Escritor argentino traz metáforas sobre seu país



Em uma modorrenta cidade industrial no pampa argentino, a monotonia é quebrada pela narrativa de quatro homens que descrevem a história de uma traição silenciosa. O curioso é que a trama é contada em quatro momentos distintos (1973, 1984, 1966, 1959), formando um coro de vozes que apresenta perspectivas fragmentárias do ambiente dessa cidade (pacífica apenas na aparência). Essa estrutura de saltos temporais é um dos vários trunfos de Glaxo, pequeno romance do argentino Hernán Ronsino, agora publicado pela Editora 34.
Glaxo é o nome da fábrica daquela cidade, marcada também pela retirada dos trilhos do trem para a construção de uma estrada. E os narradores são o resignado filho do barbeiro, o açougueiro cinéfilo, o funcionário da estação ferroviária e o suboficial transferido. A solução de um crime logo fica em segundo plano quando o leitor observa a hábil escrita de Ronsino: austera, mínima, redonda, apresenta vozes muito bem diferenciadas pela sintaxe e pelo ritmo, cuja fala revela uma violência reprimida, que só explode em poucos mas marcantes momentos. Como observou Carolina Esses, do jornal La Nación, “A meticulosidade poética com que ele constrói o ritmo de cada frase, somada ao lento colapso que inunda suas novelas, resulta em uma prosa particular e claramente reconhecível”. 



Fonte: O Liberal/Magazine (Texto e Foto)

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