anunciai a todos
que só em Cristo morto e ressuscitado há salvação e
redenção.”
A partir de então a cruz percorreu todos os con-
tinentes e atravessou os mais variados mundos da
existência humana, fcando quase que impregnada
com as situações de vida de tantos jovens que a viram
e carregaram. Ninguém pode tocar a cruz de Jesus
sem deixar algo de si mesmo nela e sem trazer algo
da cruz de Jesus para sua própria vida. Nesta tarde,
acompanhando o Senhor, queria que ressoassem três
perguntas nos seus corações: O que vocês terão dei-
xado na cruz, queridos jovens brasileiros, nestes dois

44
anos em que ela atravessou seu imenso País? E o que
terá deixado a cruz de Jesus em cada um de vocês? E,
fnalmente, o que esta cruz ensina para a nossa vida?
Uma antiga tradição da Igreja de Roma conta
que o apóstolo Pedro, saindo da cidade para fugir da
perseguição do imperador Nero, viu que Jesus cami-
nhava na direção oposta e, admirado, lhe perguntou:
“Para onde vais, Senhor?”. E a resposta de Jesus foi:
“Vou a Roma para ser crucifcado outra vez”. Naquele
momento, Pedro entendeu que devia seguir o Senhor
com coragem até o fm, mas entendeu sobretudo que
nunca estava sozinho no caminho; com ele, sempre
estava aquele Jesus que o amara até o ponto de mor-
rer na cruz.
Pois bem, Jesus com a sua cruz atravessa os
nossos caminhos para carregar os nossos medos, os
nossos problemas, os nossos sofrimentos, mesmo os
mais profundos. Com a cruz, Jesus se une ao silêncio
das vítimas da violência, que já não podem clamar,
sobretudo os inocentes e indefesos; nela Jesus se une
às famílias que passam por difculdades, que choram
a perda de seus flhos, ou que sofrem vendo-os presas
de paraísos artifciais como a droga; nela Jesus se une
a todas as pessoas que passam fome, num mundo
que todos os dias joga fora toneladas de comida; nela

45
Jesus se une a quem é perseguido pela religião, pelas
ideias, ou simplesmente pela cor da pele; nela Jesus
se une a tantos jovens que perderam a confança nas
instituições políticas, por verem egoísmo e corrup-
ção, ou que perderam a fé na Igreja, e até mesmo em
Deus, pela incoerência de cristãos e de ministros do
Evangelho.
Na cruz de Cristo está o sofrimento, o pecado
do homem, o nosso também, e Ele acolhe tudo com
seus braços abertos, carrega nas suas costas as nossas
cruzes e nos diz: Coragem! Você não está sozinho a
levá-la! Eu a levo com você. Eu venci a morte e vim
para lhe dar esperança, dar-lhe vida.
E assim podemos responder à segunda pergun-
ta: o que foi que a cruz deixou naqueles que a viram,
naqueles que a tocaram? O que deixa em cada um de
nós? Deixa um bem que ninguém mais pode nos dar:
a certeza do amor inabalável de Deus por nós. Um
amor tão grande que entra no nosso pecado e o per-
doa, entra no nosso sofrimento e nos dá a força para
poder levá-lo, entra também na morte para derrotá-
-la e nos salvar. Na cruz de Cristo, está todo o amor
de Deus, a sua imensa misericórdia. E este é um amor
em que podemos confar, em que podemos crer. Que-
ridos jovens, confemos em Jesus, abandonemo-nos

