Rafael Lima, que partiu na semana passada, deixou novo álbum pronto para lançamento

 O artista paraense, que fez sucesso na Suíça, possuía letras críticas e poéticas e desenvolvia projeto social.

Rafael Lima era músico autoditad, conta a filha, Ju Abe. (Celso Malcher/ Divulgação)



Falecido na sexta-feira, 7, Dia do Compositor, o artista paraense Rafael Lima deixou um novo álbum gravado “Sinal Aberto”, que será lançado até o final do ano, segundo a filha dele, a também cantora Ju Abe. Rafael estava sofrendo de um câncer cerebral e partiu aos 65 anos, após 45 anos de carreira. Três faixas do projeto tiveram o lançamento antecipado, inclusive, com videoclipes, enquanto ele estava em internação hospital.

“Milícia da polícia tá mantando na perifa/ Levanta quero ver, perifa levantar”, diz a letra crítica do reggae “Pau Torando”, que denuncia a violência social e convida a juventude a um “levante popular”. Em “O Bruto” as guitarras do rock evidenciam a crítica ao governo de Jair Bolsonaro. Enquanto na canção “Gotas de Sol”, composta em parceria com Joãozinho Gomes, Rafael mostra o lado sensível e poético, como no verso “Semear os canteiros dos olhos, perdida visão/ fazer dessa tocha o clarão que nos falta/ Fazer dessa esfera uma imensa ribalta e cantar!”

O lançamento está sendo coordenado por Nao Abe, ex-mulher do artista, que planeja cerca de 10 faixas para o projeto, ainda em finalização.

Atuação política, musical e social

Para Rafael Lima a música era instrumento de críticas políticas e sociais, mas esse intento não ficava apenas nessa esfera. Há cerca de oito anos, o cantor e compositor desenvolvia o projeto social dando aula de violão para crianças e adolescentes em vulnerabilidade social no bairro do Guamá.

Rafael Lima dando aula de música. (Arquivo pessoal)



A primeira turma do projeto “Sala de Cordas” ocorreu no Espaço Cultural Nossa Biblioteca, com financiamento do Criança Esperança. Após o projeto ter se encerrado, Rafael chegou a doar todos os violões do curso para os alunos e voltou a dar aulas por conta própria.

Um dos alunos, Danilo Bezerra, deixou uma mensagem emocionada de reconhecimento ao mestre no Facebook: “Estará eternamente na minha lembrança, meu grande amigo. Foram anos juntos com o projeto Sala de Cordas. Tudo o que eu sei de música hoje, tudo o que eu tenho de referência foi graças a você, meu amigo”.

Passado grandioso

Em 1994, Rafael Lima teve participação grandiosa no Festival de Jazz de Montreux, na Suíça, país em que chegou a morar e a lançar três discos: “Arribadas” (1994), “Apuí” (1996) e “Brasil, 500 years, so what?” (2000). De volta a Belém, lançou o álbum “Nômade” (2015), idealizou o Festival de Jazz Jacofest e foi finalista do Terruá Pará, projeto que elevou a música e artistas paraenses ao sucesso nacional da atualidade.

Rafael deixou esposa e três filhos, dentre os quais influenciou dois na carreira musical. A filha mais velha, Ju Abe, é cantora e compositora e já lançou dois álbuns em Belém, enquanto o caçula, Lucas Esteves, gravou singles gospel no Rio de Janeiro e, atualmente, estuda no Canadá.



Fonte: O Liberal 

Texto: Enize Vidigal 

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