Processo de digitalização de acervos de livros ainda é lento no Pará
Pandemia atrapalhou o trabalho de digitalização de obras raras da Fundação Cultural do Pará (FCP)
A disponibilização de acervos de obras digitais para o público por bibliotecas tornou-se uma urgência durante a pandemia do novo coronavírus. A dificuldade para acessar documentos, livros e revistas que estão nas bibliotecas de todo o mundo atingiu fortemente o trabalho de pesquisadores e de estudantes mais pobres, que geralmente tem as maiores dificuldades materiais no estudo. No entanto, a digitalização dos acervos que poderia resolver ou melhorar o acesso da população ainda é muito lento e com poucos investimentos.
A pandemia obrigou muitas bibliotecas a reverem toda a estrutura de funcionamento para evitar o contágio pela covid-19. A Fundação Cultura do Pará (FCP), responsável pela maior biblioteca pública do Pará - a Arthur Vianna, tem limitado o acesso físico ao público. Uma das alternativas para acessar pelo menos as obras raras é o acervo digital (http://www.fcp.pa.gov.br/obrasraras/), que durante a pandemia registrou expressivo aumento com o dobro de acessos em um ano. A consulta ao acervo digital de obras raras da FCP saltou de 45 mil acessos, no início do ano de 2020, para 95 mil em junho deste ano. Nos últimos seis meses foram 538.175 acessos.
Contraditoriamente a esse aumento, a disponibilização de novas obras raras tem sido lenta, e piorou com a pandemia, já que os servidores têm trabalhado em uma escala de revezamento. Atualmente, estão disponíveis aproximadamente 990 obras. Há na fila de espera para serem digitalizados mais de cinco mil títulos raros.
Entretanto, os servidores conseguem digitalizar apenas dois livros ao mês. Antes da pandemia, as equipes conseguiam digitalizar quatro livros por mês. Se levarmos em consideração a digitalização mais eficiente da FCP, de quatro livros mensais, serão necessários aproximadamente 1.250 meses até que todo o acervo histórico esteja digitalizado, o que corresponde a mais de 104 anos de serviço ininterrupto.
A conta demonstra a necessidade de investimento em servidores e tecnologia. Segundo o professor de biblioteconomia da Universidade Federal do Pará (UFPA), Hamilton Oliveira, essa transformação dos acervos físicos em digitais das bibliotecas é um processo que tem sido muito lento. “Em relação à digitalização do próprio acervo as bibliotecas tem avançado um pouco e de forma lenta, por conta do pouco apoio do poder público às instituições nas disponibilização de materiais próprios”, explicou.
Segundo o bibliotecário do setor de obras raras, Elson Andrey dos Anjos, a norma é disponibilizar para que todos tenham acesso gratuito e sem dificuldades às obras. O setor é muito procurado por estudantes que estão concluindo os cursos, professores universitários e pesquisadores em geral. “Os livros tem que passar por uma série de tratamentos. Você vai até uma estante com livro antigo todo empoeirado, que vai para outro departamento ser restaurado. Daí será digitalizado e editado o mínimo possível. Por fim, vai para o processo de catalogação da obra, para ser disponibilizado para o público”, revela.
Se a disponibilização de obras raras é demorada, a situação piora quanto a disponibilização de obras literárias contemporâneas pelas bibliotecas. O serviço ainda não tem nenhuma perspectiva para ser disponibilizado no Pará.
O serviço funciona como empréstimo físico com a limitação de empréstimos de acordo com o número de exemplares disponíveis. O usuário escolhe o livro no sistema, faz o download, e tem uma semana para ler a obra. Enquanto isso, outro usuário tem que esperar o livro ficar disponível para poder emprestá-lo. O serviço é oferecido por grandes empresas com muito capital para pagar editoras e autores, o que torna os contratos com instituições públicas altíssimos. Segundo a Fundação Cultural do Pará (FCP), não existe nenhum processo formalizado de contratação de empresa e nem licitação aberta, portanto é prematuro tratar do assunto.
As dificuldades residem principalmente por causa dos direitos autorais. Dependendo do pacote de livros disponibilizados, os valores chegam, segundo o professor Hamilton Oliveira, a milhares de reais. “O problema é a falta de uma política de acesso à informação e à cultura. De modo geral, quando vamos olhar para os orçamentos municipais, estaduais e federal de acesso à cultura e informação, vemos que são orçamentos mínimos. É difícil querer muito de uma área tão pouco aquinhoada, falta uma compreensão e sensibilidade para isso”, comenta Hamilton.
Edição: Alek Brandão
Fonte: O Liberal (texto e foto)
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