Mensagem da Semana



Qual é a sua desculpa? - Jerônimo Mendes

O mundo seria fantástico se as pessoas fizessem exatamente aquilo que gostam, entretanto, poucos iluminados ou “sortudos” conseguem essa proeza ao longo da vida. A questão aqui não é dinheiro, bens materiais, sucesso ou coisa que o valha; a questão diz respeito aos sonhos não realizados. Conheço muitas pessoas que gostariam de estudar filosofia, arqueologia, biologia, cuidar de uma pousada à beira mar ou ainda passar um período no Tibete, mas falta-lhes coragem e certa ousadia para exercer um direito fundamental na vida do ser humano: encontrar a própria felicidade.
Em geral, preferimos dizer que as coisas estão muito distantes, por vezes impossíveis quando, na verdade, são muito inconvenientes. Desde pequenos somos orientados a perseguir carreiras promissoras como medicina, direito, engenharia ou até mesmo o sonho não realizado dos pais como ser modelo ou jogador de futebol a qualquer preço. Embora os pais desejem o melhor para os filhos, esquecem que a vocação é uma questão pessoal e não importa o que os filhos querem ser na vida, mas a forma como vão exercer a profissão que escolherem.

Por conta disso, o mundo está cheio de profissionais medianos que se prestam a exercer uma profissão sem o menor gosto ou dedicação que justifique o seu rendimento. Quando dizemos que os nossos sonhos estão muito distantes ou são impossíveis, na verdade queremos dizer o seguinte: para realizar nosso sonho não estamos dispostos a pensar e estudar mais, economizar mais, dedicar mais tempo para planejar, parar de almoçar fora durante um ano, abrir mão dos brinquedinhos eletrônicos, trabalhar nas horas de folga. Realizar sonhos exige esforço e disciplina acima da média, algo que poucos estão dispostos a praticar.

Exercer qualquer profissão com dignidade é para poucos. Com frequência ouvimos bobagens do tipo “se eu tivesse um emprego melhor seria mais feliz”, “se eu ganhasse mais, poderia viver melhor” ou ainda “quando eu mudar para um emprego melhor vou me dedicar mais”. De fato, vivemos a vida tentando justificar a falta de iniciativa e ação para as coisas que dependem única e exclusivamente de nós mesmos, mas preferimos atribuir a culpa ao chefe, aos pais ou ao emprego que nos escraviza. Esquecemos o fato de que, para ter, precisamos, acima de tudo, ser melhores a cada dia em qualquer emprego.

O fato é que a solução para os nossos maiores dilemas está mais perto do que imaginamos. Não precisamos ir para o Tibete encontrar a iluminação tampouco fazer o Caminho de Santiago embora saibamos que experiências desse tipo podem ser inesquecíveis. Imagine quantas pessoas dizem que é praticamente impossível mudar de carreira quando um acidente, uma demissão ou mesmo uma fatalidade convencem-nas do contrário.

Há pouco tempo tive a felicidade de conhecer João Carlos Martins, internacionalmente famoso por ser um dos maiores intérpretes de Johann Sebastian Bach. Fui fazer uma palestra em Belo Horizonte e, por uma dessas coincidências do destino, tomamos o mesmo veículo à disposição dos palestrantes. Contava-me ele, com alegria nos olhos que, por duas vezes seguidas, a mão dura do destino tocou-lhe os ombros. Na primeira, ele perdeu o movimento dos dedos da mão direita, mas continuou tocando com os da mão esquerda. Mais adiante, perdeu os movimentos da mão esquerda. Imagine o que significa isso para um pianista com 40 anos de história. Entretanto, este brasileiro de fibra não desanimou; propôs-se a estudar regência e hoje é um grande maestro.

Nós, seres humanos, somos capazes de coisas incríveis. Pense na história do brasileiro Gonçalo Borges que hoje ganha à vida pintando quadros com a boca e os pés, no australiano Nick Vujicic que realiza palestras pelo mundo todo mesmo sem os pés e as mãos e outros tantos que não dão a mínima para as adversidades e fazem delas a sua alavanca de crescimento. As pessoas que realizam seus sonhos percorrem um grande caminho. Não existe esse tal de almoço grátis. Quando tudo parece estar contra nós, ressurgem forças ocultas de onde menos esperamos.

Acredite ou não, nós sempre temos escolha. Tudo aquilo em que você se concentra tende a fortalecer. A questão é simples: o que você está disposto a fazer para tornar as coisas menos impossíveis? Quantas desculpas você ainda pretende criar para adiar o sonho de fazer aquilo que realmente deve ser feito? Quando você se propõe a mudar, o mundo ao seu redor muda também. Experimente, planeje, leia, concentre-se e as coisas se ajeitam quando você menos imagina. Não mude de emprego, mude de atitude, sofra menos, agradeça mais.

Parafraseando Andrew Matthews, escritor e cartunista australiano, “a gente fica motivado quando está fazendo as coisas, não quando está falando nelas”. É a ação que entusiasma e revela a oportunidade. Trata-se de mergulhar de corpo e alma. O universo recompensa o esforço, não as desculpas.