Projeto apresenta “Folias do Norte”

Heranças de um tempo antigo, os festejos e folguedos em louvor ao divino estão imersos na história dos povos. Sagrados e profanos, eles ganham novos contornos com o avanço dos séculos e incorporam elementos que revigoram sua existência. “Na Antiguidade, faziam-se ritos que inspiraram as folias ou estão na sua origem. Elas são manifestações culturais que têm raízes históricas tão antigas quanto às primeiras comunidades humanas”, comenta o sociólogo Emanuel Matos. O pesquisador é um dos convidados do seminário “Folias do Norte”, que será realizado pelo Instituto Arraial do Pavulagem, amanhã. A programação começa às 18h30 na sede do Instituto, no bairro da Campina. A entrada é franca.
O seminário integra o calendário de atividades do Instituto para o Arrastão do Pavulagem 2014 - cortejo que reverencia os santos da quadra junina e a cultura popular brasileira há quase três décadas. É uma pausa na maratona de oficinas preparatórias para os arrastões, que têm patrocínio das leis Rouanet e Semear, e um novo momento no processo de construção do folguedo. Espaço de encontro entre o conhecimento científico e o saber tradicional. “Essa ideia de compartilhamento é o que a gente acredita para o cidadão do futuro, a junção desses elementos pode ser de grande valia para uma formação mais integral”, afirma o Ronaldo Silva, presidente do Instituto Arraial do Pavulagem.
Este ano, o Oralidades também leva para a roda de conversas o historiador Aldrin Figueiredo, que fará um panorama das folias na região amazônica, com destaque para a Marujada de Bragança, o Marambiré e a Pastorinha de Alenquer. Ademar Leão Feio, membro e fundador da Irmandade dos Devotos do Glorioso São Sebastião, de Cachoeira do Arari, representa a tradição das festividades de santo do interior do Pará. A mediação será feita pelo músico de Junior Soares, um dos fundadores do Arraial do Pavulagem, devoto de São Benedito e que traz as referências da marujada bragantina para o debate.
Emanuel Matos abordará as relações entre sagrado e profano, a partir de uma perspectiva apolínea e dionisíaca. Ao evocar as divindades da mitologia grega, com Apolo, o deus da juventude e da luz; e Dinonísio, deus da loucura, do vinho e do delírio; Matos lembra a dualidade e o sincretismo que marcam os traços culturais dos povos em qualquer tempo. “Trabalho, festas, sagrado, embriagues, viagens espirituais e psíquicas sempre existiam. Nas folias, eles estão em perfeita sintonia. Nos rituais oficiais, eles estão lá firmes e fortes. Existem em cerimônias sacras. Há a presença do Eros [Deus do Amor]. Do vinho. Do prazer, do gozo espiritual”, compara.
Com as vivências múltiplas dos participantes, ao seminário promete ser um terreno fértil para o diálogo tão diverso quanto às folias que percorrem o norte brasileiro. “O interessante é ter acesso ao olhar de cada um e como essa realidade é pensada, processada para esse momento de troca. Como que cada um deles vai buscar dentro do universo que eles dominam os pontos de encontro. O Oralidades é muito necessário para abastecer os brincantes de conteúdos para construção dos cortejos e a cada vez mais a gente vai aprofundando esse conceito”, avalia Ronaldo.

Fonte: O Liberal