O cosmopolita traduzido em traços nos desenhos de Elton Galdino


'Miro lo que pasa', primeira mostra solo do artista, reúne obras realizadas ao longo de dez anos


Elton Galdino - o artista que de dentro do ônibus captura o cotidiano, em desenhos feitos em cadernos que levam junto o dia a dia de um indivíduo na cidade; realiza sua primeira mostra individual. A exposição “Miro lo que pasa” reúne dez anos de produção, em que Elton revela seu olhar em relação ao o sítio urbano, assim como suas contradições e fisionomias.

A abertura ocorre nesta sexta-feira, 14, às 19h, na Casa das Artes; onde a exposição ficará aberta para visitação até o dia 27 de março.

Galdino aprendeu a desenhar para aprender a escrever, começou a ler o mundo desenhando. Virou hábito. Matava aula para ir do Tapanã ao Telégrafo para cursar aulas no Curro Velho. O desenho, o quadrinho e a ilustração se tornaram profissão. Estudou Artes Visuais na Universidade Federal do Pará e consolida sua trajetória na ilustração e no design gráfico.

“Miro lo que pasa” reúne os diversos personagens, caminhos, casas abandonadas e moradas com paredes de tijolo cru, paisagens de rio e palafitas, as multidões no lotação e até a falação na calçada. A mostra se caracteriza como multimídia, e tem curadoria de Luana Peixe e Romário Alves.

A exposição se apresenta dividida em quatro séries, que Galdino prefere descrever como uma obra só. Entre elas está “cadernos”, onde o artista exibe 12 cadernos artesanais com desenhos, escritos e colagens.


Elton é quem produz os próprios cadernos, que o acompanham no dia a dia. Os desenhos nem são a informação principal que eles carregam, mas são o que representa a essência diária do artista.

“São cadernos de uso diário, de anotações, onde além de desenhar eu também faço listas de compras, agenda…”, explica o artista. “São os cadernos como eles são. A arte não é algo acima do que a gente vive; ela faz parte do dia a dia. Eu faço desenho no ônibus, na rua. Além disso sempre estou desmontando e remontando os cadernos, mas não com a finalidade de tornar material de exposição. Lá [na exposição] está tudo misturado”.

Nas obras, Elton ainda extrapola Belém e traça um diálogo com outros destinos que visita. Na série “Mora dias” são representadas seis casas: três da ocupação Emanuel Guarani Kaiowá, em Belo Horizonte (MG); e três casas da Cidade Nova, Ananindeua (PA), que estão em processo de abandono. 

Sobre “Mora dias”, Galdino nega ser uma expressão da forma como ele enxerga o mundo a sua volta. “Acho que meu trabalho é mais de observação e tentar entender. Acho que é mais relacional, de fazer pensar a cidade e propor uma melhor observação do seu movimento”, descreve.

Sobre a atitude de expor obras de forma em que o público possa interagir com elas, o artista acredita ser uma das etapas do processo. “Penso que é mais uma proposição. Eu penso em algo interativo, que vai além do artista. O trabalho que eu faço não é meu, porque os cadernos expostos vão estar sujeitos a interação. Acredito que a obra só se completa com a interação do outro, porque a própria percepção depende do outro; os desenhos não estão na parede para olhar de forma passiva”, diz.

Para montar a exposição, Galdino e os curadores trabalharam com um recorte de 10 anos, pesquisando desenhos que o artista fez desde sua entrada na Universidade Federal do Pará, em 2009. “Essa ideia de arte do dia a dia eu nunca pensei em transformar numa exposição. Eu não guardava os cadernos para isso, mas depois pensei que podia. Eu nunca tive a intenção real, por isso digo que é uma peça só. Porque formam momentos que aconteceram, mas juntos formam um mosaico maior”, justifica Galdino.

Agende-se:
Exposição "Miro lo que pasa"
Vernissage: sexta-feira, 14, às 19h;
Local: Galeria Ruy Meira, na Casa das Artes (Praça Justo Chermont, 236, Nazaré);
Visitação: até 27 de março, de 8h às 18h.



Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)








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