'Sou poeta! Poetisa é imperatriz', diz Alice Sant'anna, que estará na Flip


Paola FajonniDo G1 Sul do Rio e Costa Verde

Alice Sant'Anna, Ana Martins Marques, Bruna Beber (Foto: Alexandre Sant'Anna/Rodrigo Valente/Elisa Mendes / Divulgação)Alice Sant'Anna, Ana Martins Marques, Bruna Beber (Foto: Alexandre Sant'Anna/Rodrigo Valente/Elisa Mendes / Divulgação)
“Poeta! Poetisa é imperatriz, como disse a Ana Cristina Cesar”, afirma Alice Sant'anna ao citar a escritora que descobriu na adolescência. Bem, poeta então! No próximo dia 4 de julho, ela e mais duas companheiras da nova geração se reunirão em uma das mesas de discussão da Festa Literária Internacional de Paraty. Sant'anna, Ana Martins Marques e Bruna Beber irão debater o ordinário e extraordinário do cotidiano, assunto presente no trabalho das três.
“A graça é pensar em algo que aparece de repente, que irrompe a superfície d'água. Seria o elemento surpresa, próprio da poesia”, diz Sant'anna ao G1 em entrevista por e-mail.
Com idades entre 25 e 35 anos, as três se juntarão à também escritora Noemi Jaffe,  mediadora da mesa “O dia a dia debaixo d'água”, talvez uma referência da própria organização da Flip ao primeiro livro de Ana Martins, “A vida submarina” (Scriptum, 2009), e o último de Sant'anna, “Rabo de baleia” (Cosac Naify, 2013).
“Acho que a ideia é pensar uma poesia em que as figurações do cotidiano são atravessadas ou interrompidas por algo estranho ou insondável, como sugere a irrupção do rabo de baleia no meio da sala, no poema da Alice que dá título ao livro. Gosto dessa ideia de irrupção que o poema dela sugere, mesmo que apenas como promessa ou pressentimento, a ideia de alguma coisa que quebra a casca dos dias, como a flor que 'fura' o asfalto e o tédio, no poema de Drummond”,  comenta Marques.
Marques, aliás, a respeito do tema poeta/poetisa, aponta que o ano passado representou uma inflexão importante em discussões sobre gênero e escrita. "Uma coisa que me incomoda é a tendência de que a recepção da literatura escrita por mulheres permaneça frequentemente circunscrita a esse campo do 'feminino' ou da 'escrita feminina', enquanto isso nunca ocorre com a literatura escrita por homens."
"A questão é complicada, tem muitos aspectos, e não é o caso de me estender aqui. Queria só comentar que o lançamento do livro 'O útero é do tamanho de um punho', da Angélica Freitas, em 2012, é, na minha opinião, um marco na questão do gênero na literatura brasileira, porque é um livro que não só escancara a questão tematicamente, desmontando estereótipos e colocando em cena diferentes figuras femininas, mas que faz isso a partir de um jogo com os discursos, com a linguagem", completa Ana Martins Marques.
Bruna Beber (Foto: Elisa Mendes/Divulgação)Bruna Beber (Foto: Elisa Mendes/Divulgação)
Apesar desta ser “marginalizada” se comparada ao alcance comercial da prosa, o cenário da poesia está em transformação, diz Bruna Beber.
“[Prosa] tem nicho maior de mercado e procura, mas acho que as pessoas que gostam de poesia sempre procuraram poesia. Tem uma oferta um pouco maior hoje. Acho que com o aumento de festas literárias no país, o que nunca aconteceu em tanta quantidade, a prosa circule mais, mas a poesia também, porque todas as feiras e festas literárias têm mesas, seminários... Abriu espaço para todo mundo, todos os estilos”, opina a poeta e também publicitária, que na Flip irá divulgar "Rua da padaria" (Record, 2013).
O evento será realizado de 3 a 7 de julho. Em 2013, homenageia o alagoano Graciliano Ramos, que completaria 120 anos em outubro do ano passado. A 11ª edição conta com nomes como Lydia Davis e Karl Ove Knausgård
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