É só apertar o botão? - Por Eduardo Machado


O Eduardo escreveu este artigo, dias antes de começar a  copa, mas ele merece meus aplausos pelo discernimento de traduzir em palavras verdadeiras o que muita gente tem vontade de fazer o volume de lucro e de interesses da Copa no Brasil, em sua fase decisiva, ultrapassa as expectativas, bem como o descontentamento do Eduardo, de outras pessoas e meu, em particular. (PV) 
           


Vejo na TV reportagem que detalha a última providência que as autoridades do Rio de Janeiro tomaram para reduzir a violência na cidade; instalar um “botão de pânico” nos ônibus. Assim, em caso de assalto, agressão ou outro tipo de violência, o motorista aperta o botão (o do pânico...) e, pronto, tudo resolvido.
Recentemente, a prefeitura de BH apresentou aos participantes do Fórum Mineiro Urbanístico Ambiental” revolucionária proposta para minorar os problemas do trânsito caótico da Capital: Proibir a construção de mais de uma vaga de garagem nas novas moradias.
Já imagino um motorista com uma ponto 40 na cabeça, levando o dedo ao painel em busca do botão salvador enquanto acontece uma passeata dos Sem-Garagem bloqueando o trânsito na Praça 7.
Estou ficando maluco, ou essas medidas seriam destaque numa edição atualizada do FEBEAPA (Festival de Besteiras que Assola o País), do inesquecível Stanislaw Ponte Preta, que as novas gerações, tão distraídas, nem sabem de quem se trata?
Por essas e outras, muitas outras, penso que está havendo um divórcio cada vez mais litigioso entre nossas “autoridades” e as reais necessidades dos cidadãos. No mínimo, uma imensa inversão de valores, uma confusão e um desconhecimento total, por parte das mesmas autoridades, da diferença entre o essencial e o acidental.
A Copa do mundo, por exemplo, que invadiu definitivamente todos os canais de mídia, todas as campanhas publicitárias, todos os milionários minutos e segundos da publicidade. A Copa do Mundo é acidental. Acontece uma vez na vida e outra na morte, no país sede. Ele, o país, é o essencial. O seu povo, o seu presente e seu futuro, isso deveria estar no foco da nossa atenção.
Mas, não. O que vemos? O que temos? Belíssimos estádios, construídos ou reformados, prontinhos, bem equipados, modernos, coisa de primeiro mundo. Só faltou construir ou reformar o país ao redor deles.
Quando, há sete anos, foi anunciado que sediaríamos a Copa, me entusiasmei. O Brasil, que sempre ouvi dizer que era o país de um futuro que nunca chegava, agora tinha data. Teríamos a chance de um upgrade que daria sentido à aventura de bancar eventos globais, como a Copa e as Olimpíadas, mas falhamos toscamente.
Estádios atendem 50, 60 mil pessoas. Por causa delas, em dias de jogos, vamos parar toda uma cidade, paralisar todo um país. As imagens que irão para o mundo, de dentro dos estádios, serão de primeiro mundo, em HD.  Mas, e na periferia da Copa...?
Mais da metade das obras de infraestrutura, o tal “legado da Copa”, ficaram apenas nos projetos ou virou maquiagem. Acertamos no acidental e pisamos na bola no essencial.
Os interventores da FIFA devem estar rindo a toa por conta da conta que nós, brasileiros, já estamos pagando. Afinal, a FIFA e seus “parceiros” não tem do que reclamar. Esta é a Copa de maior lucratividade de todos os tempos. Além da venda de ingressos, a ponta do iceberg, uma montanha de dinheiro é erguida e rateada entre esses seletos parceiros. Na Copa no Brasil, a previsão de faturamento da FIFA é de US$ 2,7 bilhões. Graças à Lei da FIFA, patrocinadores como McDonald’s, Visa, Samsung e Coca-Cola foram favorecidos com isenção fiscal por uma ano. Empresas ligadas ao torneio, via contratos com a FIFA (mais dinheiro) estão vendendo suas mercadorias no Brasil sem pagar imposto por isso e ainda impedindo que as concorrentes nacionais localizadas próximas aos estádios façam seus próprios negócios.
Segundo pesquisas, 70% dos produtos populares ligados à Copa do Mundo estão vindo direto da China, inclusive bandeiras do Brasil. Ou seja, os propalados empregos diretos foram gerados, sim, mas do outro lado do mundo.
E não podemos nos esquecer de que só a venda dos direitos televisivos dos jogos seria suficiente para pagar integralmente todos os custos da Copa. E nós, preocupados em prender o bombeiro cambista “denunciado” pelo Fantástico...
 A estrutura estabelecida entre a FIFA e a CBF, herdada da era Ricardo Teixeira e seu sogro, João Havelange, e continuada pelo Zé das Medalhas Maria Marim, pode ser comparada a de um verdadeiro e eficiente crime organizado diante do qual os poderes constituídos do país, no caso, o Brasil, se veem paralisados. Executivo, Legislativo e Judiciário, no Brasil estão sob intervenção de um poder que nem é estrangeiro, é multinacional, joga nas onze e ganha em todas.
Mas, apesar de tudo, esta semana a bola vai rolar, e na falta do pão da Educação, da Saúde, da Segurança e do Transporte Públicos, circo não há de faltar.
E eu, amante do futebol, vou ver, aos poucos, minha ira cívica quase adormecer, em especial se a seleção canarinho avançar.
Mas já tenho a minha, a nossa vingança planejada contra a FIFA. Ensaiamos na Copa das Confederações. A FIFA corta a execução do nosso Hino pela metade. É grande demais, gasta tempo e time is money! Mas os nossos heróis, abraçados, emocionados e louvados pelo Galvão, vão à forra por nós, os ausentes, os sem-ingresso, os barrados no baile: cantam o hino até o final!
Será o suficiente...
Apertar o botão, proibir garagem, cantar o Hino até o final, ganhar o Hexa...?
Com a palavra o cidadão torcedor e eleitor... (Eduardo Machado)