Pinturas e colagens de artista paraense invadem os Estados Unidos



A "bagunça hereditária" da paraense Paula Sefer ganhou as paredes de uma galeria no bairro de West Village, em Manhattan, distrito de Nova Iorque. No estilo de uma apresentação à la região Norte do Brasil, a artista se utiliza de cores, pinturas e colagens para retratar o lugar de origem: a Amazônia pura, plural, bela e por vezes cercada de rótulos, mitos e ideias preconceituosas sobre quem é e como é ser um amazônida.
Com abertura nesta sexta-feira, 1, às 18h, a exposição Heritage(M)ess segue aberta à visitação até o dia 7 de novembro, na New York Studio School of Drawing, Painting and Sculpture (NYSS), das 9h às 20h. A entrada é franca.
Em uma conversa breve, é possível perceber o estilo leve e jovial de Sefer, que soma a vivência em uma megalópole norte-americana com a experiência de vida em uma capital da Amazônia brasileira como Belém. Para a jovem artista, a mostra é uma forma de reforçar as origens, em um momento conflituoso de mistura de culturas tão diferentes e singulares. "Minha proposta é retratar, por meio de pinturas e colagens, o lugar onde nasci e o meu conflito interno de manter meu patrimônio hereditário vivo dentro de mim", explica.
Sefer conta ainda que a ideia da mostra surgiu de algo que descreve como uma "urgência" que tem em nunca esquecer de onde veio ou de quem é enquanto ser humano, cidadã, mulher e profissional. Desta maneira, em uma tentativa de não esquecer de si, a artista fez da arte um auto-lembrete cultural e hereditário, onde também mostra um retrato de uma realidade pouco explorada e conhecida, mas não menos interessante aos olhos dos estrangeiros e também dos brasileiros do resto do país.
De acordo com a idealizadora da iniciativa, esmiuçar a riqueza da cultura paraense durante o desenvolvimento do projeto foi importante para que houvesse uma reconexão com as próprias raízes, mais íntimas e singelas. Isto, ao fim, foi uma conclusão do trabalho que acabou se tornando o grande objetivo da obra da artista.
"A cultura do Pará é extremamente rica e linda. Belém é um caldeirão cultural... As cores, os sabores, os cheiros, a música, a influência indígena - não existe nada igual no mundo. Um dia eu acordei e pensei "isso é a maior riqueza artística que carrego dentro de mim, preciso explorar de alguma forma"", relembra. "Durante o processo, nos últimos meses, me senti conectada com o Pará e com as minhas raízes de uma forma muito sútil e bonita, e de certa forma acredito que esse era o meu maior objetivo", pontua.
Em Nova Iorque desde 2017, a jovem, que é formada em Design Gráfico, conta que se mudou para a "big apple" - a grande maçã nova-iorquina - para estudar Belas Artes. "Há três anos, senti uma necessidade muito grande de explorar a minha criatividade de uma forma mais livre. Foi nesse período que a arte e a pintura entraram na minha vida e me abraçaram, possibilitando que eu gritasse livremente sobre as minhas ideias através de cores... O público se sente conversando com a obra, e é aí que me encontro como artista", detalha Sefer.
De lá para cá, a artista explica que a cultura nortista sempre foi um ponto crucial e presente no trabalho que vem desenvolvendo nas artes, mesmo que de forma intuitiva e até inconsciente. Questionada sobre essa influência nas produções, Sefer responde: "Às vezes até indiretamente". A cultura, no trabalho, é refletida de diversas maneira, explica ainda. "Você vai sempre encontrar cores vibrantes que se conectam diretamente com a cultura nortista, animais da Amazônia, referências indígenas, o verde das florestas e a energia do Norte", explica.
Desafios
Mesmo orgulhosa de onde vem, ela confessa que nem tudo são flores... O desconhecimento acerca da cultura amazônica ainda resulta em reproduções de diversos preconceitos mundo afora. "Infelizmente eu sinto que ainda existe uma ignorância muito grande sobre a nossa cultura e sobre quem somos", inicia.
"O Brasil é extremamente diversificado e carrega culturas completamente diversas, mas o povo aqui só conhece Rio e São Paulo. Ficam espantados quando falo que nasci na região amazônica, me perguntam se existe energia elétrica, se existe sistema de educação e saneamento... Coisas que pra gente a resposta é óbvia mas eles enxergam como uma cultura completamente exótica e mistificada", conta.
Apesar disso, a artista parece satisfeita em poder contribuir em espalhar o conhecimento sobre a Amazônia por onde passa. "Fico feliz em poder mostrar um pouco sobre quem somos por aqui por meio da arte", conclui.

Fonte:O Liberal/Cultura (Texto e Foto)

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