Detentos realizam pré-lançamernto de livros na Feira Pan Amazônica

Detentos custodiados pela Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado participaram da XX Feira Pan-Amazônica do Livro, no estande da Secretaria de Estado de Educação (Seduc), fazendo o pré-lançamento de cinco obras escritas por eles: “Boneca de Vidro”, “O Menino que Voava”, “Quando o Sol Se Por”, “Mulheres: A Verdadeira Beleza do Ser” e Pequenos Defensores da Escola”. Os detentos são atendidos pelo projeto “Remição pela Leitura – A Leitura que Liberta”, realizado nas unidades prisionais da Região Metropolitana de Belém pela Susipe, em parceria com a Seduc.
O detento Antônio Carlos de Almeida, custodiado no Centro de Recuperação do Pará II (CRPP II), escreveu os livros “O menino que voava”, “Pequenos defensores” e “Mulheres” para exposição no estande da Secretaria de Estado de Educação (Seduc), na Feira. Os livros tratam de histórias de ficção e poesia.
Para o detento, o pré-lançamento do livro na Feira Pan foi a realização de um sonho. “Pra quem vivia no crime e que tinha como destino certo a morte, eu dentro do cárcere descobri um novo sentido para a minha vida. Graças ao apoio que eu tenho da minha família e também dos professores e servidores da Susipe, eu mudei de vida e agora eu desejo ser escritor. Hoje parte desse sonho já se realizou e eu só tenho agradecer a todos que me apoiaram. Eu não quero a vida do crime nunca mais”, disse.
Para o detento Elias Daniel, que também apresentou duas obras autorais na Feira, a leitura e a escrita deram um novo sentido para a vida dele. “Hoje eu trouxe dois livros para mostrar aqui: ‘Bonecas de Vidro’ e ‘Quando o sol se pôr’. Os dois trazem um pouco de tudo o que eu já li, durante a minha permanência no cárcere e nenhum deles tem a ver com crimes. Eu pesquisei e estudei muito para escrever esses dois livros. Todo o conhecimento que eu nunca tive oportunidade de ter lá fora, eu tive na prisão. Hoje em dia eu penso completamente diferente, eu quero mudar e agora estou tendo oportunidade pra isso”, explicou o detento.
O projeto “Remição pela Leitura” leva ao cárcere obras literárias selecionadas por professores e coordenadores pedagógicos. Os internos recebem os livros e a partir daí tem 30 dias para leitura e elaboração de um texto. Os detentos que já tem o ensino fundamental ou médio apresentam um relatório ao final de cada leitura e os que possuem nível superior, escrevem uma resenha.

Durante esse período, eles tem encontros programados com os professores para esclarecer dúvidas sobre interpretação e encaminhamento dos textos. Uma comissão formada por três professores da Seduc avalia os trabalhos e atribui notas de 0 a 10. O detento que obtiver a nota mínima 5 estará apto a diminuir três dias da sua pena.
Para Ivaldo Capeloni, diretor de Reinserção Social da Susipe (DRS), os detentos estão servindo de exemplo para outros internos. “Eles foram além da leitura e já começaram a treinar também a escrita. Isso é um exemplo não para os presos, mas para qualquer outra pessoa, pois mostra que mesmo diante das dificuldades é possível se conseguir o que quer. A nossa ideia é que muito brevemente nós possamos fazer o lançamento desses livros. O projeto começou no ano passado e já está rendendo bons frutos”, disse Ivaldo Capeloni.
O projeto chegou ao Pará através defensora pública Anna Izabel Santos. Após a publicação de uma portaria pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ainda em 2012, a defensora montou um projeto piloto e construiu parcerias para que a iniciativa contemplasse também os internos custodiados nas 44 unidades penais do Estado. “Por enquanto só temos em 3 unidades: no Centro de Reeducação Feminino (CRF), na Colônia Penal Agrícola, de Santa Izabel e no CRPP II, mas até o final do ano queremos abranger o projeto para todas as unidades da região metropolitana de Belém. Nosso objetivo é fazer com o que o detento saia do sistema, uma pessoa melhor do que entrou e isso só conseguimos através da educação”, afirma Capeloni.
No total, 28 internos participam do projeto de leitura. “Hoje estamos colhendo os bons frutos de um trabalho muito extenso. Com isso a gente mostra que dentro do cárcere tem coisas boas, algo que somente com a educação nós conseguimos. Eu estou muito feliz porque foi uma luta muito grande e vamos continuar trabalhando cada vez mais, para alcançar resultados bem melhores”, disse Aline Mesquita, da Coordenadoria de Educação Prisional (CEP).
“O projeto é mais uma oportunidade que a Seduc e a Susipe levam as pessoas em privação de liberdade. De uma população carcerária de quase 13 mil, 17% tem a oportunidade de ter acesso a educação. Para isso nós temos professores doutores, mestres e especialistas distribuídos em quatro unidades prisionais que desenvolvem oficinas para que o detento adquira a prática de ler e fazer um relatório de leitura ou resenha”, explica a coordenadora de Educação de Jovens e Adultos, Núlcia Azevedo.


Edição: Roberto Lisboa
Texto: Giullianne Dias (com colaboração de Márcio Flexa) 
Foto: Thiago Gomes
Fonte: Ascom Feira do Livro

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