Relação dos mitos amazônicos com a proteção ambiental é tema de livro lançado neste sábado, 03

 'Anhanga, Curupira e Mapinguari: Protetores da Natureza' é fruto do trabalho acadêmico de pesquisa de Paulo Maués Corrêa

Maciste Costa

Paulo Maués Corrêa é daqueles que adora ouvir e contar uma boa história, e morar na Amazônia, uma terra onde as visagens, seres fantásticos e defensores místicos espreitam de cada canto, tornou inevitável que ele tornasse essa paixão sua profissão. Licenciado em Letras e Mestre e Doutor em Estudos Literários pela Universidade Federal do Pará (UFPA), ele lança neste sábado, 03, o seu livro “Anhanga, Curupira e Mapinguari: Protetores da Natureza”, às 19h em uma transmissão no seu canal de YouTube. A obra é um apanhado histórico e acadêmico dessas criaturas mitológicas que refletem muito mais de nós mesmos do que podemos imaginar.

O livro é o segundo a ser lançado em uma coleção de oito volumes chamada “Lendas Amazônicas”. O primeiro livro foi publicado com o selo da editora Paka-Tatu em 2016 com o título “Cobra Grande: Terror e Encantamento na Amazônia”, que mergulha na história da gigantesca serpente que os antigos juram que dorme sob a cidade de Belém. Nesta nova publicação, Paulo escolheu fazer a biografia ficcional de outros seres místicos que têm em comum o tema da preservação do meio-ambiente, assunto que já era discutido na Amazônia muito antes da popularização moderna do termo “sustentabilidade”.

“Esse é um trabalho de pesquisa que eu faço desde 1999, trabalhando com poéticas orais e literatura da Amazônia. Tenho vários livros sobre os temas, das nossas lendas mas, nesse livro, não há somente as histórias, mas também foi feito para quem quer aprofundar os seus conhecimentos em relação a esses três personagens em particular. Tem todo um apanhado histórico, levantamento bibliográfico, e algumas considerações analíticas, além de histórias que coletei, pois eu sou um caçador de histórias”, diz o pesquisador. O livro é patrocinado pela Lei Aldir Blanc, por meio do Edital Livro e Leitura, da Secretaria de Estado de Cultura (Secult) do Governo do Pará e Secretaria Especial da Cultura, subordinada ao Ministério do Turismo, do Governo Federal.

Sobre sua metodologia, Paulo conta que o trabalho tem caráter acadêmico e científico, então, ele fez um levantamento das principais referências que tratam das lendas brasileiras, que estão intrinsecamente ligadas à História de nosso país: para se ter uma ideia, a primeira menção escrita que temos ao Curupira foi feita por José de Anchieta, em 1560. Com o passar dos séculos, ainda que de forma cada vez mais tímida, esses seres fantásticos continuaram a nos acompanhar, vigiando o modo que cuidamos dos nossos recursos naturais. “O mais recente é o Mapinguari, que é uma lenda que se difundiu muito com a expansão da borracha. As pessoas iam para os seringais e desapareciam, apareciam estraçalhados, ou viam uma criatura e saíam desesperados. Ele está vinculado ao momento de expansão da exploração da Amazônia, e isso é muito bacana nesses personagens”, explica o autor.

Em sua pesquisa, Paulo Maués Corrêa tenta explicar sobre a criação desses mitos, e conta que tudo nasce da incrível capacidade humana de ver além do que enxergam os olhos. “O imaginário de um modo geral é um processo de deformação de imagens. A pessoa com medo vê uma coisa, e o imaginário age de tal forma que aquilo se transforma em outro negócio. É possível que, por exemplo, um macaco tenha aparecido para um camarada apavorado e, pelo medo, tenha se transfigurado no Mapinguari. Mas isso é apenas uma tese, para quem está olhando aqui de fora, mas para o homem da Amazônia, o Mapinguari existe e tem uma função social, de resguardar a natureza”, explica o pesquisador.

Cada um a seu modo, esses personagens eram a ferramenta primordial para desincentivar o desmatamento desenfreado e a caça predatória, ainda que por meio do medo. O Anhanga, por exemplo, é um espírito poderoso que protege as matas, os rios e a fauna. Geralmente, aparece como um cervo enorme, branco e reluzente, de olhos vermelhos como o fogo e chifres pontudos. Diz-se que o Anhanga pune caçadores que maltratam os animais e a mata, agredindo-os com pauladas invisíveis, chifradas e coices, ou criando ilusões perturbadoras, fazendo com que o caçador acredite que matou alguém que ama muito. Por outro lado, o monstruoso Mapinguari é um gigante sempre faminto, coberto de pelos, com um olho só e uma boca imensa que se estende até o estômago, que também pune os que desrespeitam a natureza devorando-os. Já o Curupira é o mais travesso de todos, preferindo fazer com que os caçadores se percam na mata, mas também, sendo agressivo quando se enfurece.

“No momento atual, eles são mais do que necessários. Teria que ter uns 300 mil mapinguaris soltos por aí para ver se dão uma inibida nesse processo que não é nem de exploração, mas de destruição da floresta”, encerra Paulo, deixando seu protesto e rezando para que seus leitores possam olhar para esses mitos seculares e aprenderem a importância de preservar a natureza, coisas que nossos ancestrais já compreendiam e deixaram os ensinamentos para nós na forma de magia.




Edição: Alek Brandão
Fonte: O Liberal (texto e imagem).

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