Dia do Escritor é momento de valorização das bibliotecas comunitárias de Belém

 Os escritores paraenses são valorizados pelas iniciativas comunitárias

Para que o ato da leitura seja realizado, livros e leitores devem ser aproximados, como forma de difusão de conhecimento e fonte de prazer. No Dia Nacional do Escritor, que transcorre no dia 25 de julho, o ato de escrever é exaltado em instituições de ensino a partir de atividades de produção de texto e de ensino da história da literatura brasileira. Mas, para além das escolas, educadores populares e voluntários de projetos culturais das cidades brasileiras têm construído bibliotecas comunitárias em bairros periféricos para aproximar a leitura e os escritores de crianças e jovens.

O escritor paraense e educador Preto Michel, autor de oito livros, de contos, crônicas e poesias, afirma que as bibliotecas comunitárias de Belém são atualmente os espaços em que as comunidades de bairro são “fortalecidas intelectualmente”. “Principalmente, pelo fato das bibliotecas comunitárias serem geridas por pessoas que trabalham diretamente com arte e educação. Muitas vezes são também escritores e facilitadores de leitura, e, principalmente, são pessoas inseridas nas próprias comunidades”, destaca.

“Quando uma biblioteca comunitária adquire o nosso livro é uma alegria, pois sabemos que ele circulará, de fato, entre pessoas que estão interessadas pelos livros. Nós, escritores paraenses, precisamos que a cadeia do livro seja fortalecida por meio de políticas públicas, que sejam fomentados mais eventos literários, mais selos de livros, mais ‘sebos’ (locais que vendem livros usados), e as bibliotecas comunitárias são parte fundamental dessa cena”, diz o artista, que é também empreendedor e organizador do projeto Escambo Literário, que promove oficinas literárias, rodas de conversas, palestras e produção de livros artesanais.

Preto Michel é autor dos livros “O Assovio da Matinta Perera”, publicado originalmente em 2013; “3 Contos Na Periferia”, de 2014; “A Turminha da Mata”, de 2015; “Belém Cidade Baixa”, de 2016; “A Escola”, de 2017; “O Lado Preto da Poesia”, de 2019; “A Escola- Volume II”, de 2020; “Contos de Visagens”, também publicado no ano passado; e “Depois da Chuva”, livro mais recente de Preto Michel, de poemas, também lançado no ano passado.

Um sonho na Cidade Nova

A Biblioteca Comunitária Rosa Luxemburgo, localizada atualmente na Cidade Nova 8, em Ananindeua, foi fundada em 20 de julho de 2013, pela professora Fátima Afonso Veiga, de 58 anos, e os companheiros Daniel Veiga, seu marido, Dario Rodrigues, Selma Arnour, Márcia Libonatti Batista e Sara Suliman. De acordo com Fátima, a ideia nasceu do sonho de difundir literatura e demais artes, como música e cinema, entre jovens e crianças das periferias da Região Metropolitana de Belém.

“Tudo começou depois que meu pai faleceu e deixou um pequeno apartamento para os filhos. Tivemos, então, o sonho de construir uma biblioteca comunitária, e começamos com a doação de nossos próprios livros. Depois, passamos a organizar eventos, como lançamentos de livros, saraus e apresentações musicais. Neste ano, fomos contemplados com projetos no Edital de Cultura Aldir Blanc”, relata Fátima, que além de educadora, cursa atualmente o sexto semestre do curso de Serviço Social. “O trabalho com a biblioteca fez com que eu voltasse a estudar e continuasse na batalha”, completa.

A Biblioteca Rosa Luxemburgo, que homenageia a filósofa e economista marxista nascida na Polônia, faz parte de uma rede de bibliotecas comunitárias estaduais chamada “Viajando na Leitura”. “Estamos em Belém, Ananindeua, Marabá, Igarapé, Açu, São Domingos do Capim e Cametá”, informa. Para contribuir com a biblioteca comunitária, basta acionar a entidade pelas redes sociais ou pelo email b.c.rosaluxembugo@gmail.com.

Biblioteca Carolina Maria de Jesus

Coordenada por cinco jovens negras, ativistas do movimento feminista negro, a Biblioteca Comunitária Carolina Maria de Jesus, que recebe o nome da autora de “Quarto de Despejo”, é um espaço localizado no Conjunto Maguari, Alameda 23, nº 49. “A biblioteca teve início em 2016, como resultado de atividades do Movimento de Articulação Feminista. Atualmente, é formado apenas por mulheres negras, o que ocorreu de forma espontânea. Alguns homens participaram, mas acabaram não ficando”, explica Laila Rebeca Nunes, 33 anos, engenheira ambiental e mediadora de leitura. Além dela, fazem parte da organização: Carolaine Sousa, Beatriz Santos, Rebeca Duarte, Ádria Catarina, Vitória Maciel e Lucidéa Paiva.

“As bibliotecas comunitárias são iniciativas da comunidade para a comunidade. O nosso trabalho se dá a partir da ideia de que a literatura é um direito humano. Assim, trabalhamos diretamente com escritores, como Preto Michel, Shaira Mana Josy e Yuri Verbo. Somos próximas do movimento hip-hop”, afirma a mediadora.

A Biblioteca Carolina Maria de Jesus faz parte da rede Amazônia Literária, que é formada pelas bibliotecas comunitárias Espaço cultural Nossa biblioteca, localizada no bairro do Guamá; Bombomler, no bairro da Marambaia; Encanto dos saberes e Tralhoto Leitor, em Outeiro; Moara, no bairro de Águas Lindas, em Ananindeua; e Rio de Letras, no bairro do Coqueiro, em Belém.

5 Escritores paraenses clássicos (BOX)

Dalcídio Jurandir

Dalcídio Jurandir nasceu na Vila de Ponta de Pedras (atual município de Ponta de Pedras), em 1909, e faleceu em 1979. É autor do chamado Ciclo do Extremo-Norte, que consiste em 10 romances que tratam da vida amazônica. Foi vencedor do prêmio Machado de Assis, em 1972.

Eneida de Moraes

Eneida de Moraes nasceu em Belém, em 1904, e faleceu no Rio de Janeiro, em 1971. Eneida foi uma cronista e jornalista. Alguns de seus livros mais importantes são “Aruanda”, “Banho de Cheiro” e “História do Carnaval Carioca”.

Bruno de Menezes

Bruno de Menezes nasceu em 1893, em Belém, e faleceu em Manaus, em 1963. É considerado pela crítica um dos mais importantes poetas modernistas no Pará, com o livro “Batuque”. Também é autor de “Crucifixo”, “Poesia” e “Lua Sonâmbula”, dentre outras publicações.

Lindanor Celina

Lindanor Celina nasceu em Castanhal, em 1917, e faleceu em Clamart, na França, em 2003. A escritora foi cronista, jornalista, memorialista e romancista. Entre seus livros estão “Menina que vem de Itaiara”, “Estradas do tempo-foi” e “Pranto para Dalcídio Jurandir”.

Haroldo Maranhão

Haroldo Maranhão nasceu em 1927, em Belém, e faleceu em 2004, no Rio de Janeiro. Foi um escritor, jornalista e advogado, que ficou conhecido pelos romances “Rio de Raivas”, “Cabelos no Coração” e “Memorial do Fim”.






Edição: Alek Brandão
Fonte: O Liberal (texto e imagem)

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