Seminário Belém 400 anos termina com discussão sobre Amazônia Indígina


A última das oito mesas do Seminário Belém 400 anos, na tarde desta quarta-feira, 1º, na Feira do Livro, apresentou ao público o debate “Amazônia Indígena” comandado pelas pesquisadoras Ana Maria Linhares e Rosani de Fátima Fernandes, com mediação da professora Rosa Cláudia Pereira, no Auditório Eneide de Moraes.
Diante de uma platéia formada principalmente por estudantes, Rosani Fernandes, que é da etnia Kaingang, natural de Santa Catarina, arrancou aplausos do público ao criticar a visão estereotipada que perdura sobre os povos indígenas até hoje. “Está na hora de olhar os povos indígenas a partir da lente da diversidade cultural”, afirmou Rosani, que é antropóloga e desenvolve sua tese de mestrado junto a etnia Tembé, em Santa Maria do Pará.
Em sua fala, a pesquisadora defendeu principalmente o combate à visão romântica dos povos indígenas, aquela de um povo dócil e que vive em total harmonia com a natureza. “As pessoas pensam que a gente arranca todas as penas das aves para fazer nossas indumentárias sem matar nenhuma delas. Não. A gente mata, come e depois utiliza as penas. As pessoas imaginam que os índios não derrubam as árvores. Não. A gente derruba várias árvores para fazer as nossas casas. Mas, tudo com um modelo de desenvolvimento sustentável”, contou.
Rosani lembrou ainda que mais de 300 mil indígenas vivem hoje nas grandes cidades brasileiras e o índio precisa deixar de ser visto única e exclusivamente da floresta. “As cidades estão chegando até a aldeia. As aldeias estão se tornando diminutas e sem condição de sobrevivência”, afirmou.
A imagem do indígena dócil, construída principalmente durante o Brasil imperial, foi o tema da pesquisadora Ana Maria Linhares, que explicou as inúmeras referências marajoaras presentes não só em Belém, mas em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro. “Naquele momento estava se buscando construir uma identidade nacional e os índios marajoaras eram considerados índios pacíficos, de bom temperamento e por isso foram escolhidos para essa representação”, explicou.
Aluna do ensino Médio, como boa parte da pláteia, a estudante Raquel Magno se mostrou surpresa com a fala das pesquisadoras. “É engraçado porque a gente quase nunca se dá conta, mas costuma agir e pensar exatamente dessa maneira. Aí quando alguém chama atenção pra esses aspectos você acaba refletindo”, disse, entusiasmada.

Edição: Roberto Lisboa
Texto: Anna Peres 
Foto: Mácio Ferreira
Fonte: Ascom Feira do Livro

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