Projeto 'Cidade em F(r)estas' chega a Salvaterra

Programação reúne varal de fotos, poesias e desenhos, mostra de curtas, música, oficinas e desfile de moda


Salvaterra, no Marajó, recebe o "Cidade em F(r)estas", na sexta-feira e no sábado, 14 e 15. O projeto criado por artistas de Belém promove o intercâmbio com artistas locais por meio de oficinas de arte, exibição de curta-metragens, varal de exposição de fotografias, poesia e desenhos, desfile de moda e show de carimbó. Mais do que uma intervenção artística no território marajoara, o Cidade em F(r)estas é resultado do processo colaborativo em que a moradores de Salvaterra cedem espaços em casas e instituições de vários bairros para as atividades do evento.

A edição de Salvaterra é a primeira imersão fora de Belém realizada pelo projeto idealizado há quase dois anos pelas artistas visuais Roberta Mártires e Galvanda Galvão, a produtora Josi Mendes e a jornalistas e cantora Yvana Crizanto. "Começamos exibindo filmes e realizando o foto-varal na Praça do Carmo e em outros pontos do bairro da Cidade Velha. No início, a intenção era ocupar as ruas, perder o medo, pois quanto mais gente, mais seguro fica, e também de conhecer a vizinhança. As atividades do projeto foram crescendo, surgindo outros parceiros, e fizemos a primeira edição fora do bairro, que foi na Pedreira", descreve Roberta. E, para este ano, já estão sendo planejadas novas edições em Belém, no distrito de Icoaraci e no bairro da Marambaia.

Uma das parceiras que surgiu pelo caminho foi a artista visual Moniza Lizzardo. Ela promove o desfile de moda Plano 14, da Vestigium, trazendo roupas criadas por ela a partir das estampas de fotografias da paisagem natural destruída no Xingu, Sudeste Paraense.

“A coleção traz imagens de trecho do rio Xingu, com suas árvores mortas, fantasmagóricas: é um dos resultados da implantação de uma hidrelétrica (Belo Monte) na região. Através das roupas, a fotografia da paisagem se insere no corpo e nele revive como um grito, pela sacralidade da vida nos rios da Amazônia”, conta Lizardo.

Os artistas que participam levando as criações para comercializar no evento, não pagam taxas para participar: "A gente estende o fio (do varal usado para a mostra) e a população, principalmente os artistas locais, vão lá e colocam. Não tem curadoria. É uma forma de a gente conhecer o trabalho deles e eles conhecerem o nosso", explica Roberta.

Durante os dois dias de projeto serão realizadas as oficinas de “Papietagem”, com Paulo Emílio, e “Crochê Criativo”, com Roberta Mártires. As oficinas são destinadas aos públicos de todas as idades. O objetivo é viabilizar a troca de saberes, ideias e processos artísticos. Não foi fixada taxa para a inscrição, pois, como a proposta das oficinas é colaborativa, foi definido o sistema de "pague quanto puder" aos participantes.

A papietagem é uma das formas de uso do papel machê, com o qual o artista plástico Paulo Emílio elabora peças fantásticas e lúdicas, retratando cenas locais, objetos de decoração, peças de expressão política e referências musicais e literárias. Ele é um dos mestres da técnica no Pará.

“A partir da técnica de crochê eu criei as minhas técnicas. Como Belém é uma cidade quente, eu comecei a pensar o crochê para fazer peças que ficassem mais leves e que a gente pudesse usar no nosso clima. Essas técnicas eu chamo de crochê criativo. Na oficina que eu vou dar em Salvaterra, eu vou ensinar a fazer um xale, que pode ser uma travessa ou pode amarrar na cintura, mas é uma peça cumprida, como se fosse um xale”, explica Roberta.

Segundo ela, além de dispensar o uso de agulhas, a oficina pode ser feita por qualquer pessoa, pois o participante não precisa ter conhecimento prévio de crochê. “Eu faço ponto baixo com os dedos e não precisa de agulha. Então a oficina é pague-o-quanto-puder e não precisa levar material, que eu vou levar daqui”.

Ainda, serão exibidos aos moradores de Salvaterra o clipe "Sou Preta", da cantora Thaís Badu; episódios da série de animação "Os Dinâmicos"; e os curtas do Cine Direitos Humanos, da Faculdade de Direito da UFPA; "Ervas e Saberes da Amazônia" e "A Onda: uma festa na Pororoca".

Também a exposição itinerante "Mundo Cão" vai reunir artistas e fotógrafos para compartilhar na rua em fotovaral aberto para fotografias, pinturas, colagens, performances e outras formas de arte. “Percursos em fluxos a partir de convite de organizações parceiras e moradores, tendo a rua como travessia. As cenas são estes desenhos flagrados no click no traço para dar a ver as cenas delicadeza e violência abertas ao olhar”, aponta Galvanda. A programação encerra com um show realizado por artistas locais e um cortejo de carimbó da Pousada Boto até a praia, no sábado.

O Cidade em F(r)estas está integrado com os coletivos Casulo Cultural, Casa Velha, Aparelho, Holofote Virtual, Sibilafilmes e Multifário, que levam para as ruas uma programação multiartes com projeções de videoartes, curtas, animação, documentários, em meio a fotovarais e apresentações de música, performances e teatro, que já mobilizaram cerca de 1,5 mil pessoas nas ruas.

Agende-se:
Cidade em F(r)estas
Oficinas de Papietagem, a partir das 10h na sexta-feira e sábado, 14 e 15;
Crochê Criativo, a partir das 10h, do dia 15, com contribuição livre
Mostra multiartes e desfile de moda Plano 14 no sábado, dia 15, a partir das 18h, na Pousada do Boto, em Salvaterra
Entrada livre.
Informações: (91) 98844-2177



Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)




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