Sempre pensando no presente



Fernanda Takai ficou conhecida como a voz feminina da banda mineira Pato Fu, mas já fez mil coisas fora do grupo. Ao longo de mais de duas décadas, escreveu e cantou temas distintos, fez parcerias com artistas brasileiros e internacionais, como Duran Duran e o guitarrista do The Police, Andy Summers, prestou tributo a Nara Leão, lançou três livros e foi construindo a trajetória sem muito alarde, mas com muito conteúdo. Com 15 álbuns e 6 DVDs, a artista continua “apenas trabalhando”. “Meu segredo é não ficar falando de futuro”, Atualmente, Fernanda está na estrada com o show “Na medida do impossível”, que dá nome ao primeiro CD solo autoral da carreira. A turnê ficou até o último domingo (27) no Teatro da Caixa Cultural, em Brasília, cidade onde a artista fez uma participação especial no show da banda inglesa Duran Duran, em 2012. 
A cantora fez um dueto com o vocalista Simon Le Bon na “Ordinary world”. “Eu sou fã da banda, tinha ido para ver e eles me chamaram para subir no palco”, diz. O álbum mais recente foi lançado em 2014 e traz músicas de mundos diferentes, mas que se encaixam e formam um trabalho que tem significado como um todo. “O CD dialoga bem com esses universos bem diferentes”, afirma ela.
“Nos títulos, nas músicas, acho que se não fosse como está no disco o trabalho ficaria fragmentado”, diz a cantora. “Tanto na minha carreira solo, como no Pato Fu, a gente nunca abandonou o formato CD. Se o artista não desiste do formato, ele existe para frente.”
Nossa intenção de carreira sempre foi a longo prazo, não só consumir música de novela. Na trilha de novela é ótimo porque sabem o que a gente faz, mas a música é interessante na estrada”
Fernanda afirma ser bom que, mesmo com a possibilidade de se lançar singles e trabalhos com número menor de músicas, é importante que exista o “formato álbum”.
“Sou do tipo que ainda ouve discos”, diz um trecho da música “Seu tipo”, parceria de Fernanda com a cantora Pitty. Entre autores de músicas, parcerias e participações, “Na medida do impossível” tem ainda Julieta Venegas, George Michael, Zélia Duncan, Marcelo Bonfá (ex-baterista da Legião Urbana), Samuel Rosa (Skank), Benito de Paula, Charles “Cholly” di Pinto, Renato Barros (Renato e Seus Blue Caps) e os padres Zezinho e Fábio de Mello.O disco traz um pouco mais do lado compositora da artista. Autora também de três livros e acostumada a “abastecer o site toda semana” com detalhes sobre os trabalhos, Fernanda acha que seu lado mais evidente é como cantora. “Sou mais cantora do que qualquer coisa porque foi assim que fui me formando como ouvinte. Então eu gostava de várias músicas quando eu era pequenininha, fazia minhas coleções e gostava de acompanhar os cantores.”
Fernanda Takai não fica falando do futuro e também não se prende ao passado ou pensa o trabalho de forma imediata. Mesmo quando tem uma canção como trilha de novela, o intuito dela, ou do Pato Fu, é sempre proporcionar uma amostra do que a obra como um todo pode oferecer.
“Nossa intenção de carreira sempre foi a longo prazo, não só consumir música de novela. Na trilha de novela é ótimo porque sabem o que a gente faz, mas a música é interessante na estrada.”
Segundo a cantora, a geração de músicos que surgiram para o mercado nos anos 1990 sempre pensou no trabalho como algo perene. “A gente, o Rappa, Nação Zumbi, Planet Hemp temos mais ou menos a mesma idade, a gente teve outras bandas também, então chegou mais maduro, querendo fazer uma demo legal, ter um técnico de som bom”, diz. “A preparação que a gente teve, desde o final dos anos 1980, fez a gente pensar; ‘tem que se organizar.”
No início, o Pato Fu era um trio, com uma mulher e dois homens, no mesmo formato dos primeiros anos dos Mutantes. Assim como Arnaldo e Rita Lee, Fernanda e o guitarrista John Ulhoa mantinham um relacionamento amoroso. Com um som inventivo, cheio de misturas e bom humor, não faltaram comparações com a banda dos irmãos Baptista. O tempo mostrou que a relação entre Pato Fu e Mutantes parou por aí. John e Fernanda continuam casados e os trabalhos, tanto na banda quanto na carreira solo da cantora, se desenvolveram por caminhos bem distintos.
“Mutantes é importante, é moderno até hoje, mas se tem que fazer uma conexão é com a Rita Lee, que conheci muito antes, a rainha do rock mesmo. Minha vivência é de Rita Lee solo”, diz Fernanda.
Ela fala de Rita, Clara Nunes e Nara Leão como as três cantoras que mais ouviu. A Nara, ela dedicou um disco inteiro: “Onde brilhem os olhos seus”, o primeiro de Fernanda sem o Pato Fu. “É tudo fundamentado. Tudo o que a gente fez na carreira tem motivação genuína. É difícil atacar a gente por uma escolha.”
Fernanda e John estão juntos desde 1993, casaram dois anos depois, tiveram a filha Nina e compuseram, gravaram e lançaram diversas músicas.”Na medida do impossível” tem a produção do guitarrista, e o casal ainda tem um estúdio em casa, onde são gravados os trabalhos deles. Para quem pensa que essa intersecção entre trabalho e vida pessoal atrapalha a relação, a cantora afirma que não é assim. “Não sei como é outra fórmula. Posso dizer que foram escolhas felizes e produtivas. A gente construiu um patrimônio, nossa casa. A gente pode viajar, cantar com que a gente quer. O que posso dizer é bom viver da música que a gente faz. A fórmula é muito boa. É uma fórmula secreta e ao mesmo tempo tão explícita.” John não participa da banda que acompanha Fernanda na turnê do álbum mais recente. A cantora sobe ao palco acompanhada pelos músicos Larissa Horta (baixo e vocais), Lenis Rino (bateria e vocais), Lulu Camargo (teclado e gaita) e Tiago Borba (guitarra, violões e vocais).
O repertório do show em Brasília tem música de “Na medida do impossível”, de outros momentos da carreira solo e talvez uma música do Pato Fu. “Não costumo cantar músicas da banda na carreira solo para não competir comigo mesma.”
Em outubro, ela se junta novamente à banda para o show “Música de brinquedo”. O grupo também promove o álbum “Não pare pra pensar”, de 2014,  primeiro disco de inéditas desde “Daqui pra frente”, lançado em 2007. O que vem depois ainda não é conhecido, afinal, Fernanda trabalha o presente, não fica falando do futuro.