Encontro literário discute racismo com o escritor cubano Carlos Moore


“Terra. O país de todos”. É com este tema que a XX Feira Pan Amazônica do Livro abre o evento para várias discussões, como questões ambientais, migrações, conflitos territoriais e políticos, xenofobia e racismo.
Um dos escritores que mais discutem a questão racial é o cubano Carlos Moore, que esteve na noite de hoje, 01, no Encontro Literário. Pela primeira vez na Feira do Livro, Moore falou ao público sobre dois de seus livros: “Pichón” (2008) e “Racismo e Sociedade” (2007/2012).
Em sua fala, Carlos Moore foi crítico em relação à realidade da sociedade brasileira, considerada por ele como racista. “Meu discurso é sobre todo o percurso de um negro em uma sociedade. Aqui no Brasil as leis anti-racistas não valem e na minha opinião, o racismo é a última fronteira do ódio”, afirma o escritor.
O discurso do cubano atraiu estudantes, pesquisadores, professores e demais interessados em discutir a questão. Alunos da Escola Alvorada, do município de Marabá, vieram para Belém em excursão para visitar a Feira. Para a coordenadora pedagógica, Alessandra Rodrigues, é fundamental incentivar a conscientização dos jovens. “Chegamos hoje às 18h e viemos direto para a palestra do Carlos Moore. Acho que meus alunos ainda não tem essa questão definida do que é o racismo, desse problema que o Brasil vive e que precisa sim ser debatido em escolas, em família, em eventos como este”, avalia a professora, comentando que a escola já vem há dez anos para a Feira.
Escritor, pesquisador e cientista social dedicado ao registro da história e da cultura negra, Carlos Moore é uma referência internacional no debate e na luta contra o racismo em escala mundial. Exilado no Brasil há mais de 15 anos, o intelectual possui um papel de destaque na divulgação das ideias pan-africanistas e da emancipação negra. Mora em salvador (BA) desde 1998, escreve sobre suas memórias e pesquisa sobre a cultura latino-americana. Possui doutorado em Etnologia (1979), e em Ciências Humanas (1983), ambos pela Universidade de Paris-7.
Carlos Moore considera que atualmente existem duas grandes ameaças à humanidade: o racismo e os problemas ambientais. “Para mim, o racismo é uma das maiores ameaças ao ser humano, porque corrompe à sociedade. Ele avança, em vez de retroceder. Com as redes sociais, as tecnologias e a nanotecnologia, ele cresce mais ainda. O racismo está em todos os lugares e os maiores racistas estão entre os cientistas, o que é mais preocupante”, avalia o ativista.
O escritor se diz um defensor dos grupos excluídos, “os negros e os indígenas estão excluídos das vantagens da sociedade, os brancos sempre foram super representados, temos que quebrar este monopólio que os brancos têm sobre o mundo”, enfatiza.
O Encontro Literário de amanhã, 02, vai trazer o publicitário e escritor João Carrascozza, às 19h, no auditório Dalcídio Jurandir.


Edição: Roberto Lisboa
Texto: Camille Nascimento
Fonte: Ascom Feira do Livro

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