46
totalmente a Ele! Só em Cristo morto e ressuscitado
encontramos salvação e redenção. Com Ele, o mal, o
sofrimento e a morte não têm a última palavra, por-
que Ele nos dá a esperança e a vida: transformou a
cruz, de instrumento de ódio, de derrota, de morte,
em sinal de amor, de vitória e de vida.
O primeiro nome dado ao Brasil foi justamente
o de “Terra de Santa Cruz”. A cruz de Cristo foi plan-
tada não só na praia, há mais de cinco séculos, mas
também na história, no coração e na vida do povo
brasileiro e não só: o Cristo sofredor, sentimo-lo pró-
ximo, como um de nós que compartilha o nosso ca-
minho até o fnal. Não há cruz, pequena ou grande,
da nossa vida que o Senhor não venha compartilhar
conosco.
Mas a Cruz de Cristo também nos convida
a deixar-nos contagiar por este amor; ensina-nos,
pois, a olhar sempre para o outro com misericórdia
e amor, sobretudo quem sofre, quem tem necessi-
dade de ajuda, quem espera uma palavra, um gesto;
ensina-nos a sair de nós mesmos para ir ao encontro
destas pessoas e lhes estender a mão. Tantos rostos
acompanharam Jesus no seu caminho até a Cruz: Pi-
latos, o Cirineu, Maria, as mulheres...
Também nós diante dos demais podemos ser

47
como Pilatos que não teve a coragem de ir contra
a corrente para salvar a vida de Jesus, lavando-se as
mãos. Queridos amigos, a cruz de Cristo nos ensina
a ser como o Cirineu, que ajuda Jesus levar aquele
madeiro pesado, como Maria e as outras mulheres,
que não tiveram medo de acompanhar Jesus até o f-
nal, com amor, com ternura. E você como é? Como
Pilatos, como o Cirineu, como Maria?
Queridos jovens, levamos as nossas alegrias, os
nossos sofrimentos, os nossos fracassos para a cruz
de Cristo; encontraremos um coração aberto que nos
compreende, perdoa, ama e pede para levar este mes-
mo amor para a nossa vida, para amar cada irmão e
irmã com este mesmo amor. Assim seja!

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Santa Missa com os Bispos da
XXVIII JMJ e com os Sacerdotes,
os Religiosos e os Seminaristas na
Catedral de São Sebastião
Amados Irmãos em Cristo,
Vendo esta catedral lotada com Bispos, sacer-
dotes, seminaristas, religiosos e religiosas vindos
do mundo inteiro, penso nas palavras do Salmo da
Missa de hoje: “Que as nações vos glorifiquem, ó Se-
nhor” (Sl 66).
Sim, estamos aqui reunidos para glorifcar o
Senhor; e o fazemos reafrmando a nossa vontade
de sermos seus instrumentos, para que não somen-
te algumas nações mas todas glorifquem o Senhor.
Com a mesma paresia --coragem, ousadia-- de Paulo
e Barnabé, anunciemos o Evangelho aos nossos jo-
vens para que encontrem Cristo, luz para o caminho,
e se tornem construtores de um mundo mais frater-
no. Neste sentido, queria refetir com vocês sobre três
aspectos da nossa vocação: chamados por Deus; cha-
mados para anunciar o Evangelho; chamados a pro-
mover a cultura do encontro.

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1. Chamados por Deus. É importante reavivar
em nós esta realidade que, frequentemente, damos
por descontada em meio a tantas atividades do dia a
dia: “Não fostes vós que me escolhestes, mas eu que
vos escolhi”, diz-nos Jesus (Jo 15,16).Signifca retor-
nar à fonte da nossa chamada.
No início de nosso caminho vocacional, há uma
eleição divina. Fomos chamados por Deus, e chama-
dos para permanecer com Jesus (cf. Mc 3, 14), unidos
a Ele de um modo tão profundo que nos permite di-
zer com São Paulo: “Eu vivo, mas não eu, é Cristo que
vive em mim” (Gal 2, 20). Este viver em Cristo con-
fgura realmente tudo aquilo que somos e fazemos.
E esta “vida em Cristo” é justamente o que ga-
rante a nossa efcácia apostólica, a fecundidade do
nosso serviço: ‘Eu vos designei para irdes e para
que produzais fruto e o vosso fruto permaneça” (Jo
15,16). Não é a criatividade pastoral, não são as reu-
niões ou planejamentos que garantem os frutos, mas
ser fel a Jesus, que nos diz com insistência: “Perma-
necei em mim, e eu permanecerei em vós” (Jo 15, 4).
E nós sabemos bem o que isso signifca: Con-
templá-lo, adorá-lo e abraçá-lo, particularmente
através da nossa fidelidade à vida de oração, do nos-
so encontro diário com Ele presente na Eucaristia e

