Chefs paraenses mostram toda versatilidade da cozinha amazônica no 'Mestre do Sabor'

 Léo Modesto, natural de Curuçá, e Bia Pimentel, que nasceu em Itupiranga, estão no time da chef Kátia Barbosa

Em um país rico de tudo como Brasil, é natural que a gastronomia seja uma das áreas mais prolíficas, com o Pará ocupando um local de destaque nesse mosaico de sabores e aromas, devido à sua localização privilegiada na Amazônia, que fornece frutas, peixes e os mais diversos e incomparáveis insumos. Sendo impossível não se render à culinária da nossa terra, o reality show “Mestre do Sabor”, da TV Globo, convidou dois chefs paraenses para o elenco do programa, que na estreia, no último dia 06, já encantaram os jurados com pratos únicos. Léo Modesto, natural de Curuçá, e Bia Pimentel, que nasceu em Itupiranga, estão no time da chef Kátia Barbosa, que teve o paladar conquistado pelos pratos feitos com peixes e ingredientes que são essenciais na nossa cozinha.


Léo nasceu na comunidade curuçaense de Itajuba, uma pequena vila de duas ruas no nordeste paraense onde o menino começou sua jornada gastronômica, reparando as panelas no fogo no sítio da família. Sendo o mais velho de seis irmãos, Léo era o responsável por comandar a cozinha enquanto a mãe, Dona Terezinha, estava cuidando da roça ou pescando. “Às vezes, queimava o feijão”, brinca o chef, lembrando das primeiras experiências naquilo que se tornou sua carreira. Na Globo, o menino mostrou que cresceu, e serviu uma poqueca de pirarucu no tucupi defumado, que fez os chefs Leo Paixão e Kátia Barbosa apertarem o botão verde.


“A poqueca remete a todo esse contexto, desde a infância, por se tratar de um preparo da nossa cultura alimentar, da nossa ancestralidade. Se observar, a poqueca e o moquém são técnicas que são repassadas na comunidade. Eu cresci nesse contexto. Quando eu chego em Belém para cursar gastronomia, eu me deparo com essas coisas que a gente, lá em Curuçá, já tinha, e falo: ‘a gente tem técnica’”, comenta Leo sobre a complexidade encontrada na cozinha ancestral amazônica. “Por isso, eu sempre acabo trazendo isso para o nosso cotidiano. Hoje, eu nem falo mais em ‘resgate’, pois, quando a gente pensa no resgate de uma cultura alimentar, a gente pensa em algo que estava preso, que não existia mais, e isso existe na minha família há muito tempo. Eu não estou resgatando, estou passando adiante, estou fazendo a prospecção”, explica o chef curuçaense. “Aí que eu começo a inserir a minha cozinha de raiz amazônica”.

Lèo e sua mãe, Terezinha, no sítio da família em CuruçáLèo e sua mãe, Terezinha, no sítio da família em Curuçá (Arquivo pessoal)
Léo transformou essa inspiração em marca, e hoje, o Sítio Mearim (@sitiomearim) é um empreendimento que agrega valor a produtos da agricultura familiar, inspirado pela convivência de Léo com a família, produzindo tucupi, melaço e temperos regionais. O logotipo da empresa é o chapéu de palha de seu avô, o que mostra o impacto da família na sua vida. Ele acredita que foi justamente essa ligação tão forte com suas raízes que rendeu o convite para o Mestre do Sabor.


“No primeiro momento, eu fiquei muito surpreso, pois não sei como chegaram até mim. Eu achei incrível a forma como eles contaram essa trajetória na cozinha. Eu acho que o programa queria não somente contar, mas validar uma história”, comemora o competidor do programa global, que celebra estar no time de Kátia Barbosa. “É muito representativo. Eu sempre trabalhei com mulheres no decorrer de minha trajetória, apesar de ter admiração por homens da família - como meu avô, que é uma referência para mim. Mas eu pensei: ‘Se a Kátia me quisesse para o time dela, eu não ia pensar duas vezes, por ela representar uma mãe’”, encerra.


Cozinhas de todos os “Parás”


Bia Pimentel, a outra paraense no elenco do programa, está exultante em dividir a mesma equipe de seu conterrâneo. “É o Pará, meu povo, arrasando com tudo! Muito honrada de estar no mesmo time do meu amigo!”, comemora. A chef simboliza um outro lado do Estado, o sudeste paraense, que também tem um paladar próprio. “Segundo a produção [do Mestre do Sabor], no meu caso, eles fizeram uma pesquisa em redes sociais e gostaram muito do meu trabalho, do meu jeito de explorar os alimentos e os insumos”, explica. Bia serviu a “Caldeirada do Tadeu”, um prato em homenagem ao seu irmão, feito com tucupi, jambu e castanha-do-pará.

Bia homenageou irmão com prato que garantiu vaga no Mestre do SaborBia homenageou irmão com prato que garantiu vaga no Mestre do Sabor (Divulgação/Globo)
Morando em Goiânia desde os 17 anos, ela conta que foi para o Centro-oeste para estudar medicina, mas acabou indo para a gastronomia por causa do talento natural. Bia traz as raízes de sua história em seus pratos, mas também se inspira em uma cozinha mais universal. “Eu gosto de trazer todos os elementos brasileiros - inclusive, paraenses - e fazer uma apresentação mediterrânea, usando coisas da minha terra e do Goiás também. Eu gosto de misturar o mundo inteiro, meu irmão! É um encontro do mundo na minha comida”, explica a chef, que conquistou os jurados e apresentadores com sua animação. 


Mesmo que esteja há vinte anos em Goiás, Bia conta que, no programa, focou naquilo que comeu no lugar onde nasceu, e que sempre leva um pouco de Itupiranga, Marabá e região para o mundo. “Do Pará, eu trouxe o tucupi, peixes, mandioca, o jambu. Todos esses itens paraenses fazem parte da minha vida e eu costumo falar que, na minha mochila, nunca falta”, encerra a itupiranguense, que segue no sonho de ser certificada como a mestra do sabor.




Edição: Alek Brandão
Fonte: O Liberal (texto e imagens).

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