A amizade em 'O Senhor dos Anéis' vira tema de livro


"Pode confiar em nós para ficarmos juntos com você nos bons e maus momentos, até o mais amargo fim", é o que disse o personagem Merry ao protagonista Frodo em A Sociedade do Anel (1954), primeira parte da trilogia clássica do autor britânico J.R.R. Tolkien (1892-1973), O Senhor dos Anéis.

De fato, algo extremamente importante na jornada de Frodo são as suas amizades, especialmente com o mago Gandalf. Foi por conta delas que ele seguiu em sua missão de destruir o Anel do Senhor do Escuro. Pensando nisso, uma pesquisadora da Universidade de São Paulo, a USP, resolveu se aprofundar no tema. 
Cristina Casagrande apresentou em 2017 a sua dissertação de mestrado focada na obra de Tolkien. Agora, o resultado de sua pesquisa é lançado no livro A Amizade em O Senhor dos Anéis, que chega às lojas pela editora Martin Claret. 
Casagrande, que é integrante do Grupo de Estudos sobre Literaturas e Produções Culturais para Crianças e Jovens da USP, já tinha, inicialmente, o desejo de pesquisar sobre a amizade na literatura. Até chegou a cogitar estudar a obra de Monteiro Lobato.
Depois de rever a versão cinematográfica da trilogia com o marido, teve um clique. "Era exatamente esse o corpus que eu estava procurando", ela revela. "Nada cairia tão bem quanto O Senhor dos Anéis para a pesquisa que pretendia fazer. Conversei com a minha orientadora, ela topou."
Em seu trabalho, a pesquisadora utilizou estudos de filosofia e teologia. "Antes mesmo de ter escolhido O Senhor dos Anéis, havia escolhido a amizade em Ética a Nicômaco, por Aristóteles", ela revela. "O pensamento tomista-aristotélico, especialmente com sob o olhar de G.K. Chesterton, mas não somente, está presente em toda a obra de Tolkien. Então, basicamente, o casamento Tolkien-Aristóteles caiu como uma luva para a pesquisa".
Para Casagrande, apesar do foco na amizade, o grande tema do livro é outro. "A amizade é um tipo de amor, então, no livro, fala-se do amor como um todo", explica. "Por ser uma virtude, também é abordado esse conceito, tomando como exemplos a coragem, a magnanimidade e, especialmente, a misericórdia. Também é discutida a questão do herói e o protagonista na literatura tolkieniana - e, com isso, o peso da tomada de decisões, entre escolha e deliberação".
No livro, há ainda estudos sobre outros personagens, além de Frodo, como Gollum. No capítulo sobre ele, é discutida a composição do personagem e a sua corrupção. Para a autora, foi importante também elucidar, ao longo do trabalho, os comportamentos em grupo em situações de guerra. "Tanto a externa, coletiva e política, quanto a interna, individual e contra as próprias más inclinações, ambas envolvendo o poder, simbolizado pelo Anel."
Além do estudo narrativo dos livros, Casagrande decidiu criar um diálogo também com as adaptações cinematográficas do cineasta Peter Jackson. "Havia a intenção de abordar os diversos modos como a história era conhecida por nossos leitores, especialmente os mais jovens, e muitos deles só conhecem os filmes ou acabam misturando as cenas dos filmes com as do livro em suas mentes".
A Amizade em O Senhor dos Anéis conta com prefácio do renomado tolkienista brasileiro Ronald Kyrmse. Casagrande, também, acabou se tornando uma grande especialista da obra do escritor britânico. Com isso, passou a trabalhar junto à HarperCollins Brasil, que publica as obras de Tolkien no País, em serviços editoriais. "Trabalhar com o autor é algo sempre muito cauteloso", ela diz. "O Tolkien Estate, bem como a matriz da HarperCollins, são bastante tradicionais e conservadores. Além disso, os leitores do autor são bem exigentes."

Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)

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