Azulejos atestam colonização lusitana



Belém é uma das cidades mais portuguesas do Brasil. Os casarões e sobrados da Cidade Velha e da Campina, os coretos da Praça da República, a Catedral Metropolitana, o Palácio Lauro Sodré e prédios como o Paris n’América são exemplos clássicos da forte influência lusitana na formação da cidade. A esse rico conjunto arquitetônico se soma a beleza incomum dos azulejos nas fachadas dos casarios, que ainda guardam um traço da cultura portuguesa, principalmente por causa da arquitetura. 
O arquiteto e professor da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Pará (UFPA), Flávio Nassar, lembra que os azulejos foram introduzidos em Belém, ainda pintados à mão, na virada do século XVIII para o século XIX. E aqui, com o passar do tempo, apresentaram um uso inovador. “O azulejo é europeu. Tem tradição em Portugal, mas o uso dele nas fachadas foi inventado no Brasil. Em Portugal, o uso era decorativo no interior das casas”, afirma o professor, explicando que há uma teoria que atribui esse uso nas fachadas à umidade do clima equatorial da Amazônia. 
“O fato é que o azulejo é característico da colonização portuguesa. Onde houve a presença de Portugal, a exemplo da África, da Ásia e Brasil, há azulejo português, predominantemente composto em três cores típicas: branco, azul e amarelo’’, diz Nassar. Belém foi pensada para ser a grande capital da Província do Grão-Pará. “No período pombalino se fez aqui a maior catedral dos domínios portugueses. Não existe outra tão grande em todos os domínios portugueses como a Catedral de Belém e, ao mesmo tempo, o maior palácio administrativo do que hoje é o Brasil, que é o atual Museu do Estado do Pará (MEP) - o Palácio Lauro Sodré. Sim, porque nessa época Belém era administrada por Portugal. Eram dois Estados portugueses. O do Brasil e o do Grão-Pará’’, explica.
A presença dos azulejos, diz ele, se fez ainda mais forte como peças símbolos da arrojada modernização levada a cabo na capital entre o final do século XIX e o início do século XX, quando houve o próspero e passageiro “Ciclo da Borracha”, até hoje motivo de orgulho dos belenenses. Os azulejos também são fruto dessa época de ouro e sua presença distinguia as pessoas. 
“Eles representavam o status de uma família. Era um revestimento caro, vindo da Europa por navios. Primeiro, vinha direto de Portugal, mas depois da famosa abertura dos portos para as nações amigas, com a chegada da família real ao Brasil, os azulejos começam a ser importados de outros países, como Alemanha, Inglaterra, França e vários lugares’’, diz Flávio Nassar, que lamenta a pouca preservação desse patrimônio, evidenciada pelo progressivo desaparecimento das peças nas fachadas. 
ESPECIALISTAS
“O tesouro azulejar de Belém é para especialistas. Ainda temos a maior diversidade de tipos e isso chama a atenção dos pesquisadores. Em termos de conjunto de fachadas com azulejos, a maior quantidade está em São Luis do Maranhão e em Salvador, na Bahia, mas aqui há uma diversidade riquíssima. Há modelos de azulejos que você só encontra aqui em Belém. Um tesouro’’, afirma.
Nassar recorda que as ruas de Belém, nos seus dois bairros mais antigos, Campina e Cidade Velha, seguem o mesmo traçado urbanístico de 1.600, ou seja, datam da fundação da cidade. ‘’Há um mapa de um corsário holandês, de 1640, o mapa mais antigo de Belém, que já apresenta a rua do Norte, a 1ª rua da cidade, hoje, Siqueira Mendes; a Dr Assis; o Largo da Sé; a Rua da Praia que equivale hoje à rua 15 de Novembro; a rua dos Mercadores. Então, hoje a gente caminha nas mesmas ruas em que caminharam Antônio Landi, o bispo dom Frei Caetano Brandão, (o advogado e jornalista) Felipe Patroni, os cabanos, figuras ilustres de nossa história’’, afiança o professor, lembrando que todos esses traços fazem de Belém uma das cidades mais portuguesas do país.