Edgar Augusto deixará “Feira do Som” após 50 anos

 

Produtor e apresentador do programa desde sempre, Edgar Augusto se desligará da “Feira do Som” no final de
2022, mas a atração continuará no ar.




Completando 50 anos no ar, a “Feira do Som”, programa de rádio criado pelo radialista, jornalista e crítico musical Edgar Augusto Proença, permeia a memória afetiva dos paraenses. Únicos, a voz e o jeito de falar do locutor embalaram o conteúdo que desde o começo buscava trazer aos ouvintes as novidades da música e da cultura, com um grande espaço aos artistas paraenses das mais diversas vertentes musicais. O critério? Qualidade. Com isso, o programa, que vai ao ar de segunda a sexta-feira, do meio-dia às 14h, pela Rádio Cultura, conquistou um público fiel ao longo dos anos. Para comemorar a data redonda, marcada na nesta terça-feira, 1º de março, o público é que ganhará de presente edições especiais, nas últimas sextas-feiras de cada mês, iniciando em março até dezembro.

 

Uma ambientação está sendo preparada para essas edições comemorativas, diz Edgar. “A produção está fazendo cenário para que sempre na sexta eu receba um artista daqui, ou de fora. Será um programa especial. Vamos receber convidados diferentes, sendo transmitido pela TV e rádio Cultura simultaneamente. Quando chegar em dezembro, a direção da TV está bolando uma programação que deve ser feita no Theatro da Paz”, adianta Edgar.

O programa foi ao ar pela primeira vez em 1º de março de 1972, na PRC5 [Rádio Clube do Pará]. Depois, em 1983, foi para a Rádio Cidade Morena. Em 1984, a “Feira do Som” passou a ser transmitida pela Rádio Cultura, onde está até os dias de hoje. É o programa mais longevo da história do rádio do Pará, diz Edgar. “A diferença do meu para os outros programas, é que fui produtor e apresentador, escrevendo e fazendo a produção sozinho. Sempre levava pessoas e algumas me ajudaram, mas a grande maioria, fiz sozinho”.

Não à toa, em 2019, o programa conquistou o título de patrimônio cultural e imaterial do Município de Belém, a partir da proposta do então vereador Amaury da APPD, votada e aprovada na Câmara Municipal de Belém. Em virtude do trabalho com a “Feira do Som”, o jornalista também recebeu, no ano passado, a Medalha do Mérito Francisco Caldeira Castelo Branco, outorgada pela Prefeitura de Belém.

O SEGREDO

O segredo para o sucesso durante tanto tempo, ele pontua, “é ter amor pelo que você faz”. “Eu incorporei a ‘Feira’ ao meu cotidiano. Quando estou em casa, leio algo que possa levar para o programa. Sempre tenho assunto que transformo para o programa. Passei 50 anos fazendo isso. Tenho ajuda muito grande da minha mulher e dos meus filhos. Acordo pela manhã para produzir e fazer o programa com muita satisfação, porque faço o que gosto. É uma parte de mim, eu não estou cumprindo uma obrigação, mas me divertindo. Muita gente queria fazer algo parecido e eu resolvi fazer. Muitas pessoas começaram a fazer isso e desistiram. Então, o segredo é gostar do que se faz e jogar para sua vida, como continuação dela”, afirma.

Assim como a “Feira do Som” passou por várias emissoras, também se adaptou às novas tecnologias. “A mudança foi natural. Eu sou do tempo da máquina de escrever, eu tinha um gravador cassete Panasonic pendurado do meu ombro. Minha intenção era que a ‘Feira’ fosse um grande jornalismo musical, depois diversificou, passando a receber atores de teatro, poetas. Eu sou do tempo que não havia um caderno de arte [nos jornais]. Quem abriu espaço para eles fui eu. Passei por vários jornais, depois para o DIÁRIO. O que modificou foi a modernidade dos recursos, com uso de fitas cassetes, rolo, CD, pen-drive, e agora as redes sociais. Fui me adaptando e falando a linguagem geral. Quando fui professor na universidade [UFPA, onde deu aulas no curso de Comunicação Social durante 20 anos], dialogava com os jovens o tempo todo, trabalhando com produtores, acabei conseguindo adaptar a linguagem. Digo que o programa é feito por uma pessoa antiga que procura se adaptar e guardar suas características”.

Jornalista passará o microfone a sucessor no final de 2022 




Mas após cinco décadas produzindo, apresentando e sendo a alma do programa, Edgar anuncia que a “Feira do Som” passará para novas mãos. “A ‘Feira’ completa 50 anos no ar no dia 1º de março, desde que foi ao ar pela primeira vez, em 1972. Eu tinha 21 anos, quando comecei a fazê-la e, hoje, com 71 anos, que completo em abril deste ano, decidi passar o programa à frente. A minha pretensão inicial era completar 50 anos em março e depois, eu ia pensar em fazer outra coisa”, conta.

“A direção da TV Cultura me fez uma proposta de fazer o programa até dezembro e eu decidi aceitar. E a partir de dezembro, o jornalista Arthur Castro é quem irá assumir. Ele é ouvinte do programa desde menino e está sendo preparado para ser o meu substituto. A filosofia é a minha, mas ele tocará o barco adiante com a característica dele”, destaca.

Edgar afirma que a paixão pelo rádio e pelo ofício continuam. “A minha vida sempre foi rádio. Trabalho de carteira assinada desde 1968, tenho muito tempo de rádio. Fui locutor de futebol, produtor de programas, apresentador de TV, professor de universidade. Ainda assim, eu conciliava com o programa que sempre esteve no ar comigo. A minha sensação é de que está tudo bem parar de fazer a ‘Feira’, mas não quer dizer que os projetos pararam. Pretendo atuar em alguns propostos pelo meu filho”, antecipa.

Já a coluna “Feira do Som” no DIÁRIO DO PARÁ - que ele assina às terças, quintas e domingos no caderno Você e que nesta edição pode ser vista na página 6 -, ele diz que irá manter. “Gosto muito de escrever, fazendo coluna, artigo. Meu desejo é continuar escrevendo”, tranquiliza os leitores. Em 2020, Edgar esteve doente, passou por um infarto, precisou de uma cirurgia do coração, e foi acometido por covid-19. Mas avisa: “estou bem e ativo”.

 

Edição: Guilherme Silva

Fonte: DOL (Texto e Fotos)

Fotos:  Camila Lima e Octávio Cardoso

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