Entre estrelas e utopias, sou petista! - Por Eduardo Machado


Acabei de receber, via email, uma mensagem na qual a expressão “petista” é associada aos seguintes paradigmas:
Quem é petista e honesto não pode ser inteligente.
Quem é petista e inteligente não pode ser honesto.
Quem é inteligente e honesto não pode ser petista.

Eu sei... você que acabou de me mandar esse tipo de mensagem não vai ler essa crônica; ela é muito grande, têm muitas letras e palavras que formam frases, que expressam ideias, o que torna tudo muito complicado e difícil de entender.
Eu sei... esse ano tem eleição. As redes sociais também sabem. Internautas comuns e aqueles que são pagos pra isso já começam a espalhar pela Web mensagens como esta que acabei de receber. São textos antigos, de outras campanhas eleitorais, resgatados, reciclados, mal e porcamente atualizados. 
            Outros virão, como aquele do dossiê da Dilma terrorista e assassina, ou os que falam da riqueza do Lula e do seu filho, o Lulinha, ou seja, spams que, nos próximos meses, vão encher meu saco e minha caixa postal.
            A maioria deleto, às vezes só de ver o remetente. Então, você que não tem pudor (ou bom senso) de ficar espalhando essas merdas, desculpe, esses spams, não perca seu tempo comigo. É que sou meio seletivo nessas questões. Não tolero burrice, ignorância e preconceito.
            Mas a mensagem teve um mérito, me fez pensar; o que define uma pessoa como petista? Ter votado no Lula e na Dilma? Então, mesmo sem ser filiado ao partido, sou petista.
Ter participado do movimento que, durante os anos de chumbo, lutou, foi às ruas, fez passeatas e manifestações exigindo liberdade, respeito, democracia, quando vivíamos uma ditadura? Então sou petista.
Ter lutado contra a repressão brutal dessa mesma ditadura, que prendia e arrebentava, ter participado da mobilização de estudantes, da reconquista dos sindicatos, da batalha pela eleição direta em todos os níveis? Então sou petista.
            O que não sou é um alienado ou um analfabeto político. Sei do jogo que se trava por trás da cena. Sei dos interesses, dos rabos presos da grande mídia, dos conchavos que contam a parte da história que interessa aos que têm saudades do poder. Lembra da parabólica do Ricupero? "Eu não tenho escrúpulos; o que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde...". 

                             (https://www.youtube.com/watch?v=NOb_3z-7yds)

Sei também dos avanços que o governo do PT promoveu, principalmente para uma massa popular que, antes, era apenas isso, massa. Sei que é muito difícil para a classe média, da qual sou parte, entender o alcance do Fome Zero, do Bolsa Família. A classe média não sabe o que é a fome do estômago. E a elite sabe, e muito bem, o que é fome de poder...!
Eu sei, principalmente, dos ataques e agressões que expressam o enorme, brutal e mal disfarçado preconceito presente em nossa sociedade. Para muita gente medíocre, é mesmo insuportável que um operário sem diploma, com cara, jeito e voz de povo tenha chegado à presidência da república.
Mas a minha recusa à ingenuidade alienada também me diz dos abusos, dos desmandos, dos absurdos que se cometeram no exercício desse poder. Sei que uma parcela significativa de “companheiros” que, nunca tendo comido melado, se lambuzou. E é fácil se lambuzar quando se está no poder, pois o poder, assim como o dinheiro, não muda ninguém; revela.
Sei que, historicamente, a cultura política no Brasil transformou acordo em conchavo, aliados em cúmplices, partidos em quadrilhas.  E o PT foi criado justamente para abrigar, dar voz e vez àqueles que queriam fazer política de um jeito diferente. Aliás, ontem, num programa eleitoral, o senhor Lula fez um discurso lembrando isso. Mas eu também lembro ao senhor Lula que, apesar dos muitos avanços já citados nesta crônica, o senhor tem uma dívida com minha geração, que imaginou ser possível fazer diferente para fazer diferença, exercitando a Política a partir de valores que sempre defendemos, e que continuam genuínos, apesar dos Mensaleiros (sem trocadilhos, por favor...).
Foi por esses valores que votei no senhor Lula oito vezes; duas contra o Collor, duas contra o Fernando Henrique, duas contra o Serra e duas contra o Alkmim. Pelos mesmos valores votei na Marina Silva, no primeiro turno das últimas eleições, e na Dilma, no segundo turno.
Foi por esses valores que escrevi, no dia 6 de outubro de 2006, uma “carta aberta ao presidente Lula”, que está lá, no meu blog. Se leu, não me respondeu. E seu discurso não me convenceu, pois o PT que fez alianças (?) com Sarney, Renan Calheiros, Michel Temer e outros que tais, ficou muito parecido com tudo aquilo que a gente queria afastar da cena política brasileira. E aquela foto sua, senhor Lula, abraçado ao Maluf, não deu, definitivamente, pra engolir...
Hoje, me sinto perdido no mato, sem cachorro ou candidato, já que o maior dano desses escândalos políticos, além de ferir de quase morte a nossa esperança, foi fazer uma parcela significativa dos eleitores acreditar que Aécio Collor de Neves pode ser uma alternativa “a tudo isso que está aí...”.
Pra terminar, eu sei, ainda, que é fácil denunciar, debochar, escrachar, quando o acusado é “um petista burro e desonesto”. Se fosse do PSDB, do DEM e assemelhados seria só desonesto, pois os bons moços tucanos são inteligentes, articulados, falam bem, têm diplomas, bons modos, só gente fina...
Eu, simples cidadão e eleitor, continuo aqui, atento, sereno (tanto quanto possível) acreditando nos meus sonhos e utopias. Deles, não abro mão. Por eles, pode escrever aí, continuo petista sem filiação, mas de coração, para além dos mensaleiros, dos abusos, das pilantragens, dos conchavos, que rejeito, combato e denuncio, sem ingenuidade ou corporativismo partidário.
É que, no coração de um petista como eu, mora uma estrela, lembra? E se o petista tenta ser, como eu, cada dia mais cristão, essa estrela ilumina uma fé, sem ingenuidade, capaz de mover as montanhas de preconceito, alienação, insensibilidade e oportunismo que circulam na Rede, nos corações e nas mentes de tanta gente.
Pois coração petista cristão é jardim de utopias. E a utopia cristã, cara-pálida, não é sonho impossível, é rumo. É para lá que vou. É para lá que vai a minha geração. E é para lá que vai o meu voto.
Ah, e antes que eu me esqueça, desonesto e burro é o PSDBQP!!!


Eduardo Machado
16/05/2014