'Grafiterosto': saiba de quem é o rosto estampado em vários muros de Belém

 O projeto ‘Grafiterosto’, além de levar cor a algumas paredes da cidade, gera curiosidade na população, mexe com o imaginário, criando novas interpretações

Reprodução / Arquivo pessoal
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"Você já sonhou com esse rosto?". A escrita acompanha o grafite de um dos rostos mais conhecidos dos muros de Belém. A pintura faz parte do projeto artístico “Grafiterosto” e é um autorretrato de um professor de artes, que está presente em paredes da capital e da Região Metropolitana de Belém (RMB). Além de levar cor a algumas paredes, o grafite gera curiosidade na população e mexe com o imaginário das pessoas, criando novas interpretações.

O responsável pela experiência social e de Arte Urbana é o professor de artesÍtalo Costa, que é pós-graduado em políticas de inclusão racial e atua há 11 anos em escolas particulares de Belém. O artista falou à reportagem do Grupo Liberal sobre a repercussão que o trabalho vem alcançando.

Quando Ítalo estava fazendo o trabalho de conclusão de curso (TCC), ele precisou mudar a temática de logotipos para grafite. O que a princípio gerou um incômodo, depois se tornou uma paixão. "Até então nunca tinha tido contato com o grafite, salvo na época da escola que eu riscava as cadeiras. No primeiro dia de aula na faculdade a coordenadora, que posteriormente virou minha orientadora, perguntou aos alunos qual tinha sido o contato que já havíamos tido com as artes. Brincando eu disse isso 'pichar cadeiras'. Esse foi meu erro (risos)", declarou bem-humorado.

"Na reta final da faculdade o meu TCC que seria sobre Logotipos fui 'forçado' a mudar para a pesquisa sobre grafite na RMB, o que naquele momento me deixou sem chão, pois eu não sabia absolutamente nada sobre o assunto. Foi aí que mergulhei de cabeça nesse pouco explorado objeto de estudo científico, em Belém", relembrou.

Para unir a área que atuava, o marketing e a pesquisa do grafite, desenvolveu trabalhos com referências à cultura Pop e relembrou, também, que em 2004 levava ao estádio, aos jogos do Remo, uma bandeira com seu rosto. "Desenvolvi uma sequência de trabalhos utilizando meu rosto em várias aplicações, prática do movimento artístico 'Pop Art'. O objetivo desta etapa foi explorar novas áreas, além de observar a reação do público frente a estas experiências divergentes aos habituais grafites presentes nas ruas da região metropolitana de Belém", arguiu.

Nos muros de Belém, Ítalo começou a fazer o grafite do seu rosto em 2011 e alega que não conseguiu quantificar quantos registros, pois foram muitos. "De lá pra cá foram tantos que perdi as contas. A arte contemporânea, por ser - no caso da minha arte - uma arte efêmera, muitos já foram apagados e outros sofreram a degradação natural do tempo", disse.

Apesar de ser uma arte que pode sumir com o tempo, o professor pontua alguns locais em que a população pode verificar os grafites e ainda destaca histórias curiosas e fantasiosas que criaram para explicar o "fenômeno" do rosto do homem. "Um que fica no elevado da Júlio César, este é um ponto de grande fluxo de veículos então muitas pessoas têm acesso. Algumas pessoas acreditam que ali é uma homenagem a alguém que morreu em um acidente. Outro bem conhecido é o que fica em uma parede na Feira do Açaí, ali há grande fluxo de turistas e às sextas ocorre um tradicional carimbó", pontuou.

"Em frente ao presídio de americano. Naquele surgiu a lenda de que se trata de uma homenagem a alguém morto em outro acidente na BR.Há, também, um grande adesivo que tem uma foto minha quando criança, no elevado da Augusto Montenegro, com a Av Independência (Este, a priori, tinha a função de levar um pouco de alegria para aquela região, mas acabou surgindo a estória de que seria uma criança morta pela polícia)", continuou.

Questionado se a sua arte viraria uma outra forma de linguagem, à exemplo de livro, ele diz que gosta do que está sendo feito atualmente. "Não penso em mudar a temática. Tento manter a essência da arte de rua, que é estar na rua. O grafite é uma arte democrática e deve estar em acesso a todos", finalizou.

O trabalho de Ítalo Costa, além de estar nas ruas da capital paraense e RMB, também pode ser conhecida e acessada por meio do perfil no Instagram @grafiterosto.



Fonte: O Liberal 

Texto: Emanuele Corrêa


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