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nas pessoas mais necessitadas. O “permanecer” com
Cristo não é se isolar, mas é um permanecer para ir
ao encontro dos demais. Vem-me à cabeça umas pa-
lavras da Bem-aventurada Madre Teresa de Calcutá:
“Devemos estar muito orgulhosas da nossa vocação,
que nos dá a oportunidade de servir Cristo nos po-
bres. É nas favelas, nos ‘cantegriles’ nas Villas miséria,
que nós devemos ir procurar e servir a Cristo. Deve-
mos ir até eles como o sacerdote se aproxima do altar,
cheio de alegria” (Mother Instructions, I, p.80). Jesus,
Bom Pastor, é o nosso verdadeiro tesouro; procure-
mos fxar sempre mais n’Ele o nosso coração (cf. Lc
12, 34).
2. Chamados para anunciar o Evangelho. Que-
ridos bispos e sacerdotes, muitos de vocês, senão to-
dos, vieram acompanhar seus jovens à Jornada Mun-
dial. Eles também ouviram as palavras do mandato
de Jesus: “Ide e fazei discípulos entre todas as nações’
(cf. Mt 28,19). É nosso compromisso ajudá-los a fa-
zer arder, no seu coração, o desejo de serem discípu-
los missionários de Jesus. Certamente muitos, diante
desse convite, poderiam sentir-se um pouco atemo-
rizados, imaginando que ser missionário signifca
deixar necessariamente o País, a família e os amigos.
Recordo o meu sonho da juventude: partir

51
missionário para o longínquo Japão. Mas Deus me
mostrou que o meu território de missão estava mui-
to mais perto: na minha pátria. Ajudemos os jovens
a perceberem que ser discípulo missionário é uma
consequência de ser batizado, é parte essencial do ser
cristão, e que o primeiro lugar onde evangelizar é a
própria casa, o ambiente de estudo ou de trabalho, a
família e os amigos. Não poupemos forças na forma-
ção da juventude! São Paulo usa uma bela expressão,
que se tornou realidade na sua vida, dirigindo-se aos
seus cristãos: “Meus flhos, por vós sinto de novo as
dores do parto até Cristo ser formado em vós” (Gal
4, 19).
Também nós façamos que isso se torne realida-
de no nosso ministério! Ajudemos os nossos jovens
a descobrir a coragem e a alegria da fé, a alegria de
ser pessoalmente amados por Deus, que deu o seu
Filho Jesus para nossa salvação. Eduquemo-los para
a missão, para sair, para partir. Jesus fez assim com
os seus discípulos: não os manteve colados a si, como
uma galinha com os seus pintinhos; Ele os enviou!
Não podemos ficaram encerrados na paróquia, nas nos-
sas comunidades, quando há tanta gente esperando
o Evangelho! Não se trata simplesmente de abrir a
porta para acolher, mas de sair pela porta fora para
procurar e encontrar.

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Decididamente pensemos a pastoral a partir da
periferia, daqueles que estão mais afastados, daque-
les que habitualmente não frequentam a paróquia.
Também eles são convidados para a Mesa do Senhor.
3. Chamados a promover a cultura do encontro.
Em muitos ambientes, infelizmente, ganhou espaço
a cultura da exclusão, a “cultura do descartável”. Não
há lugar para o idoso, nem para o filho indesejado;
não há tempo para se deter com o pobre caído à mar-
gem da estrada. Às vezes parece que, para alguns, as
relações humanas sejam regidas por dois “dogmas”
modernos: eficiência e pragmatismo. Queridos Bis-
pos, sacerdotes, religiosos e também vocês, semina-
ristas, que se preparam para o ministério, tenham a
coragem de ir contra a corrente. Não renunciemos a
este dom de Deus: a única família dos seus filhos. O
encontro e o acolhimento de todos, a solidariedade e
a fraternidade são os elementos que tornam a nossa
civilização verdadeiramente humana.