Uma louca gemedeira! Conheça a história por trás de ‘Crina Negra’, sucesso das festas juninas há 27 anos



O mês de junho está aí, e já é hora de dar play nas músicas que completam o clima festivo junto às delícias de milho, as bandeirolas e o cheiro de patchouli. Entre as canções é fácil lembrar do refrão “uma louca gemedeira, ui, ui, ui, ai, ai, ai”, da música “Crina Negra”, lançada há 27 anos pela Banda Patrulha.
Tudo bem se você canta “uma louca tremedeira”, porque de qualquer forma, a música segue como um grande sucesso junino desde 1992. Mas o que pouca gente sabe, é que “Crina Negra” arrastou uma multidão no carnaval antes de se tornar um hit junino.
Leco Maia, vocalista da Banda Patrulha conta que a composição é originalmente de Robertinho do Recife, consagrado guitarrista brasileiro conhecido, principalmente, por suas passagens pelas bandas de Fagner e Gal Costa e um punhado de discos solo lançados. A composição, no entanto, não foi feita para a Banda Patrulha, mas descoberta por eles.
“Na época fazíamos parte de um grupo chamado Banda Futuca, e fomos fazer um São João em Macaúbas, interior da Bahia. O empresário Paulo Lean foi quem levou a banda, e ficamos hospedados numa casa porque a cidade não tinha um hotel legal. Ele levou uma fita cassete com algumas músicas, e essa música o Robertinho do Recife havia feito para Amelinha, e eu acho que ela não quis gravar. Então ela ficou só na fita mesmo e no violão, boiando de um lado para outro”, relembra Leco sobre o primeiro contato com “Crina Negra”.
Marcos Costa, que atualmente toca no Olodum, era guitarrista da banda na época, e acabou ficando com a fita. Leco relembra que quando a banda voltou de viagem decidiram fazer um arranjo para a canção, para que pudessem tocá-la nos shows. Marcos, inclusive, é o responsável pelo famoso solo de guitarra do início da música.
Com “Crina Negra” no repertório dos shows, o carnaval foi a primeira vez que a canção arrastou público. “No carnaval do ano seguinte, em 1992, estávamos tocando com a Banda Futuca em pleno Farol da Barra (Salvador), e vinha descendo lá do Cristo o trio do Chiclete com Banana, arrastando uma verdadeira multidão”, conta Leco.
“Tinha um grande público com a gente, mas o Chiclete vinha arrastando muita gente. E quando o Chiclete chegou a gente se cumprimentou, e então saímos cantando ‘Crina Negra’, que vinha em seguida no repertório, e saímos arrastando uma galera considerável com essa música”, relembra.
Leco Maia e Cátia Guima no início da banda e atualmenteLeco Maia e Cátia Guima no início da banda e atualmente (Reprodução / Acervo pessoal)
Em maio do mesmo ano a banda se desligou do então Bloco Futuca para lançar a Banda Patrulha. Leco, um dos vocalistas do grupo, conta que eles emprestaram o trio elétrico do Bloco Beijo e fizeram o lançamento em um shopping de Salvador.
“Convidamos alguns representantes de rádios para que pudessem registrar aquele primeiro show desde que tínhamos nos desligado do Bloco Futuca. Foi quando um dos nosso futuros sócios, Ancelmo Costa, que trabalhava na rádio Itapuã FM; subiu ao trio, me chamou e disse: ‘Leco, vocês estavam aquele dia no Farol da Barra quando o Chiclete chegou, e vocês tocaram uma música que eu queria saber qual era’”, relembra Leco, que disse ter explicado para o radialista que a canção era de Robertinho do Recife e se chamava “Crina Negra”. Ele então pediu para que o grupo gravasse a música no dia seguinte, pois ele queria tocá-la na rádio.
O vocalista da banda conta que a gravação também foi feita de forma não muito tecnológica, utilizando ferramentas que davam poucas possibilidades de mixagem.
“Na época eu tinha uma amizade muito grande com Levi Pereira, do Asa de Águia, e pedi para ele me ajudar a fazer uma arranjo para a música. E o original é todo gravado em MIDI, no computador. Levi fez o baixo, teclado, guitarra base, piano, fez tudo... mandou tudo para a máquina e a gente levou para o estúdio de quatro canais, só para gravar. Nesse estúdio o Marcos botou a guitarra num canal, Cátia Guima botou a voz em outro, e no último foi colocado os backing vocals”, conta.
Capa do disco "Orixás", da Banda Patrulha, lançado em 1992 com o sucesso "Crina Negra"Capa do disco "Orixás", da Banda Patrulha, lançado em 1992 com o sucesso "Crina Negra" (Reprodução)
Alguns dias depois, por volta do final do mês de maio, a música começou a tocar nas rádios, e estourou em menos de um mês. E isso acabou tornando-a um sucesso junino.
“Na época tinha um programa de rádio na Bahia chamado ‘A Quadrilha do  Galinho’, onde tinham vinte quadrilhas que no final se apresentavam para disputar o campeonato de quadrilha. Naquele ano, das 20, 14 quadrilhas se apresentaram com “Crina Negra”. Foi a música que alavancou o sucesso da nossa banda e rendeu muitos frutos pra gente. Até hoje essa música se torna imortal na belíssima voz de Cátia, para mim, se não a melhor, uma das melhores cantoras que a Bahia já teve e tem, porque ela canta muito ainda”, relembra Leco com carinho.
Contra capa do disco "Orixás", com a formação original da Banda PatrulhaContra capa do disco "Orixás", com a formação original da Banda Patrulha (Reprodução)
Para Leco, a letra de "Crina Negra" fala sobre a força da mulher do sertão e suas conquistas. "Naquela época ainda tinha muito preconceito. Então fala da mulher não só como a mãe da família, mas com a força motriz de um homem, sem perder a ternura de ser mulher, sem perder a capacidade de amar. Isso acompanhado de um ritmo empolgante", declara.
Atualmente a Banda Patrulha está radicada em Fortaleza, no Ceará, onde fazem em média 2 shows por semana. A composição de Robertinho do Recife continua sendo o carro chefe do repertório da banda, mesmo que eles não ganhem nenhum dinheiro com os direitos autorais da canção. “Em tudo quanto é São João e quadrilha que a gente puxa por aqui, tem que tocar ‘Crina Negra’”, conta Leco, que segue como vocalista da banda.
A formação original da Banda Patrulha: com Cátia Guima (vocais), Leco Maia (vocal e teclado), Marcos Costa (guitarra), Neto (bateria), Marcelo Gomes (baixo), Ito (percussão e vocal), Nétia (vocal), e Adson Tapajós e André Lima (percussão); ainda se encontra uma vez por ano para cantar juntos e relembrar a história.
“A gente continua muito unido, se vendo. A gente se respeita muito e gostamos de cantar juntos”, finaliza Leco.

Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)

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