ARTIGO DO DIA - Por Nilson Mesquita



Edição: Paulo Henrique e André Melo.

Procuro sempre acionar meus colaboradores para que me enviem opiniões diversas que retratem procedimentos inerentes aos conceitos que certificam a exatidão de fatos reais. Solicitei ao articulista Nilson Mesquita que em sua passagem por Brasília, escrevesse algo que lhe chamasse atenção no dia a dia da Capital Federal e fui atendido com o relato que apresento abaixo:(PV)

“O 4º poder”

Brasília, 20 de setembro de 2010

Meu caro amigo Paulo Vasconcellos,

Logo que lhe informei sobre minha viagem a Brasília, você imediatamente pediu-me um artigo sobre a capital do país, que fosse de preferência à frente do Palácio do Planalto onde poderia escrever algo sobre a atualidade, quando vivemos os dias que antecedem a eleição dos nossos representantes do executivo e legislativo Federal e Estadual.
Fiquei muito lisonjeado com seu pedido e fiz o possível para atendê-lo, entretanto indo em direção a Praça dos Três Poderes, tive que passar pela rodoviária onde me deparei com uma cena emblemática do cotidiano da cidade que me chamou muita atenção, registrei-a com minha pequena câmera e resolvi escrever não um artigo, mas esta carta, mostrando o sentimento que aflorou em mim naquele cenário
Lembro-me, e me inspirei que na época da ditadura militar, Chico Buarque de Holanda compôs uma belíssima música que chamou “Meu caro amigo”, onde se expressava em forma de carta para Henfil, relatando ao grande cartunista que se encontrava no exílio, suas observações sobre a vida no país. Em certo trecho da música ele diz que, “a coisa aqui está preta” dando uma idéia da situação difícil que a ditadura militar impunha aos cidadãos, falando da falta de liberdade, da repressão política com o agravante da tortura e do desaparecimento de muitos brasileiros valorosos, dizia, enfim, da dura realidade que experimentava o país.
Meu caro Paulo, hoje felizmente vivemos em uma democracia, que quer dizer, o poder da maioria, onde as oportunidades devem ser iguais para todos, onde a idéia de cidadania deve ser exercida na sua plenitude, direitos e deveres totalmente iguais.
A cena que registrei, mostra uma vendedora de churrasquinho com seus clientes, em primeiro plano, vendo-se ao fundo a Esplanada dos Ministérios, o Congresso Nacional e o Palácio do Planalto que não aparece, mas está no canto superior esquerdo, visualizando-se também a Catedral de Brasília.
Refletindo sobre esta cena inusitada, pensei que no Brasil pudesse existir um 4º poder, o povo, que independentemente das políticas públicas, tem que se virar e tocar sua vida de forma a não passar necessidades. Parece óbvio, mas seria o poder mais importante e como na imagem, deveria estar à frente de todos os outros poderes que foram criados oficialmente para defendê-lo, mas que o esquece logo após as eleições. A administração pública está cada vez mais burocratizada e distante do cidadão comum que não consegue se aproximar dos seus direitos a não ser quando sonha no momento do voto, esse sim um exercício de pura democracia. Mas o sistema engole tudo após o pleito e se esvai em corrupção e desejos incontidos de poder.
O 4º poder deveria engolir todos os outros e tornar-se único. Enquanto os outros poderes fazem questão de ter o povo deseducado, pobre, sem saneamento básico, esse 4º poder levantaria a bandeira da qualidade de vida para todos, nascendo aí um processo de distribuição de renda onde se eliminaria os 28,8 milhões de pobres que segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD 2009, ainda existem no Brasil.
Caríssimo amigo, como você pode ver, esta carta trata-se na verdade de um sonho, onde o bem suplantaria o mal, a felicidade superaria a tristeza e a ética teria um lugar privilegiado na cabeça das pessoas.
Imagine como seria interessantíssimo o 4º poder, ele poderia sem problema legislar em causa própria, aumentando seu próprio salário e ficaria tranquilo, pois caso fosse ruim para alguém, todos arcariam juntos com as conseqüências. Os 10% ou mais cobrados nas obras superfaturadas não iriam para o bolso de ninguém do Executivo, mas parariam nas suas próprias mãos deixando todos cada vez mais ricos. Prédios, como aquele que o Juiz Nicolau construiu em São Paulo que custou vários milhões de dólares, daria para construir milhares de moradias que não precisariam ser invadidas, pois o trabalhador seria reconhecido pelo seu próprio esforço e competência e não pela “cor do seu sangue”, pela sua aparência ou “quem os indique”.
Após essa visita que fiz livremente, sem burocracia a um verdadeiro representante do povo, vou ver se consigo chegar o mais perto possível dos outros. Uma prima querida aqui de Brasília me disse que o pessoal dos três poderes não tem muita afinidade com o 4º poder, “a coisa aqui está preta” para chegar lá, por isso não sei se poderei cumprir o que lhe prometi. Tenho certeza, porém que a visita mais importante eu já fiz e te afirmo que fiquei extremamente feliz e posso garantir que conheço a melhor parte da nossa capital sem aquela maquiagem e sem as máscaras que somos obrigados a engolir ai distante no interior da Amazônia.

Um grande abraço para todos, espero retornar em breve e encontrar o “4ª poder”, no poder do Pará.

Nilson Mesquita

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