Escritores buscam novos caminhos para enfrentar crise editorial no Brasil


O dom ou o ofício da literatura foi festejado nesta quinta-feira, 25 de julho, no Dia Nacional do Escritor. autores falam sobre anseios, lutas e novos mecanismos de publicação encarados por artistas locais em meio à crise do mercado editorial.
Para um escritor, a arte de escrever é um processo vital, assim como respirar, por exemplo. O escritor e crítico literário Paulo Maués diz que um escritor não vive dos livros, ele vive para os livros. "Escrever é uma atividade mais como missão do que como profissão", diz. Isso ocorre em decorrência das dificuldades para publicar, já que chegar ao leitor não se resume ao acesso à leitura, nesse caminho há alguns entraves que são comuns em vários cantos do país.
Paulo Maués tem aproximadamente 20 publicações, a maioria de conteúdo acadêmico, mas em meio a essa trajetória ele transita também por um público mais aberto com suas narrativas de contos da Amazônia. Mesmo diante da escassez e dificuldade, Paulo Maués se diz um escritor de sorte, pois ele possui parceria com a editora Paka-Tatu e vem conseguindo mostrar suas produções.
"A gente sabe que a maioria dos escritores não tem essa facilidade, pois não é fácil colocar um livro em circulação. Mas apesar das dificuldades de o escritor se manter financeiramente de seu trabalho, isso não pode servir de desestímulo a novos escritores, pois o prazer em ver um livro seu publicado não tem preço, prazer aumentado consideravelmente quando esse livro está nas mãos do leitor", destaca Maués.
Seus últimos trabalhos foram "Ildefonso Guimarães: ensaios do centenário" em parceria com Paulo Nunes e "Histórias de Curupira" livro de narrativa que faz parte da série lendas para todas as idades.

Mulheres têm um desafio a mais na luta para serem lidas
Para as mulheres, o desafio é ainda maior. A jornalista e escritora Bianca Levy, que lançou no ano passado o livro de prosas poéticas "Aquífera" fala um pouco dessa experiência de resistência que vem percebendo nessa trajetória.
Bianca Levy lançou recentemente seu primeiro livro, após auto-publicações de pequena circulaçãoBianca Levy lançou recentemente seu primeiro livro, após auto-publicações de pequena circulação (Beatriz Mafra/Divulgação)
A jovem escritora diz que começou sua jornada dentro do formato de produção independente por meio de publicações alternativas, como os Zines, que são livros feitos de modo artesanal. Nesse primeiro momento, para fazer com que sua atividade chegasse ao público, a escritora girava o material em torno das festas e programações culturais na noite de Belém.
No ano passado, ela conseguiu uma publicação pelos moldes comerciais por meio de uma editora de João Pessoa, que é especializada em publicações de mulheres cis e trans. "O mercado editorial é cruel, pois o escritor entrega os escritos sob diversa condições. Um escritor novo geralmente ganha a materialização do livro, não consegue ter retorno financeiro com suas publicações e essa dificuldade aumenta quando se trata de mulheres", declara Levy.
Portanto, para o dia nacional do escritor Bianca faz convite a uma reflexão: "é a hora da comunidade aproveitar esse momento fecundo de produção literária feminina no estado e no mundo, pois todos têm muito o que aprender e compartilhar com nós mulheres", destaca.
A paraense Monique Malcher, que atualmente mora em Curitiba, também percebe que dentro do ambiente de novos escritores o primeiro grande problema é a autoria feminina, pois as mulheres ainda lutam para serem lidas e inseridas no mercado "Enxergo ainda como um campo que precisa caminhar olhando para a diversidade. A literatura é um campo que ainda é elitista, excludente, mas esse espaço vem sendo inserido por pessoas diferentes", pontua.
A paraense Monique Malcher divulga seus trabalhos pela internet e redes sociaisA paraense Monique Malcher divulga seus trabalhos pela internet e redes sociais (Divulgação)
Para a escritora, o grande desafio dessa geração é entender que fazer literatura é também fazer política. Sem livro publicado dentro dos moldes tradicionais, Monique diz que isso já chegou a ser ponto de questionamento em sua vida. "Me perguntava se eu só iria me tornar escritora quando estivesse um livro publicado por uma editora, mas aí entendi que a internet também é uma ferramenta para a literatura", diz.
A partir disso, ela passou a usar a ferramenta como seu principal meio de compartilhamento. Toda semana compartilha um texto por meio da newsletter e percebe o quanto há uma forte interação com o público. Além disso, também faz publicações em seu site e pelas redes sociais. 
"O que mais me inspira é a vivência com os amigos , com o crescimento deles, as viagens que me proponho a fazer. As histórias das minhas avós, uma é pintora e a outra curandeira. A  minha mãe é poeta, ou seja, as mulheres no geral e as relações me inspiram", diz Monique Malcher.
Mesmo diante das dificuldades e das lutas, Monique afirma que se lhe tirassem a literatura não sobraria nada, pois o ato de escrever é um salvamento, já que por ser mulher já foi bastante silenciada. "Escrever é mais que um hobby, um sonho é uma forma de sobreviver e dizer que eu vivo nesse corpo e esse corpo existe", coloca.

Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)

Nenhum comentário