Dona Onete é tema de exposição com arte e memória no Itaú Cultural, em São Paulo

 A exposição abre nesta quarta-feira (15) com música, sabores, afetos e cultura paraense




Dona Onete, 83 anos, não é apenas música. Não se trata apenas do título de rainha do carimbó Chamegado. A paraense é sabedoria, encantaria, revolução e vai de encontro às normas convencionais. Em vida, Dona Onete vem recebendo importantes homenagens e divulgando a cultura do Pará. Nesta quarta (15) a artista estará em São Paulo para a abertura da exposição "Ocupação Dona Onete", no Itaú Cultural.

"Eu sempre digo que se quiserem me homenagear, façam em vida para que eu possa agradecer", disse a artista com o sorriso radiante de quem vai poder contar mais um pouco da sua história de vida e do Pará para o público. "Eu não fico feliz apenas por mim, eu fico feliz de poder mostrar a cultura do nosso estado para milhares de pessoas que têm curiosidade de saber mais sobre nós", pontua a artista.

A exposição é composta de quatro eixos: Território, Encantarias e Religiosidade, Túnel e Palco, que reúne cerca de 120 itens e aprofunda o público na sua rica e movimentada trajetória. São fotos, muitas do acervo da família, vídeos, audiovisuais, músicas e manuscritos originais e inéditos, depoimentos dela própria, de seus amigos, companheiros de música e familiares.

Dona Onete tem a prática de escrever e catalogar tudo em uma pasta, onde vai colecionando. Os escritos são denunciados pelo desgaste do papel, uns já estão se desfazendo, outros ainda com a tinta da caneta viva. As pastas e todo o material guardado são cuidados e resguardados pela neta, Josivana de Castro Rodrigues, que é pesquisadora e ajudou no trabalho de estruturação da exposição.

Artistas paraenses também participam da mostra a convite do Itaú Cultural: o coletivo Kambô com uma intervenção na bandeira do Pará, exposta em tecido e em realidade aumentada acessível por meio de um aplicativo que pode ser baixado ali mesmo , e as fotógrafas Nay Jinknss e Marise Maués; cada uma apresenta quatro imagens que traduzem o seu olhar sobre o próprio território.

O eixo Território, mostra Cachoeira do Arari, cidade onde Ionete nasceu na Ilha de Marajó, onde passou a infância. Depois, a mostra percorre por Igarapé-Miri, no Baixo Tocantins, lugar em que, ainda conhecida pelo nome de batismo, ela consolidou-se como professora, atuou na política cultural e foi militante de movimentos sindicais.

Em Encantarias e religiosidade, serão apresentadas as lendas e encantarias, que ganharam melodia em sua voz. Esse espaço contém letras manuscritas inéditas de canções da artista, como A Lua morena, Banho de cheiro e Meu Pará tupiniqui.


No eixo Túnel, um caminho embalado de sons de Belém que o transporta para o espaço seguinte, Palco. Percebendo que a capital do Pará é uma cidade musical, os curadores e produtores do Itaú Cultural envolvidos nesta Ocupação, foram gravando as diferentes sonoridades que ouviam durante sua permanência por lá.

Em Palco, o visitante entra na expansão de seu universo musical, iniciado nas canções entoadas quando criança à beira do rio para atrair os botos, nas noites de serestas e de carimbó, e nas salas onde dava aula.

Assim, a Ocupação Dona Onete percorre todo esse caminho dividido pelos quatro eixos que a compõem. Eles abarcam a sua vida, das terras do norte aos tablados brasileiros e internacionais, passando pela influência da ancestralidade e cultura paraense em suas canções e por suas outras militâncias. "Eu sou professora e já vivi muita experiência de luta para a nossa classe, tenho muitas histórias dessa época de protestos e ocupações", destaca a artista.

A curadoria da mostra é do Núcleo de Artes Cênicas, Literatura e Música da organização. A consultoria é da pesquisadora Josivana de Castro Rodrigues, neta de Dona Onete, e o projeto expográfico, contemplado com mecanismos de acessibilidade, é do Núcleo de Infraestrutura e Produção do Itaú Cultural e da também paraense Patrícia Gondim. De Belém, Geraldinho Magalhães, Marcel Arêde e Viviane Chaves apoiaram a produção.

Novo trabalho

Em meio a todos esses preparativos da exposição, Dona Onete se divide para a preparação do seu novo álbum, "Bagaceira", que já está em fase de produção e gravação. O novo trabalho da paraense faz um passeio pelas suas raízes do Marajó. Vai ter muito lundu, boi-bumbá, carimbó lambada e vai lançar o lambumbarimbó, que é a mistura de todos esses ritmos.

"Esse novo trabalho faz uma homenagem à ilha do Marajó, às minhas raízes. O nome Bagaceira remete muito bem às nossas festas que faz uma mistura de ritmos, as nossas festas são únicas, por isso, é uma bagaceira só", explica a artista.

Ocupação Dona Onete

De 15 de março a 18 de junho

Terças-feiras a sábado das 11h às 20h

Domingos e feriados das 11h às 19h

Itaú Cultural

Avenida Paulista, 149, próximo à estação Brigadeiro do metrô

De terça-feira a domingo, das 10h às 18h.


Fonte: O Liberal

Texto: Bruna Lima

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