'Ver de-Ver-o-Peso' está de volta com ainda mais humor


Uma das peças mais famosas do teatro paraense, "Ver de-Ver-o-Peso", ganha o palco do Theatro da Paz novamente neste mês de junho. Há quase 40 anos a montagem retrata o dia a dia da maior feira a céu aberto da América Latina: o mercado do Ver-o-Peso, no coração do bairro do centro comercial de Belém.
Neste ano, a participação especial é de Epaminondas Gustavo, o conhecido personagem humorístico vivido pelo juiz Claudio Rendeiro. A peça tem sessões neste sábado, 22, e domingo, 23, às 19h30. Os ingressos custam R$ 50, com meia entrada para estudantes.
Além do inconfundível Epaminondas Gustavo, com seu sotaque característico dos moradores de Cametá, no nordeste paraense, mais dois nomes de peso resultam em um trio esperado pelo público: a humorista Natal Silva e a cantora Luccinnha Bastos, que somam bons anos de vivência no espetáculo.
Cláudio Rendeiro viverá um visitante do Mercado do Ver-o-Peso, alguém que descobre a feira pela primeira. "Para mim, é a peça que mais fala do jeito, da cultura, do linguajar paraense. É uma sátira urbana, um humor que fala do que nós estamos fazendo com nossas ervas e frutas. Você ri muito e reflete ao mesmo tempo sobre como nós amazônidas vivemos", ressalta.
A reflexão a que Cláudio se refere é uma das características do espetáculo, que apresenta um retrato cultural, sociopolítico e econômico não só do Pará, como da região amazônia e do Brasil. 
O humorista fala ainda do nervosismo em dividir o palco com o experiente elenco. "Eu fiquei todo pateta, sabe. Fiquei pateta e pasmo porque nunca imaginei", afirma em tom descontraído, com o sotaque de Epaminondas
"É uma honra por vários motivos, por eu conhecer muito a peça e gostar muito. Estou feliz por admirar a atuação deles todos. É uma peça que eu assisto quantas vezes tenha que ir. Estou, inclusive, levando meus filhos para assistir. Sempre tive uma admiração e pra todo mundo que vem em Belém eu digo que se quiser conhecer como é o dia a dia do paraense, tem que assistir o 'Verde Ver-o-Peso'. Além disso, Natal Silva é uma referência para o Epaminondas Gustavo. É um desafio também porque a Natal é faixa preta em humor, e em humor de improviso que o Epaminondas faz. A Lucinnha também é uma cantora da qual sou fã de carteirinha e com quem já dividi o palco outras vezes", comenta.
Com uma experiência de 15 anos, Lucinnha Bastos conta que participar da produção, com tantos talentos, é um verdadeiro aprendizado. "Entrei em 2005, pra uma participação especial e acabei ficando na peça, para minha felicidade. Porque é muito bom contracenar com aqueles artistas maravilhosos... São muitos talentos e, além de tudo, é muito divertido também. É muito bacana a gente dividir o palco, a gente se diverte, se aprimora. Sempre tem coisa pra aprender como todos eles... Minha expectativa pra esse ano é a melhor possível. Faz tempo que a gente não contracenava no Theatro da Paz e agora estamos voltando. É local que tem uma energia incrível", ressalta.   
Entre comédia de costumes e musical
Criador e diretor do espetáculo, Geraldo Sales explica que a peça traz uma mistura de comédia de costumes, sátira e nunces de musical. Ele lembra com carinho da estreia e do processo de construção da produção teatral, em 1981. A peça foi criada pelo grupo teatral "Experiência" fundado em 1971 com o objetivo de fazer teatro voltado para a região Amazônica.
"A gente estreou nos anos 80. A peça foi fruto de uma pesquisa dos atores do grupo, que queriam fazer um espetáculo e sobre a cidade de Belém do Pará, mas com algo com que as pessoas conseguissem se identificar no cotidiano", relembra.
"No início, os feirantes ficavam meio fechados, mas como a gente tinha um conhecido que era vendedor, a gente começou a ir de madrugada e conseguimos mais informação, desde quando a feira acorda, até a hora da xepa, além, claro, dos problemas que existem dentro da feira", acrescenta.
A pesquisa deu origem a diversas cenas específicas, como os momentos da fiscalização, os mitos, a exploração da feira, o Círio de Nazaré e o uso das ervas amazônicas para fabricação de perfumes, detalhou ainda o diretor.
Em razão das várias histórias que permeiam a trama, Geraldo Sales conta que o grupo de teatro percebeu a necessidade de uma ligação entre as cenas. "Nas feiras do Nordeste, sempre tem um cantador que conta os 'causos' da feira, narrando através de música. Em Belém, nós não temos isso mas percebemos um personagem que está presente, às vezes do alto, às vezes mais próximo, desde o amanhecer até a xepa (final da feira)", conta. "Por isso, a peça é conduzida por dois urubus", pontua.
Com quase quatro décadas de sucesso, Geraldo Sales atribui o sucesso à identificação do público e cita o dramaturgo francês Jean-Baptiste Poquelin, mais conhecido como Molière. "Gosto de citar Molière, que é considerado o criador das comédias de costume, porque ele é autor da frase que diz: 'Rindo,criticam-se os costumes', e pra nós é isso mesmo. O público é a cara do espetáculo então todo mundo acaba rindo da situação que conhece", conclui.



Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)

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